sexta-feira, abril 28, 2006

A sustentabilidade do Galinheiro

Fiquei muito satisfeita com as medidas anunciadas pelo galo Sócrates, nosso primeiro, em linhagem e sensibilidade.
Descontente com a insatisfação que gradava aqui na capoeira remeti uma missiva ao nosso primeiro onde lhe expunha os motivos da nossa preocupação, alertando-o para os perigos que daí podiam advir, nomeadamente a sustentabilidade do galinheiro nas actuais condições e o risco alimentar eminente.
Referi causas e efeitos. Das causas já aqui tenho dado conta amiúde. A falta de empenho dos machos tem afectado desastrosamente a qualidade das carnes, pois pitas, frangas e galinhas não andam devidamente amaciadas e o resultado salta à vista, que é como quem diz, ao dente. Safa-se a canja que requer galinha velha, e rija de carnes, mas à provecta idade uma boa parte de nós chega e chegará, pelo que não há motivo para não amaciar aquilo que por natureza se quer amaciado.
Também as posturas se têm ressentido, ameaçando desastrosamente toda a produção que os ovos subsidiam. Os analistas especializados já previram uma quebra no produto interno bruto de cerca de 5% na sequência do encerramento de confeitarias, pastelarias e outros estabelecimentos que comercializam a variada gama de produtos cuja confecção dependa de ovos, agravada com os implícitos despedimentos e o consequente aumento da taxa de desemprego. Uma leitura mais profunda até aponta para um cenário de depressão sócio-psicológica se atendermos aos casamentos e baptizados comprometidos pela falta da respectiva doçaria, isto para não referir natais, páscoas e outras festas tradicionais que não prescindem da gema e da clara, presenças indispensáveis neste género de eventos. Lili Caneças, galinha avisada, admitiu que o jet set sofreria um golpe terrível a confirmar-se a ausência de tão ilustres convidadas e afirmou:
- Se a tia clara e a tia gema num forem à fêsta isso será um escândalo nacional.
Já herman josé, apreciador indefectível de outra doçaria, declarou no seu habitual tom humorístico:
- Isso é coisa de galinhas. O que eu gosto mesmo é de dar milho aos pombos.
É claro que todos estes aspectos, já de si suficientemente preocupantes, podem ser agravados se considerarmos o estado psicológico das galinhas em geral e as possíveis implicações das poucas que conseguem alcançar o choco das gerações vindouras. O estado febril necessário ao período de incubação é perturbado pela ansiedade a que andaram sujeitas na época de acasalamento e os níveis de concentração e dedicação maternal são seriamente afectados. Também aqui as estatísticas apontam para um aumento drástico de germes mal desenvolvidos e os bem sucedidos carregam no seu adn o estigma do mau desempenho dos pais e do nervosismo das mães com a nefasta consequência que tal facto acarreta para a sobrevivência da espécie.
Foi com estas preocupações que eu confrontei o nosso primeiro, às quais ele deu a devida atenção, como podem verificar através do ofício que o seu gabinete gentilmente me enviou e que passo a transcrever:


De: Gabinete do Primeiro-Ministro

Lisboa, 27 de Abril de 2006

Assunto: Sustentabilidade do Galinheiro
Ref: V. Carta dirigida ao Primeiro-Ministro datada de 01/04/2006


Exma. Senhora
Achadiça

Encarrega-me Sua Excelência o Primeiro-Ministro de comunicar V. Exa. que o assunto exposto na carta em referência foi objecto de especial atenção, na medida em que as preocupações expostas foram devidamente consideradas e remetidas a Conselho de Ministros, para que delas fosse tomado conhecimento e encontrada solução.

Assim, cumpre-me informar, que Sua Excelência o Primeiro-Ministro, irá ainda hoje, em sede própria, anunciar as medidas entendidas como necessárias para a resolução do problema referido em epígrafe.

Atendendo ao elevado sentido de cidadania evidenciado por V. Exa., ao nos dar conhecimento do assunto, adiantam-se algumas das resoluções tomadas para o efeito:

1. Considerando a falta de empenho e colaboração revelados por parte de galos e frangos determina-se a rápida entrada em vigor da legislação que alarga o período de laboração para efeitos de reforma. Os visados serão obrigados, em data a anunciar, a desempenhar assiduamente as suas obrigações conjugais até aos 70 anos, se quiserem usufruir de reforma sossegada.

2. Verificada a baixa taxa de natalidade existente no galinheiro propõem-se a criação de incentivos que se traduzem na redução e variação dos impostos em função do número de pintainhos saídos da casca. Os casais com elevada taxa de sucesso no choco dos seus ovos, verão as suas contribuições reduzidas consideravelmente.

3. Considerando a falta de equidade na distribuição do milho e a consequente frustração traduzida nos sintomas psico-patológicos revelados pelas galinhas, determina-se a criação de um tecto alimentar que não permita que certas galinhas fiquem com o milho todo e outras com pouco ou quase nada.

Encarrega-me ainda Sua Excelência o Primeiro-Ministro de endereçar a V. Exa. os melhores cumprimentos e a total disponibilidade no esclarecimento de qualquer dúvida.



Atenciosamente e com elevada consideração


O Chefe de Gabinete


Luís Patrão


Como vêem trigo limpo farinha amparo. Com este primeiro vamos longe no galinheiro e com estas medidas se verá s’as reformas são merecidas...


Boas bicadas

quinta-feira, abril 27, 2006

quarta-feira, abril 26, 2006

Pedido público de desculpa


Meu querido cingab, galo de pescoço pelado (o P não é de pelado pois não?), tentei provocá-lo… é um facto. Perdoe-me a impertinência. Tentar ofendê-lo já é presunção sua pois como sabe esta galinha tem pautado as suas intervenções por elevados padrões éticos de conduta e no máximo respeito pelo decoro, pela moral e pelos costumes, valores traduzidos na consideração e deferência que sempre teve pelos comentadores que têm a gentileza de cacarejar nesta capoeira., mesmo que seja com cacarejos indecifráveis - ignorância minha, reconheço.
Também a minha amiga riça já foi obsequiada pelo sr. fulano tal com esses caracteres ( “:D” e “:P”). Telefonou-me noite dentro moída e já desgastada por vãs consultas enciclopédicas em busca de tão misteriosos hieróglifos e na esperança que eu lhe salvasse o gato da curiosidade. Dizia ela que o sr. fulano tal a remeteu para os sobrinhos, mas que estes tinham saído há pouco tempo da casca e como tal ainda não tinham bicos nem esclarecimento para debicarem nestas gamelas; que o google não se sentia com sorte e que a wikipédia era omissa. Acometida de alguma solidariedade, pois também eu já tinha sentido na pele esta ignorância por estes termos em galinhês (aquando do avatar, como deve estar lembrado), recorri ao galo meu marido, o juvenal, para me elucidar, mesmo correndo o risco de ser depenada, pois como sabe, ele engalinha com estas coisas dos berloques e com estas reivindicações licenciosas. Ora o maroto, que tinha vindo da petisquice já com um grãozito na asa, expôs-me ao ridículo afirmando que aquele “P” só poderia ser uma daquelas hipóteses que V. Exa. tão mal digeriu. Eu, na minha ingenuidade ainda lhe agradeci com um obrigada meu querido e vai daí esparramei a minha insensatez naquele infeliz cacarejo. Coisa de galos, caro cingab, coisa de galos e de galinhas mal informadas.
Acuda-me então nesta desinformação e de uma vez por todas elucide-me sobre esta simbologia moderna, não vá eu insistir nos impropérios.
Bem sei que as desculpas não se pedem, evitam-se, todavia aqui fica registado publicamente o meu pedido de desculpas pelas insinuações com que se sentiu injustamente afrontado.

Boas bicadas (sem perder a compostura)

segunda-feira, abril 24, 2006

Doidas não. Atormentadas.

Doidas não. Atormentadas. De tal forma que começámos a questionar se esta corporose que nos sobressalta não poderá ser algum efeito não documentado da tão falada gripe das aves. Que não, pois este estado de corpo já se manifestava antes da ocorrência do primeiro caso detectado e que os vírus, sejam eles quais forem, não destrinçam géneros, caso contrário, então também já tinha afectado os machos. Ora, a avaliar pelos sintomas, neste particular, pela ausência deles, nada indica que os galos andem arregalados de apetite, muito pelo contrário, bicam uns com os outros noite dentro, tarde fora, fim de semana sim, fim de semana sim, num egoísmo confrangedor, e quando chega a hora da verdade lá vêem as lamentações habituais: ele é o orçamento atribuído ao galinheiro, ele é a rádio que já cantou pra nós e que agora canta pra outros e ningém sabe onde pára o dinheiro, e quem diz a rádio diz o grupo de teatro e o canto e encanto que agora também encantam outros, ele é o líder que anda amanhado com a perua, ele é o pavão que não esgravatou a assinatura onde devia, ele é os semáforos, as rotundas, as passadeiras, os passeios, os de berma e os outros a Lisboa, o Elefante Branco, o cereja que ninguém sabe quem é, o padre Ilídio que bem podia ser o cereja, o cereja que deixou de o ser, o artista, as listas, a junta e os juntistas, o movimento e os movimentistas, o lamentável concubinato destes – os jumentistas, os traidores, os neo-traidores, os separatistas, os radicais, uma tal de iluminária, os jantares de leitão, uns que vão outros que não, ele é a linha editorial do jornal, a Ana que até é boa pessoa mas só deixa bicar como e quem ela quer, o comandante que não devia ter telemóvel atribuído… “Parou. Parou que o nosso comandante não é para aqui chamado”, interrompeu abruptamente a minha amiga L., a que tem um fraco por bombeiros e uma paixão platónica pelo comandante, desde que ele, num delírio de adolescência lhe chamuscou o coração com um soneto da Florbela, aquele das Árvores! Corações, almas que choram,/ Almas iguais à minha, almas que imploram/Em vão remédio para tanta mágoa!/ Árvores! Não choreis! Olhai e vede:/ Também ando a gritar, morta de sede,/ Pedindo a Deus a minha gota de água!. Adiante, já estou a ser inconfidente…pois à minha amiga L. não agradou tal alusão ao comandante e vai daí tratou de desmontar imediatamente estas hipotéticas congeminações e mudar de assunto.
- Minhas amigas essas preocupações que eles alegam são meros pretextos para fugir com o rabo à seringa, que é como quem diz, neste caso, fugir com a seringa ao rabo. Só vejo duas soluções para o nosso caso. Greve. Boicote absoluto, na cama e na mesa…
- Isso não é boa ideia. Vamos tornar o pouco em nada para obtermos algum? Isso parece-me inspirado na estratégia do movimento e vê lá no desconcerto que deu…um desconcelho, foi o que foi – afirmou a galinha M. que há bem pouco tempo perdeu umas quantas penas na encarniçada resistência à venda de uns quantos bidões de ração, que embora imprópria para consumo, era uma arma considerável para fazer valer as nossas razões, tivéssemos nós o conhecimento e a tecnologia para a aproveitar. Desde então M. sentia-se no direito de opinar sobre todas as questões e era convidada frequentemente a expor a cremalheira perante as câmaras, com honras de notícia de telejornal, prova viva e irrefutável dos malefícios da controversa ração - para além disso o meu J. gosta de fazer aquilo em cima da mesa da sala e até já houve uma vez que o carteiro.…
- Ó M. poupa-nos, quando digo boicote na mesa estou a referir-me a comidinha, chop-chop, deixamos de fazer o almocinho, o jantarinho e vamos ver se eles não piam mais grosso…não estou a falar desses malabarismos a que tu te prestas com o teu J., com o carteiro e com tudo o que mexe lá na rua.
- Mas…
- Nem mas nem meio mas. Quem não trabuca não manduca. Achadiça, como é?
- Não laboram com destreza não comem na cama e na mesa.


Vamos lá laborar que as galinhas estão-se a passar
Boas bicadas

sexta-feira, abril 21, 2006

Onde param as galinhas


Ai queridas, estou toda depenada do toutiço das bicadas do meu Almerindo que não anda nada satisfeito comigo. Em primeiro lugar, por eu andar aqui a dar bicadas em jeito de reivindicação, pois que isto de política é coisa de galos, no que deve ter alguma razão, pois, se formos pelos nickenames, isto é mesmo coisa de machos (salvo a querida dona da prima , por quem eu não poria as mãos no fogo, pois pode ser, ainda assim, um galo a querer dar ao disfarce), e que o conteúdo das reclamações da Achadiça davam muito mau aspecto sobre a virilidade ateniense dos nossos galos que também pretendem instituir na História um novo conceito de Pólis.
É claro que me irritou o paternalismo intelectual dele ao pretender que vozes do mulherio não deviam ir além da capoeira, quanto mais destes mistérios internéticos que, passe a inocente pretensão, podem sempre tornar-se maiores do que aquilo que se espera e ainda mais do que o que se adivinha. Isto para não falar nas impensáveis aplicações pirata que material com o quilate das crónicas da Riça possa vir a ter. Há enormes confusões históricas que começaram por menos. Depois, irritou-me a minha ignorância cibernética e a concomitante comiseração dele por me meter nestas andanças, que segundo ele são blogues e termos em virtuês, provocando- me uma vontade imensa de romper a rede da capoeira e dar uma escapadela como ele se permite dar.
Fiz, por assim dizer, um movimento de emancipação interior que se traduziu catastroficamente na segunda razão pela qual o meu Almerindo ficou tão danado comigo e me pôs a poupa neste estado. Irritada com a mania que os galos têm de que cantam sempre melhor do que as galinhas e ainda mais com a ideia de que as galinhas são sua propriedade, não só material como intelectual, decidi trajar as penas e fazer uma incursão nocturna pelas tascas da terra. Queria ver o que faziam os galos quando se escapam das respectivas galinhas e se põem a cantar uns com os outros. Se me queria emancipar também podia sair sem o meu galo, direito que ele, como muitos que eu cá sei, julga ser exclusivo dos galos.
Primeiro fui ao Quebracristas. Era sobretudo franganada nova. Frangotes de andar atrevido a transbordar de hormonas desajeitadas e alguns galos capões de olhar comprometido muito abismados por me verem ali, á solta, de penas penteadas e bico pintado de vermelho. Alguns ainda olhavam à volta como quem se pergunta “onde andará o Almerindo?”. Por lá beberiquei uns coquetéis modernaços com essências importadas dos grandes aviários, mas o barulho estrangeiro da música dos frangos fez-me sentir deslocada e pus-me a andar para o gamelão do Ilídio a ver se lavava a goela com ração de Penalva e outras comedorias.
Ali, o ambiente discreto de café nas traseiras do centro, fazia afluir aqueles que gostam de dar nas vistas de forma mais madura. Intelectuais, pelo menos um que cofiava a barbela em ar de quem pensa no próximo artigo do jornal; líderes políticos e outros comprometidos que falam em ar de conspiração, assim como nós quando cacarejamos umas com as outras sobre a displicência dos nossos galos; filhos de ilustres que vêm apenas mostrar-se; outros que só lá estão porque sempre lá foram e ainda por cima podem ver o futebol a um palmo do bico. E eu, a ser cumprimentada por todo aquele cortejo-de-asas à laia de quem cumprimenta a esposa do Galo tal...
Gostei da ração de Penalva e mandei repetir, o que transformou o manejar cerimonioso dos presentes em olhares de soslaio e sorrisinhos cúmplices de pensamento comum: se fosse a minha galinha, punha-lhe ordem naquelas penas. Tive a sorte de não encontrar lá o Almerindo que, como se sabe, passa todas as noites à solta, mas além disso, e da ração que já começava a pôr-me a crista num vermelho embaraçoso, não encontrei a resposta que procurava que era saber por que carga de água gostam tanto certos galos desta capoeira de sair à noite e deixar as galinhas em casa. Sim, meninas, não foi só raiva e rebeldia que me levou ao devaneio. Movia-me uma inquietação intelectual e, sobretudo política, aliás, a verdadeira razão pela qual me pus a navegar nestes blogues que já de si não inspiram nenhuma confiança ao meu Almerindo.
Como quem persegue grãos de milho, dirigi-me para terrenos mais afastados e fui acabar noutro quintal, no poleiro do Galo do Laço, onde há sempre festa da rija. Aí franganotes já conhecidos e muito bebidos esganiçavam-se no palco num frenesim de barulho ao vivo e a sensação que se tem é de que está tudo bêbado. Entrei e alguns conhecidos olharam para mim como quem procura o habitual Almerindo a emborcar copos. O facto de estar sozinha não pareceu incomodar ninguém, antes pelo contrário. O galo patrão desfez-se em delicadezas de ração e outras melodias. Gostei, e quando voltei à capoeira já o dia tinha rompido e já o Almerindo cantara a aurora no pior dos seus garganteios - então já não lhe chega cacarejar, agora já pula fora da capoeira? Se queres abrir a asas, abre-as agora e cacareja lá.- e foi assim que fiquei com o toutiço neste estado.
Mas fizemos as pazes, e eu até gostei. Tem razão a amiga da Achadiça: mulher que não reclama, padece na cama. Isto é, gostei pelo menos da primeira parte, pois o meu Almerindo quando está zangado gosta de afirmar-se pela displicência. Primeiro faz questão de se mostrar muito farto, só para desmentir as bicadas que andou a dar. Depois, para deixar bem claro que o poder é do galo, quando chega à última bicada, come todo o milho que resta e eu fico com o bico vazio no último grão. Penso que é só para me irritar, pois uma capoeira política e culturalmente empreendedora, como a nossa, não pode esquecer o mandamento fundamental de não fazermos ao outro o que não queremos que nos façam a nós e, muito menos, chocar galos que desprezam o orgasmo das galinhas.
Mas deixemo-nos de milho. Essa é uma questão cuja pertinência política fica para outra altura. A preocupação, também política, que me move nesta bicada é a de compreender as razões pelas quais a noite faz desaparecer as galinhas deixando os lugares de convívio nocturno ao domínio completo dos galos. Uma galinha perdida numa tasca é logo fixada pelos radares vindos de todo o tipo de galos à solta, uns janotamente ajeitando as asas, outros de crista descaída a emborcar copos, outros, descaídos de outras coisas, a tentar disfarçar, e outros que até dá pra ver. E as galinhas? Que lhes fazem quando não é Carnaval? E se esta não é uma questão pertinente, então, porque andam eles aparentemente tão solitários tanto nas tascas como na net? Estes solitários galos não têm mulheres a cacarejar como eu? Ou, tal como o meu Almerindo, assumem, ainda, que assuntos de mulherio não são assuntos realmente sérios, esquecendo que grandes problemas políticos foram chocados na capoeira.
Pois, minhas amigas, se eles não arrebitam daquelas cristas, anuncia-se uma verdadeira revolta das galinhas e a consequente alteração das regras do jogo, segundo princípios mais equitativos na distribuição do milho. Prometo-vos mais congeminações, assim me assista a razão e não me falte a ração.

Boas minhocas

terça-feira, abril 18, 2006

Crónicas da Galinha Riça - O Quintal

Na minha crónica anterior intitulada O Galinheiro contei-vos as aspirações dos meus companheiros e companheiras: Ambicionamos retomar a posse do Quintal e decidir o nosso próprio destino. Pesem embora as minhas reservas, foi constituído para esse efeito o MRQ (Movimento de Restauração do Quintal), liderado pelo galante Luísio.
O Quintal estende-se para lá do horizonte que a nossa aguçada visão alcança. Talvez pelo efeito de profundidade que a rede do galinheiro induz ou pela aspiração que a ele temos, imaginamo-lo franco e vasto, opinião que não é partilhada pela maioria dos locatários, que o consideram sua pertença e que o querem uno e indivisível, para dele tirarem proveito próprio. “Openspace”, como lhe chama o frango A., muito dado a anglicanismos, mesmo que incompreendido por alguns que preferem galicismos, não estivessem estes mais próximos da nossa condição de galináceos, simbolicamente associados a nobre e célebre galo, personagem emblemático desse fantástico país que popularizou o conceito de faca na goela, até então reservado à nossa espécie, e num gesto impar de sórdida solidariedade, inventou a guilhotina e democratizou o método.
O romântico desejo de tomar posse do Quintal honrava vontades ancestrais. Por capricho gastronómico, um tal de D. Sancho, senhor do território, em breve passagem por este capoeiro no ano de 1196, ousou provar umas tenras frangas nossas antepassadas, e como prova de satisfação e agrado por tais serviços, determinou “erguer marcos para sinal de coito” (assim consta da carta de coito que ratifica a criação das terras de Senhorym). Desde então, os nossos antepassados assumiram-se como legítimos senhores do Quintal e do coito.
Porém, com o advento da burguesia, requintaram-se os gostos e não houve peito ou coxas de galinha que evitassem a perda das regalias que o coito proporcionava. Destituído de coito e dos privilégios inerentes, este galinheiro nunca mais foi o mesmo e os seus habitantes, em angústia permanente, ganharam o epíteto de “coitados”. Há quem diga que essa perda teve repercussões na linhagem dos nossos avós e que a crise que a achadiça para aí apregoa é de origem genética: Afecta a prestação dos machos e desespera a receptividade das fêmeas. Embora esta teoria tenha alguma fundamentação empírica, não radica em qualquer estudo científico, pelo que não é reconhecido aos machos qualquer pretexto, desculpa ou justificação que aponte neste sentido.
Assim, por volta de 1866, uma nova ordem foi imposta e quem logrou com o facto foi um galinheiro aqui vizinho, que se apossou do Quintal, desenvolveu e modernizou a sua capoeira e submeteu a nossa população a uma escravidão doméstica, confinada, entre redes e taipais, ao vil desígnio da inveja e da cobiça.
Contudo, após 1974, imbuídos do espírito revolucionário que depôs o Galo Marcelo, e inspirados por desejos incontidos e comportamentos quixotescos, galos e galinhas, frangos e frangas, pitos e pitas, num assomo de amotinação, exigimos o coito de volta, fosse de que maneira fosse. O galo Minhosio, na altura ainda franganote, mas já esclarecido nestes levantamentos subversivos ditou a palavra de ordem - O coito unido jamais será interrompido - Atirámo-nos de bico afiado às redes que nos agrilhoavam, erguemos cristas e bandeiras, movemos moinhos, esgravatámos, esfuracámos, esvoaçámos, defecámos, mas não conseguimos alcançar o coito que tanto ansiávamos. Ansiávamos e ansiamos, porque a esperança aqui da galinhagem é renovada em cada canja onde não marcamos presença e nada nos demove deste merecido propósito.
Outras lutas de galos se projectam no longínquo horizonte do Quintal e que os losangos da rede da capoeira deixam entrever... Dessas contendas falarei noutra crónica.

Bons repenicos

segunda-feira, abril 17, 2006

Bicadas da Achadiça (recuperadas por Galinha Riça)


(Para o blog Canas&Senhorins)

REIVINDICAÇÃO

Olá a todos e a todas(?)
Tive necessidade de ler uma quantidade de posts anteriores para perceber o que se passava neste galinheiro. Confesso que não fiquei nada esclarecida quanto à qualidade do farelo nem da eficácia da franganada. Perdi-me entre fulanos, biotecs, bancadas, mineiros...só para falar dos mais recentes. Ouvi falar num tal de cereja mas desse nem rasto. Eu que pensava que neste universo de blogs (gosto desta palavra - blog - enche-me a boca, perdão, o bico) galos e galinhas, pitos e pitas soltavam a franga na boa tradição portuguesa ou brasileira ou o que for..., vejo-me confrontada com conversas sérias, dignas de alguma comiseração, convenhamos, mas sééérias! Nem uma pontinha de sexo, sim... do explícito, não por mim que a esse já não ambiciono, mas pelo resto da galinhagem que me confidencia que desde a generalização destas novas tecnologias, as posturas nunca mais foram as mesmas. Teclam, teclam, gastam o bico e quem se lixa é cá o mulherio. Vamos lá ver se isto melhora porque senão qualquer dia a luta será outra e então é que vão ver o desatino das galinhas. Que se lixe o concelho, que se lixe Nelas, nós queremos é umas boas galadelas. À noite logo se vê. Juizinho.
Boas bicadas
6/4/2006

APRESENTAÇÃO

Sou galinha entradota e do campo. O acesso a estas tecnologias e terminologias modernas só agora me foram autorizadas pelo galo meu marido, que me proibiu logo de consultar galinheiros suspeitos... até arranjou uma rede especial para eu não aceder aos ditos. De pouco lhe valeu, a ele e a muitos outros que vivem felizes na ignorância do seu cantar. Cá me safei, até já tenho um galo americano que me tecla a canção do bandido em inglês...psico chicken ou coisa assim...não aprendi inglês mas soa-me muito bem aquele cantar de galo. Bem, mas isto tudo para dizer que não percebo essa coisa do avatar. Se calhar está a tratar-me bem e eu não entendo. Se fosse aviar ou atracar ainda me eriçavam algumas penas, agora avatar...ainda tenho esperança que se tenha enganado, do género, onde digo digo não digo digo, digo diogo. Prontos, disponha que o galo meu marido anda cego com esta coisa do benfica andar numa taça qualquer que agora não me lembra o nome.
Boas bicadas
6/4/2006

RECLAMAÇÃO

Boa tarde a todos e a todas
Então franganada! Não me deram ouvidos. Fui ao mercado logo pela manhã e o rol de queixas mantém-se. O mulherio exige mais empenho na prestação dos serviços de alcova, essa é que é essa. E não venham cá com desculpas de que é o trabalho, a pressão do contrato a termo que finda este mês, o sporting que ganhou e por isso foram para a farra e agora estão cansados, o benfica que perdeu... nem a dor de cabeça costumeira. As meninas da farmácia já estão instruídas para distribuir gratuitamente aspirinas e afins aos incumpridores. Já lhes foi facultada a lista dos recorrentes em dores de cabeça, por isso, se ao entrarem na farmácia, a das meninas, (estivesse lá o Brandão e outro galo cantaria...), perdoem-me o aparte, mas dizia eu que se entrarem na farmácia e detectarem um sorriso maroto no rosto das meninas já sabem - constam da lista! Aceitem as aspirinas, corram para casa, descomponham a desconsolada pelo desaforo, mas cumpram. O galo meu marido, o Juvenal, também andou aí com umas enxaquecas, mas logo lhe passaram quando o ameacei que ia parar à lista. È que as listas é que estão a dar para desentorpecer as penas. È algazarra pela certa. Deixem-se de conversas sérias e tratem bem aqui as galdérias.
Boas bicadas
7/4/2006

O AVATAR

Frango cingab
(Se já canta de galo perdoe-me o tratamento por frango), como não me explicou essa coisa do avatar fui consultar o dicionário e não é que fiquei na mesma - "transformação, metamorfose" foi o que lá encontrei, mas aproveito a deixa para dizer que é isso mesmo que o mulherio (também há quem lhe chame conário, mas acho esta expressão pouco elegante e fui logo repreendida pela minha amiga Riça que cacarejou de imediato que não se aplicava a ela - quando muito cloacário, argumentou ela...bem perdemo-nos aqui em considerações genitais a propósito da melhor forma de referir aqui as vossas/nossas amigas e decidimo-nos por mulherio), dizia eu que o mulherio bem precisado anda de transformações e metamorfoses. Algumas de nós já recorreram ao padre Nuno para que abdicasse da sua jovem beatitude e acudisse aqui a este desassossego… e que não, que não podia ser, quando muito uma novena, que rezássemos pois transformações já o senhor tinha feito, a do pão e dos peixes, e que o milagre se podia repetir e blá blá e as minhas amigas insistiam que a vocação do senhor eram as almas e que o problema delas não era do espírito mas do corpo e que nessa matéria só o padre poderia intervir e ele que não, que não corria o risco de atirar as beatas para o chão, pois podia atear o fogo à igreja…gracejava assim o padre Nuno, rapaz sensato e apaziguador. Logo a minha amiga M., desmiolada por natureza, abriu um sorriso amplo e partiu em sonhos para o fogo da paixão imaginando-se amada no sacrilégio do acto, com padre, bombeiros, santos e anjos…tudo à mistura, numa fogueira desenfreado de paixão. Desatou em convulsões e suores abundantes, de tal forma, que as outras mulheres, à falta de melhor, a carregaram para a pia baptismal e a aspergiram com água benta que o padre Nuno providenciou. Assim anda o estado do corpo de algumas de nós meus amigos. Por isso em verdade vos digo: Deixem-se de conversas e cumpram pela frente e às avessas. E já agora frango (ou será galo) cingab, ou outro qualquer, apazigúe-me aqui a curiosidade e diga-me lá o que é o avatar.
Boas bicadas
7/4/2006

DESENCONTROS

Ando perdida de todo, é o que dá a falta de milho. O meu Juvenal ainda outro dia me disse que a comer desta maneira mais dia menos dia o milho acabava. Fiquei intrigada com aquela conversa do milho acabar, mas pelo sim pelo não dei-lhe algum descanso. Hoje, por exemplo, não cumpriu de manhã. Folgou em saber, o que me desagradou um pouco mas já lhe mandei uma msg a dizer que finos no Ilídio nem pensar. Não cumpres de manhã cumpres à tarde e sem cheirar a cerveja, que me tira a libido. Mas estava a dizer que ando perdida pois bico um comentário aqui e a franganada está a bicar em outro lado. Vou bicar a outro lado e a franganada bica aqui. Vamos lá ver se começamos a bicar no mesmo sítio porque estes desencontros deixam-me ofegante, começam-me a subir os calores e depois o Juvenal, o galo meu marido, fica sem milho e quem se lixa é aqui a achadiça...olha vem aí, o Juvenal
Boas bicadas
7/4/2006

DOIDAS ANDAM AS GALINHAS

Calminha. Muita calminha. Então agora andam todos doidos. Querem-nos tirar a génese da nossa reivindicação. Doidas andamos nós ponto final, eu e algumas das minhas amigas, isto porque há outras que parece que não. Enchem o papo n’O Século, de galões ou de galão em galão, não sei bem a técnica… – mas isso é outra história. Doidas andamos nós e por motivos que vos imputamos directamente por incumprimento das vossas obrigações. Isso é alguma tentativa de escamotear a vossa responsabilidade, de arranjar mais uma desculpa para o mau desempenho que me é confidenciado consecutivamente pela galinhagem e franganada em geral. Mau, mau. Ganhem juízo na mioloira e apetite na capoeira. Boas bicadas Mau, mau. Doidas andamos nós e com razão. Façam o favor de atinar da caixa dos pirolitos e tratar bem aqui dos pitos.
10/4/2006

INICIAÇÃO POLÍTICA

Estou a pensar seriamente em propor para agendamento e discussão pública, na próxima reunião da Assembleia de Freguesia, dia 21, a confirmar, este problema que assola e desconsola o mulherio de Canas, perdão, algum mulherio de Canas. Ou acham que este é um problema de somenos comparado com as elevadas preocupações com que vossas excelências esgotam a apetência que vos é requerida em matéria de facto…conjugal convenhamos. Já estou a treinar o cacarejo para estas andanças da política, pois parece que a pullus vox populis (isto é só uma provocação à cereja) não vos chega aos ouvidos. Vamos lá a cumprir com genica que a vida não é só política.
11/4/2006

(no blog Mulherio de Canas)

AGRADECIMENTOS I

portuga suave
Obrigada pela visita cá ao capoeiro. Também já fui ao seu. Se eu soubesse tinha mandado umas tantas franganitas recebê-lo condignamente...não sei se me faço entender. Olhe que elas até agradeciam... com a falta de milho que para aqui vai não olham a meios nem a cristas. Adiante. Para a próxima providenciarei uma boa cabidela. Volte sempre e traga a sua, como hei-de dizer...franga.
Boas bicadas
10/4/2006

AGRADECIMENTOS II

Querida dona prima
Seja bem vinda e desculpe a desarrumação aqui do galinheiro, mas, como sabe, nestes tempos que correm as tarefas domésticas andam preteridas a favor de outras demandas mais urgentes. Nem imagina como gostaria de a receber com a dignidade que a prima merece. Ainda no outro dia fui visitada por um tal de portuga que vinha ao cheiro de uma cabidela prometida. Como boa anfitriã, e tenho que admitir, depois de grande escaramuça aqui no capoeiro, sorteámos a quem caberiam as honras da recepção desse tal de portuga. Ditou a sorte que fossem duas franganitas, bem jeitosas por sinal. Olhe, prima, nunca mais os vimos, nem a esse galo ingrato, nem às franganitas. Com a prima o caso é mais complicado e a minha esperança é que aprecie galões, daqueles do Fojo, pois por aqui só nos restam galarós. Nem por nomeação directa eles assumem o ofício e quando assumem depressa se afadigam. Cantam, cantam, mas quando chega a hora de cantar de galo engasgam-se, regurgitam precocemente e, claro, ficamos que nem doidas, negras de insatisfação. Depois dizem que doidas doidas andam as galinhas… pudera, com prestações destas a quem é que não salta a crista. Enfim, uma ralação é a que para aqui temos e sem solução à vista. Uma desgraça é o que é. Espero que a prima não tenha destes problemas no seu capoeiro e que traga a este alguma sensatez nos seus conselhos, pois eu já não sei o que dizer nem fazer aqui às minhas amigas de infortúnio. Seja então bem vinda. Com o seu contributo pode ser que acabe o luto.
Boas bicadas
10/4/2006

(para o blog O Mosca)

CONVITE

(Para O Mosca)
Vim aqui a esta galinheiro ver se encontrava galo de crista rija que afagasse as moelas à galinhagem lá da minha capoeira. Mesmo que seja frango, logo que atrevidote e cumpridor..., disseram-me as mandatárias. Bem, cá estou. Admito que moscas é coisa que abunda lá no tabique. A franganada não esgadanha como deve ser, o desperdício amontoa-se e depois vem logo a moscagem, em loopings oportunistas, banquetear-se com o ripanço que pr'ali vai. Pois é, por lá só as moscas é que mudam. O tédio é o mesmo. Mas não se intimide, faça-nos uma visita e leve um amigo…capaz. Capado é que não que já lá temos de sobra.
Boas ferroadelas
12/4/2006

quarta-feira, abril 12, 2006

Crónicas da Galinha Riça - A história do nosso Sargento-Ajudante

Eu já sabia desta história. Uma vez que o assunto é público já a posso contar.
Partiu cedo de Canas, este frango, em busca de outros voos bélicos. Em franganote, estava incumbido de tocar o sino a rebate de cada vez que a populaça, transida pela emoção de batalhas concelhias, sabotava linhas de comboio, estradas e pontes. Ficava em tal estado de excitação que corria velozmente desde a igreja até às quatro-esquinas, atalhando pela quelha da Igreja, em menos de 30 segundos. Chegado lá gritava ofegante - Eles vêm aí! Eles vêm aí!. Depois arrancava outra correria até ao cruzamento para Vale de Madeiros e por lá ficava, numa ânsia expectante, só comparada à da galinha L. quando aguarda a fanfarra dos bombeiros integrada na procissão de Nossa Senhora das Dores. Mas quem? Questionava-se a tradicional plateia, que entre finos e boatos, cuscava numa das esquinas, junto ao café. Vêm aí os de Nelas? Não. Deve ser o corpo de intervenção, diziam os mais bem informados. Assim era. O aprendiz de sargento, desvairava com aqueles homenzarrões munidos, no rigor da farda, por escudos, viseiras, cinturões, armas e outros apetrechos belicosos, que na sua desarranjada sexualidade de adolescente, despertavam nele tumefacções volumosas que aliviava em supremo êxtase, mata adentro, descascando a banana ao ritmo do tropel militar e camuflado pelas densas mimosas que ornamentavam a estrada. Assim foi determinada a virilidade deste franganote.
Mas, com o decorrer do tempo, a luta de Canas caiu em letargia e o corpo de intervenção não aparecia com a regularidade que ele desejava. Carecendo o rapaz das suas fantasias, valeu-lhe ser chamado a cumprir serviço militar lá para os lados de Santarém, se não estou em erro. Com tanta devoção por fardas e armas conseguiu ludibriar os testes psicotécnicos, que não detectaram qualquer incompatibilidade para o exercício de técnico de armamento. Fez a recruta e foi destacado para o Regimento de Infantaria 14 em Viseu ficando responsável pela secção de armamento. Nunca as armas, naquele regimento andaram tão lustrosas e oleadas como naquele tempo - untadas a preceito pelo “Canas” – rejubilava o Comandante, que nutria põe ele elevada estima. Chegou rapidamente a sargento-ajudante, promovido por mérito da sua dedicação à limpeza das armas.
Creio que foi por essa altura que decidiu casar. A vida corria bem, o ordenado era satisfatório e agora, que tinha os seus amores devidamente aprumados e disponíveis lá na secção, não via nenhum inconveniente em arranjar mulher. Mas, aquilo de casar veio a revelar-se um problema que ele não equacionou. A mulher ornamentava-se, insinuava-se, dispunha-se mas a pistola nada. Nem um disparo, para desconsolo da infeliz. Não pode ser – pensou ele – vou trazer uma das minhas amigas lá da secção e vamos a ver se o gatilho funciona ou não funciona! Se o pensou melhor o fez. Primeiro uma mauser, depois uma G3, depois umas munições, que só de vê-las lhe arregaçava o pirolito, e por aí fora. A mulher reclamava que se sentia ameaçada por tanta arma à volta dela mas como o desempenho se mantinha aceitável optou por calar aquela anormalidade e assim foram vivendo sem sobressaltos.
Todos sabemos que a felicidade não dura sempre, e a do sargento-ajudante finou-se-lhe numa segunda-feira de manhã. O comandante chamou-o ao gabinete e perguntou-lhe desconfiado:
- Ò Canas como é que tu trazes as armas tão bem oleadas se o óleo encomendado para o efeito está todo no armazém?
Embatocou o sargento. Ainda alegou que o fazia com parcimónia, que não era preciso tanto óleo, mas o comandante, incrédulo não foi em parcimónias. Mandou instaurar um processo de averiguações para que se apurasse a verdade dos factos - ora se as armas estavam tão bem conservadas e não tinha sido com o óleo apropriado, mandem analisar que produto é que traz as armas tão bem lubrificadas.
Foram retiradas às armas amostras aleatórias do produto e enviadas para laboratório. O resultado chegou dois dias depois.
- Então o que temos aí? – perguntou o comandante.
- Esperma!
- Esperma! - vociferou o comandante – esperma!
- Sim meu comandante. Esperma – respondeu o instrutor do processo.
Podia ter sido pior. O comandante atendendo ao ridículo da situação e à quebra disciplinar que daí podia advir, já tinha visto levantamentos de rancho por muito menos, abafou o caso e obrigou o sargento-ajudante a meter uma licença sem vencimento de longa duração.
O nosso rapaz, embaraçado com toda esta situação, decidiu emigrar para os EUA, deixando contudo os despojos da sua sexualidade em casa da sogra, de onde foram hoje retirados pela sempre atenta brigada anti-sexo. Mas isto já vocês sabem.

Bons repenicos

Conselhos com "s"

Galos, frangos e pitos

Quando os olhos cansam, as pernas dançam, as peles crescem, as penas caem, os tomates descem e o bico humedece… deixem-se de bazófias que a missão falece. Por isso sigam estes conselhos: Aos 20 anos, casado, não te falte energia, podes dar entusiasmado duas bicadas por dia; Aos 25, com gana e robustez natural, dando sete por semana não te deve fazer mal, mas aos 30 tem cuidado e vai poupando o ferrão, bica na cama, deitado, só dia sim dia não; Aos 35, pensa, que deves ser mais prudente, passa a bicar por avença, bica semanalmente; Aos 40, já não deves meter-te em folias, para não gastares o bico, bica de dez em dez dias; Aos 50 marca passo…embora te cause pena, bica mais a compasso, só uma vez por quinzena; Aos 60, é rara vez em que se apruma o estilete, dá uma bicadinha por mês, alternada com minete. E aos 70, aceita o facto, não penses mais em mulheres, corta o bico dá ao gato, leva no cú se quiseres. Aceitem os conselhos da achadiça, vá de cumprir a preceito, antes de chegar a velhice biquem a torto e a direito.

Boas bicadas

estas bicadas que vos deixo são adaptadas de um apócrifo do Aleixo(?)

segunda-feira, abril 10, 2006

Galões!!!!!

Recebi algumas reclamações de umas tantas pitas, alegando que não se reviam no vazio copulativo (assim mesmo, por estas palavras), que aqui a vossa amiga achadiça tanto apregoa. Dizem elas que andam muito bem servidas, que milho não lhes tem faltado, como se pode comprovar pelo lustre que aparentam nas suas penas, e que o nosso problema era de esquizofrenia ninfomaníaca, maleita devidamente identificada nos compêndios de medicina veterinária. Que tomássemos o caminho da Felgueira, a corta-mato, pelo caminho velho, e nos entregássemos sabe-se lá a quem e se mesmo assim não lográssemos alcançar alguma serenidade mergulhássemos no rio que nos arrefeceria as penas e os palpitares. Que voltássemos, em passo acelerado, encosta acima, para ver se não nos passava logo o frenesim. Entreolhámo-nos estarrecidas. Ai o carago… resmungou a pita P., queres ver que estas filhas de uma pedrês, galinhas de aviário mal chocadas, querem faca na goela! Logo um burburinho de cacarejos se fez sentir no seio das visadas. Alvoroço iminente, ameaça de contenda, desfile de injúrias, só contidas pela intervenção da galinha L., não a desmiolada - esta outra é galinha proeminente e respeitada na sua condição vetusta.
- Meninas! Meninas! Vamos lá acalmar os ânimos e baixar as asas. No meu tempo o mulherio comia e calava, e o que não comia calava também. Portanto tento no bico.
Foi com estas palavras, perdão, pios sábios que L. aplacou a exaltação fratricida que se adivinhava.
-Não senhora - Insistiu a pita P. - Mulher que não reclama padece na cama. Se andam bem nutridas que se calem, até aí tudo bem, agora a mim ninguém me fecha o bico nem a vontade. Solidariedade é o que estas galinhas de meia gamela deviam ter para connosco, pois se agora estão de papo cheio amanhã podem padecer de prego no cú* pois sabe-se lá que milho é que andam a comer… e então aí é que vão ver a fartura quando os ovos vos saírem pelo bico.
Mas esta tirada já não a ouviram as reclamantes, que pelo sim pelo não, acataram a velha máxima aludida pela galinha L. de ”Comer e calar” e, pavoneando-se ostensivamente, arremeteram estrada acima direitas ao Século onde desfrutaram ávida e abundantemente de corn-flakes e galões…
Olha que esta pitança é preciso ter descaramento! Galões? Corn-flakes? Então é deste milho que elas andam fartas? Galões!!!!!
Pois é galinhagem, com galões destes não há festa nem foguetes.
Mulherio de Canas uni-vos… na boa tradição marxista, pois nestas coisas de sexo nunca se é suficientemente de esquerda. Como dizia a minha amiga P. "Mulher que não reclama padece na cama".

Boas bicadas


* Referência irónica a uma expressão popular para referir uma doença das aves originada por uma alimentação deficiente e caracterizada pelo entupimento do ânus através de excrementos de consistência dura e seca.

touquenemposso

Não, não é o que vocês estão a pensar, isto é só um desafio ao cereja, para ver se ele ou ela, porque isto de ser cereja é muito conveniente nestes ripanços dessexuados, abraça esta causa desafortunada de ultrapassar as carências ventrais de que eu sou porta voz, mesmo caindo na inevitabilidade da sinédoque (ai que estou a ficar elaborada). Isto, porque já tive reacções de algumas pitas afirmando que era uma injustiça tremenda generalizar esta questão, uma vez que alguma franganada dá muito bem conta do recado e que em questões de lascívia andam muito bem servidas e que se nós temos reclamações que a estrada para a Felgueira é convidativa e os atalhos pró pinhal conhecidos ... enfim, ainda perguntei se havia alguma alusão sub-reptícia ao pinheira, mas que não, era mesmo uma questão de milho devidamente racionado e que o milho desse, do pinheira, tinha como destino outra capoeira, devidamente autorizada (só se for por elas! Isto é um comentário meu), dadas as circunstâncias, e que o milho delas estava assegurado com ou sem matas, pinhais ou pinheiros. Ainda tentei questionar sobre a legitimidade desse desperdício de alimento, mas irredutíveis, afirmaram “cada galo no seu poleiro”... macaco no seu galho, disse eu. Cacarejo inaudível... que macaco era a macaca da galinha da tua mãe, que macaco querias tu galinhomaníaca desavergonhada e outros desaforos dignos de registo mas que a minha conduta moral me impede de referir. Ok, reflecti! Sempre há alguém cumpridor, por penas do mister, em capoieira alheia e de olhos bem vendados... pensava eu no meu íntimo e reflectindo sobre a obra do kubrick e a imaginar o pinheira avatado de tom cruise às aranhas na teia da viúva-negra ( e esta ò galo cingab...lol, lot of lechery).
Minorias, meus amigos, minorias! Porque a maioria... anda com vontade de fantasia.

Boas bicadas

terça-feira, abril 04, 2006

Crónicas da Galinha Riça - O Galinheiro

Desde que o galo Luísio subiu ao poleiro a capoeira anda muito mais animada. Não tanto pelas bicadas que o dito distribui pelas meninas cá do galinheiro, pois nessa matéria anda muita galinha descorçoada. Eu própria já levei umas galadelas e posso dizer-vos que não valeram as penas perdidas. O que encanta mesmo as meninas é o seu porte sensual e o seu fôlego para o canto. Habituado desde tenro frango a bicar em galinha alheia ganhou nessa prática a popularidade que detém e o talento de cantar e encantar (dons que muito mais tarde foram literalmente aproveitados para inspirar o nome de um grupo de aspirantes à arte do belo canto o que já lhes valeu algumas saídas precárias aqui da capoeira – mas dessas aves falarei em outra crónica).
De frango canoro a galo dominante foi menos de um ovo. A propósito da retoma do quintal, uma reivindicação antiga mas sempre na crista da onda, arregaçou as penas, tomou as rédeas entre as esporas, desacreditou outros galos concorrentes e, num golpe de asa diplomático congregou o apoio dos residentes e trepou engalanado ao poleiro.
Aparentemente, todo o galinheiro, incluindo aqui a vossa cronista, comungava deste projecto, que consistia na apropriação do quintal para nosso belo prazer: Invocava-se o passado histórico, pois os nossos tetravôs já tinham vivido orgulhosos num; a vantagem da vida ao ar livre; a humilhação a que éramos diariamente sujeitos por perus, patos, gansos e outras raças domésticas que se pavoneavam livremente pelo quintal usufruindo e desfrutando de minhocas, bichos de conta, e outras dádivas da natureza, que nós, confinados ao exíguo espaço da capoeira, não tínhamos acesso.
Entre as várias regalias que a recuperação do quintal entrevia, vislumbrava-se a possibilidade de construir sob os escombros do actual galinheiro um moderno aviário. Falava-se das vantagens do farelo racionado, evitando assim as habituais refregas pelo melhor posicionamento à gamela; da presença de elementos radioactivos em algumas zonas da capoeira, que nos estragavam as moelas e quiçá as posturas; da água canalizada e melhores condições de higiene; de uma creche para os pintos, com música de fundo; do futuro das gerações vindouras, que assim, podiam aspirar a produto de qualidade e serem expostas no Ecomarché e não no mercado ou na feira cá da zona, e que, mesmo o inconveniente da perda de identidade, própria destes centros, poderia lograr alcançar a desejada galinocracia – esta uma observação do galo Minhosio, numa alusão directa à cartilha Maoísta, cujos ideais são curiosamente perfilhados por alguns frangos alvoroçados cá da capoeira.
Eu, galinha velha, ainda cacarejei sobre a falta de privacidade, o stress, o pérfido destino da população desses grandes centros…, mas debalde! Alguns galos proeminentes até manifestaram alguma exitação, mas, por incapacidade beligerante, inaptidão genital ou conformismo galináceo, acobardaram-se, meteram a cabeça debaixo da asa e cederam assim ao galo Luísio o controlo de toda a capoeira e a liderança do MRQ (Movimento de Restauração do Quintal).

Bons repenicos