Quando o padre Ilídio solicitou a generosidade dos paroquianos para, de cima do púlpito, divulgarem a palavra do Senhor, estava longe de imaginar a dificuldade patenteada pelos crentes na leitura das Sagradas Escrituras. A leitura negligenciava a pontuação, eivada de pausas inadequadas e atropelos linguísticos e, salmos e epístolas, já por si de interpretação avessa, chegavam à plateia ininteligíveis ou, na pior das hipóteses, próximos da heresia. Até foi afirmado, por via de leitura pouco escorreita, que as mulheres deveriam ser omissas perante o próprio marido. Logo, algumas devotas mais atentas e esperançadas nesta nova interpretação, questionaram quais as circunstâncias e em que moldes poderiam ser omissas ao esposo. Insurgiram-se os maridos e ficou confundido o padre, que não se apercebeu da adulteração da frase. Porém tudo ficou esclarecido perante a rectificação atempada – não é omissas é submissas. “Mulheres, sede vós, submissas a vosso próprio marido”, assim é que é, Pedro, Cap3.:Vers.1. Desiludiram-se as mulheres, desassombraram-se os homens; preocupação redobrada… a do padre, está bem de ver.
Ora, não sofrendo os seus acólitos de problemas oftalmológicos ou neurológicos conhecidos, tal dislexia só poderia ter origem na ausência de hábitos de leitura.
Preocupado com o elevado nível de iliteracia verificado nas homilias domingueiras e temente das possibilidades agnósticas que tais interpretações poderiam originar, decidiu alertar os responsáveis da escola secundária cá da paróquia para esta situação. Pelo menos assegurar que as gerações futuras não desvirtuassem os dizeres bíblicos… pensava o padre enquanto aguardava pelo presidente do executivo.
Foi recebido com sorrisos cerimoniosos, mas que rapidamente se crisparam perante as preocupações confidenciadas pelo clérigo. O presidente explicou que, de acordo com as novas directrizes do ministério, a actual vertente pedagógica estava mais vocacionada para as áreas científicas do que para as culturais. Homem de vastos recursos, ainda sugeriu que, se fosse possível escrever os textos sagrados em código html, os futuros paroquianos estariam suficientemente aptos para os interpretar e transmitir correctamente; agora relativamente ao português, escrito e falado, nem com ajuda do divino Espírito Santo na sua bênção poliglota do Pentecostes. Que lhe perdoasse a franqueza.
O sacerdote saiu do gabinete inconformado e com a ligeira sensação de que tinha sido alvo de chacota, mas não desistiu. Renitente na sua saga pela defesa da integridade literária da Bíblia e identificado o cerne do problema urgia agora encontrar uma solução que motivasse hábitos de leitura nos seus fiéis.
Foi assim que, após congregar alguns colaboradores mais letrados, não fosse a emenda ser pior que o soneto, concebeu a excelente ideia de criar um jornal que abarcasse assuntos de interesse social e cultural relacionados com a paróquia - o Jornal Canas de Senhorim, de seu nome.
Deve-se ao padre Ilídio, ainda desconhecedor que o esperavam outros desígnios eclesiásticos bem mais importantes que a educação literária dos nossos conterrâneos, o legado do pasquim cá da terra que, na sua existência, já assegurou as pontes necessárias para alcançar as margens do conhecimento e ultrapassar o rio do analfabetismo.
Dêem graças à sua existência e contribuam para a sua perenidade. Enriqueçam o espírito e a arte oratória com a sua leitura, pois nunca se sabe quando serão chamados ao púlpito ler as Sagradas Escrituras.
Bons repenicos
Ora, não sofrendo os seus acólitos de problemas oftalmológicos ou neurológicos conhecidos, tal dislexia só poderia ter origem na ausência de hábitos de leitura.
Preocupado com o elevado nível de iliteracia verificado nas homilias domingueiras e temente das possibilidades agnósticas que tais interpretações poderiam originar, decidiu alertar os responsáveis da escola secundária cá da paróquia para esta situação. Pelo menos assegurar que as gerações futuras não desvirtuassem os dizeres bíblicos… pensava o padre enquanto aguardava pelo presidente do executivo.
Foi recebido com sorrisos cerimoniosos, mas que rapidamente se crisparam perante as preocupações confidenciadas pelo clérigo. O presidente explicou que, de acordo com as novas directrizes do ministério, a actual vertente pedagógica estava mais vocacionada para as áreas científicas do que para as culturais. Homem de vastos recursos, ainda sugeriu que, se fosse possível escrever os textos sagrados em código html, os futuros paroquianos estariam suficientemente aptos para os interpretar e transmitir correctamente; agora relativamente ao português, escrito e falado, nem com ajuda do divino Espírito Santo na sua bênção poliglota do Pentecostes. Que lhe perdoasse a franqueza.
O sacerdote saiu do gabinete inconformado e com a ligeira sensação de que tinha sido alvo de chacota, mas não desistiu. Renitente na sua saga pela defesa da integridade literária da Bíblia e identificado o cerne do problema urgia agora encontrar uma solução que motivasse hábitos de leitura nos seus fiéis.
Foi assim que, após congregar alguns colaboradores mais letrados, não fosse a emenda ser pior que o soneto, concebeu a excelente ideia de criar um jornal que abarcasse assuntos de interesse social e cultural relacionados com a paróquia - o Jornal Canas de Senhorim, de seu nome.
Deve-se ao padre Ilídio, ainda desconhecedor que o esperavam outros desígnios eclesiásticos bem mais importantes que a educação literária dos nossos conterrâneos, o legado do pasquim cá da terra que, na sua existência, já assegurou as pontes necessárias para alcançar as margens do conhecimento e ultrapassar o rio do analfabetismo.
Dêem graças à sua existência e contribuam para a sua perenidade. Enriqueçam o espírito e a arte oratória com a sua leitura, pois nunca se sabe quando serão chamados ao púlpito ler as Sagradas Escrituras.
Bons repenicos
6 comentários:
Talvez a Junta ou a CM municipal possam contribuir com alguma ajuda, nomeadamente através da publicitação das actividades culturais orçamentadas.
Arrisco-me a dizer que aqui como noutras situações só iremos dar valor, enquanto grupo, ao jornal quando ele acabar.
Cumprimentos
nem imaginas o gozo e satisfação que me dão (especialmente agora que já fazes tudo sozinha) ler directamente e em primeira mão a tua crónica aqui no berloque. agora só falta aprenderes html...:)
como sempre deliciosa a tua crónica... vamos enviá-la ao padre Ilídio? Acho que ele ia gostar, pois ainda me lembro do sentido de humor dele quando estava bem disposto... estou a brincar :)
É sempre agradável ler a sua crónica. Quanto ao jornal é como diz o sr Fulano Tal... deve ser acarinhado e apoiado. E não me venham cá com remoques políticos e editoriais.
Cumprimentos
Muito bom!...
:P
eu não acredito! já sabes fazer links aqui para o mulherio ... e eu a brincar a dizer que só te faltava aprender html... grandes avanços minha amiga... estou estupefacta
Achadiça, a menina anda desatenta. Já faço links há algum tempo sem a tua prestimosa ajuda. Vive e aprende ou não viverás muito tempo.
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