segunda-feira, novembro 27, 2006

O Natal anuncia-se

Pois é, já só falta um mês para o Natal. E quem é que se lixa, são aqui as galinhas. Ele são filhós, rabanadas, bolo-rei, broinhas doces, coscorões... pois é, e qual é a alma destas doçarias todas? Ora, nem mais, os ovos. Vai daí, galinhas ao remo, galera natalícia ao ritmo do tambor, ovo aqui, ovo acolá, sem descanso nem sossego. Bem, nem tudo são penas, bem pior estão os perus. Pronto, agora tenho que ir remar. Fiquem bem e animem-se com este cheirinho a Natal.

segunda-feira, novembro 20, 2006

Ainda o meu homem da pizza

Nunca tive um caso no local de trabalho. Até há pouco tempo.
Quando saí de casa, o meu irmão mais velho, nas suas recomendações, limitou-se a desaconselhar-me homens casados e namorados com residência a mais de 15 quilómetros. Ri-me dele, percebendo-lhe a ironia. Tinha ganho muito cedo a árdua tarefa de substituir o nosso pai, assumindo por inteiro, ainda que por intuição, o estatuto de educador e a tarefa ingrata de me proteger dos “galifões”, designação que ele dava aos meus namoraditos impúberes, que ele, convicto do seu papel paternal e já conhecedor das angústias do corpo, desaprovava sistematicamente - não estão à tua altura - dizia ele, mais preocupado que a irmã, a despertar sexualidade por tudo quanto era poro, o presenteasse com um sobrinho precoce, do que propriamente com a qualidade moral dos meus pretendentes, ou dos meus pretendidos!
Tivemos muitas desavenças, por causa daquele medo latente. Lembro-me que por essa altura, a propósito de um comentário inocente sobre um ligeiro atraso menstrual, ele e a minha mãe entraram em pânico, obrigando-me a confessar aquilo que eu não tinha feito. Não sei se foi por me sentir ultrajada, se por gozo, se por maldade, remeti-me a um silêncio comprometedor. Sucedeu-se um interrogatório confrangedor, com a minha mãe a tentar pôr água na fervura e o meu irmão, histérico, cuidando em questionar os meus dotes mentais. E eu moita-carrasco. Voltou a serenidade àquela casa passados uns dias, quando, já saturada com o mau ambiente e os olhares furtivos que me eram dirigidos, lhes dei a notícia tão desejada por ambos – voltou-me o período. A partir daí o meu irmão reformulou a sua posição quanto aos “galifões”. Talvez tivesse concluído, que uma vez iniciada, de nada lhe serviam agora desaprovações e que o melhor era prevenir males maiores - consulta de ginecologia - arriscou ao jantar, consultando a reacção da minha mãe. A minha mãe ainda sugeriu o Dr. Pega, mas concordou que para o efeito o melhor era mesmo “uma” ginecologista.
A minha primeira visita a “uma” ginecologista também dava uma história assaz curiosa. Ficará, quem sabe, para outra altura. O meu irmão casou, eu cresci e a nossa relação ganhou contornos de intimidade que se distanciaram definitivamente dos princípios conservadores e paternalistas exercidos na educação da irmã adolescente. Assim, quando fui para a faculdade, fez questão em dizer-me, com um sorriso matreiro – homens casados e namorados a mais de quinze quilómetros, nunca. Olhei-o com ternura e lembrei-me do pai. O que diria o pai se ali estivesse? Acrescentaria “colegas de trabalho”? Nunca saberei, mas agrada-me pôr estas palavras na boca do meu pai, em jeito de prenúncio.
- Homens casados, colegas de trabalho e namorados a mais de quinze quilómetros, são de evitar.

Boas minhocas
PS: Para quem o título desta bicada não fizer qualquer sentido, recomendo a leitura, pela ordem indicada, das seguintes bicadas:
2ª Mexericos

quarta-feira, novembro 15, 2006

Faca na goela


As galinhas andam preocupadas, pois julgavam que o seu galinheiro era inviolável, isto é, que não houvesse raposa, pilha galinhas ou qualquer outro animal capaz de violar a sua (delas) privacidade.
Na bicada Processo C-525/06 insistimos para que, alguém bem informado, nos explicasse como é que isto funciona. Como não obtivemos qualquer informação deixo aqui o repto para que os visitantes mais esclarecidos nos elucidem definitivamente. Disseram-nos que o _DRIX_ seria a pessoa ideal, mas parece-nos que anda muito afastado aqui do Mulherio. Enfim, qualquer informação fundamentada será bem vinda.

Pode um utilizador normal da NET (não estou a falar dos administradores do Google, Blogger, etc.) obter o IP da minha ligação à NET? Se sim, em que moldes e circunstâncias?
Agradecemos a vossa colaboração, pois aqui o Mulherio não tem formação nem conhecimentos nesta área e os contactos possíveis ainda nos deixaram mais baralhadas.

A Presidente Achadiça

sexta-feira, novembro 10, 2006

O número 254

O meu Juvenal anda preocupado. Com um número. O número 254.
Não é um número qualquer. Este número alterou muitos hábitos cá em casa. Por causa dele, do número, que é o mesmo que dizer, do meu Juvenal, ando numa roda-viva, reinventando ementas e quebrando rotinas. Menos preocupante é o número 166, diz ele, tentando obter a minha condescendência para com o digestivo pós-jantar, que ele carinhosamente apelida de “chiripiti”.
Eu bem o avisei que temporadas de sofá, pipas do Dão e tabaco a granel não lhe trariam grande futuro. Pois aí está o resultado: Colesterol - 254, triglicéridos – 166.
Anda inconsolável, «porra, não posso comer, não posso beber…», depois, olha para mim resignado, com aquele sorriso maroto que lhe ficou de criança, «pois, já agora só falta isso…», e eu, «atreve-te!». Mas arrebitou. Agora desdobra-se em intenções: Que vai andar de bicicleta, evitar gorduras, moderar o consumo de álcool (vejam o preciosismo, não é deixar de beber é moderar) e, milagre dos milagres, deixar de fumar. Mantive o ar mais sério possível, para que ele não vacilasse nos propósitos, mas lá no fundo apetecia-me desdenhar de tão boas intenções. Adivinhando o meu cepticismo foi peremptório, «a partir de amanhã não fumo mais».
Efectivamente, não fumou o dia inteiro. À noite bufava lá por casa, desassossegando-me os nervos e a paciência. «Acho que vou dar uma volta para desanuviar a ansiedade», disse-me ele, acentuando os benefícios que uma caminhada traz ao organismo e à inquietação da abstinência. Senti que o devia acompanhar mas estava tão entretida no computador a tentar retocar o malfadado logótipo do Mulherio (queremos tirar-lhe aquele fundo preto mas não está fácil) que abdiquei da solidariedade devida ao meu companheiro e deixei-o sozinho entregue aos seus dramas.
Passou-se uma hora. Conhecendo-lhe os hábitos comecei a estranhar tamanha ausência. O telemóvel ficou em casa, porém não encontrei as chaves do carro. Tal facto levou-me a deduzir que tinha ido espairecer longe. Passaram-se duas horas. Agora comecei a ficar preocupada. Onze e meia da noite e o meu Juvenal sem aparecer, ele que não é dado a hábitos nocturnos nem a socializações after-eight. Comecei a telefonar aos amigos mais chegados e, por via da minha preocupação, a pôr toda a gente em alvoroço.
Já me prestava a sair porta fora no seu encalço quando, vindo do quarto, me aparece estremunhado na penumbra do corredor. Fiquei desconcertada. Olha-me este! Tanto discurso e foi espetar o cu na cama, sem pejo nem aviso. Trovejaram raios e coriscos. Pu-lo ao telefone, a debitar desculpas e justificações aos amigos. Depois serenei. Não fazes ginástica de uma maneira fazes de outra. Tenho uma terapia especializada para as tuas maleitas. Volta para a cama que eu já lá vou ter.
Ele há males que vêm por bem.

Boas Bicadas

quinta-feira, novembro 09, 2006

Processo C-525/06

[...]
O Tribunal da Covilhã começa quarta-feira a julgar uma queixa-crime por difamação, calúnia e injúria movida pelo presidente da Câmara local, Carlos Pinto, contra o alegado autor de um blog na Internet.
Carlos Pinto alega ter sido sujeito a situações de «vexação», sendo «motivo de todas as conversas, chacotas e cochichos», por causa do blog.
Segundo a agência Lusa, no banco dos réus vai estar um morador da vila da Boidobra, junto à cidade, indiciado pelo Ministério Público como autor do blog «Chicken Charles ¿ o anti-herói» (http://covilhas.blogspot.com).
O site contém dezenas de artigos publicados entre Maio de 2004 e Fevereiro de 2006, apresentados como as confissões de uma personagem designada de «Chicken Charles», o galo «que é Dono do Galinheiro da Quinta da Covilhã» e que «controla todas as galinhas».
O presidente da Câmara diz ser acusado da «utilização de dinheiros e obras públicas para fins particulares», nomeadamente nos artigos intitulados «O casamento da minha franguinha» e «Os meus Amores».
[...]
O alegado autor foi indiciado através do registo dos seus acessos à Internet. No processo, a defesa alega que qualquer pessoa podia ter feito esses acessos porque a ligação era partilhada e o réu «estava ausente da Covilhã na data em que foi criado o endereço chickencharles@iol.pt.
Ora, ouvi falar em galos e galinhas e fui a correr ver o que se passava. Fiquei atónita. Então não é que o referido blog continha uma quantidade de expressões e referências que o Mulherio costuma usar. Uma vez que aquele blog data de 2004 e o nosso de 2006, senti imediatamente o peso da suspeição de plágio a carregar-nos as penas e a apertar-nos as goelas. Quero deixar bem claro que este facto é mera coincidência. Galinhas há muitas, quer seja na Covilhã ou em Canas de Senhorim.
Como se isso não bastasse, o autor ou autores do dito blog estão a braços com a justiça(?), acusado(s) de difamação, porque glosaram sua excelência o presidente da Câmara da Covilhã. Estou curiosa por saber o veredicto, mas o que me incomoda mais não são os pruridos do presidente nem a malícia dos textos. O que me incomoda verdadeiramente é a possibilidade de qualquer cidadão visado num texto menos honroso (atenção que eu não digo ofensivo), poder, através do Ministério Público despoletar um processo judicial com a consequente identificação do(s) IP’s (aqui não sei como isto funciona: é o IP do computador onde o blog foi criado?, os IP’s dos colaboradores que carregam os posts?. E os comentadores? Também é possível detectar o IP dos comentadores? É que há para aí cada comentário! Expliquem-me lá esta parte).
O Mulherio nunca foi ofensivo para ninguém, no entanto, a espaços, lá sai uma tirada mais atrevida ou deturpada, visando brincar com determinadas pessoas ou grupos de pessoas. Será isso suficiente para, em caso de queixa, o MP encontrar matéria para formalizar a acusação e solicitar a identificação das autoras do berloque. A Cris diz que sim, mas também afirma que
isso era o melhor que nos podia acontecer. Passaríamos a ter 50.000 visitantes por dia e ela teria todo o gosto em nos representar (em causa própria). O único problema era a perca do anonimato. Esta parte também me incomoda – a perda de anonimato. A exposição pública das galinhas. A minha em particular.
Para evitar maiores desgraças solicito a todos aqueles que se sentirem lesados pelas nossas bicadas, a sensatez de o transmitirem por e-mail. As galinhas serão as primeiras a retratar-se adequadamente, poupando-vos inconveniências e outras merdices.

Boas bicadas
A Presidente Achadiça

terça-feira, novembro 07, 2006

Mexericos

Diz o senso comum, seja lá isso o que for, que as mulheres são muito dadas a mexericos. Talvez o papel que lhes esteve reservado desde os primórdios da sua existência, confinadas à exiguidade da caverna, cuidando filhos e afazeres domésticos, tenha determinado essa apetência para o convívio e para a conversa. Matavam assim o tempo e outros temores, na espera dos homens que, lá fora, silenciavam palavras no ofício da caça, não fosse o ruído transformá-los em presas. Assenta neste cenário a teoria vigente das diferentes capacidades do cérebro humano, que atribui à mulher aptidão para se desmultiplicar ao mesmo tempo em diversas tarefas e raciocínios , por oposição ao homem que privilegia a concentração num só assunto de cada vez.
O papel caseiro das mulheres alterou-se substancialmente com o advento da revolução industrial. As mulheres romperam o circuito fechado do lar e o tempo e predisposição que antes lhes sobravam para manter o “diz que disse” com a vizinha e as amigas, tornou-se escasso. Sim, porque o facto de trabalharem fora de casa não as privou dos cuidados domésticos e da educação da prole, circunstância que só a revolução sexual dos anos 60 do século XX e o advento dos electrodomésticos viria alterar ligeiramente. Com estas alterações sociais, as mulheres perderam a exclusividade do mexerico a favor dos homens, os quais, a coberto de maneirismos socialmente autorizados, se permitem, agora, exercer com idêntica mestria e superior desempenho o cochicho e a maledicência.
Vem isto a propósito do mexerico que o Hipólito da contabilidade partilhou com o Sr. Teodoro do 5º andar:
- Verdade pá. Vi-os no jardim a partilhar uma pizza. O cagão do “João Cerimónias” com a jurista, aquela alta, cavalona, que anda sempre de calças de ganga. Não, não é a pencuda, é a outra. Aquela que se divorciou há pouco tempo.
O Teodoro, de olhar arregalado, chegou-se mais e murmurou com cumplicidade:
- A doutora e o “Cerimónias”! Essa nunca me enganou… Cá p’ra mim já andava com o gajo quando estava casada. Mas esse gajo não anda a comer a Ritinha da recepção?
- Ó Teodoro ele anda a comer é num sítio que eu cá sei. De onde pensas que lhe vem a alcunha do “Cerimónias”. É só palavrinhas mansas a dar ao delicado, amigo Hipólito para aqui, amigo Hipólito para ali. Sabes o que é que ele me disse há tempos… “amigo Hipólito acomode-me lá os números antes que eu desvaneça”. Achas isto linguagem de homem? E mais “na relação entre a empresa e o cliente o mais importante é a sedução…”. A sedução, os afectos e por aí fora, dizia o gajo. Achas isto normal?
- Bem, é um bocado suspeito. Mas a Ritinha, agora a doutora…
- Qual Ritinha qual quê. Essa é uma “vai com todos”, desde que tenham carro com cilindrada acima dos 1600 cc. e estofos de cabedal.
- É pá, não sejas injusto, a Ritinha é uma querida. Lembras-te do almoço de Natal? Bebeu uns copitos e tive que levá-la a casa. Os copos deram-lhe para o sentimento e desabafou amores inconfessáveis pelo caganças do “Cerimónias”. Uma coisa deprimente.
- Levaste-a a casa! E comeste-a?
- Então! Já esqueceste as regras. Isso nunca se pergunta.
- Está bem, mas comeste-a ou não?
O Hipólito não obteve resposta. Ambos sorriram perante a cumplicidade que emanava desta última troca de palavras. Os códigos masculinos são muitas vezes insondáveis e a subtileza com que assuntos destes são tratados surpreendente. Ficou no ar a impressão de que efectivamente algo se tinha passado com a Ritinha da recepção e o Teodoro, porém, sem o vínculo da palavra expressa ninguém poderia assegurar que ele afirmou aquilo que sugeriu nem ignorar que não possa eventualmente ter acontecido. Técnicas de mexerico masculino na primeira pessoa.Nove horas da manhã. Na recepção, a Ritinha, elegante como sempre, exibia excesso de maquilhagem, na tentativa desesperada de disfarçar olheiras recentes. Saúdo-a a contra-gosto e dirijo-me ao elevador que já era aguardado pelo Sr. Hipólito.
- Bom dia doutora.
- Bom dia Sr. Hipólito.
A forma como me cumprimentou, não sendo desrespeitosa, soava, na entoação, a um nível de confiança despropositado. No olhar deixou entrever um sorriso malicioso, só corrigido após a minha indisfarçável desaprovação.
Entrámos no elevador. Eu bem sabia o que lhe ia no espírito. O que ele me quis transmitir foi, muito simplesmente, que era portador dos meus segredos, conhecedor dos caminhos da minha intimidade e eu, no mesmo sítio onde já me senti tão confortável, apanhada na surpresa de um beijo atrevido, sinto-me agora nua, desconfortavelmente despida pelo olhar insidioso do Hipólito da contabilidade.
Boas minhocas

sexta-feira, novembro 03, 2006

Crónicas da Galinha Riça - Quintal em Movimento

Na sequência da tomada da Junta de Freguesia pelo Movimento e da troca de lugares na Câmara Municipal, esvaiu-se muita da animação a que os nossos conterrâneos estavam habituados. Este efeito contribuiu para um crescente desapego da luta por parte de sectores ditos moderados, efeito que urgia inverter rapidamente. Até há quem afirme que a ala mais radical do MRQ ( Movimento para a Restauração do Quintal) se insurgiu com a apatia vigente, exigindo ao presidente do Jumento (Junta e Movimento) que esclarecesse publicamente as suas intenções.
Confrontado com esta onda de insatisfação, o Jumento reuniu com carácter urgente. Era preciso fazer qualquer coisa para reactivar energias:
- Reactivar ou reanimar? - perguntou o responsável do departamento cultural do MRQ.
- Reanimação vais tu precisar se continuas com essas piadinhas à Gato Fedorento - surpreendeu-o o presidente com um olhar repreensivo.
- É pá, que má disposição… pois fiquem sabendo que eu fiz o trabalhinho de casa e já trago um esboço de iniciativas para rea…, para animar a malta. Para começar e recuperando tradições culturais sugiro que se organizem competições de chinquilho, bisca lambida, malha, corte de chouriço, levantamento de copo, matraquilhos, peão, prego, garrafão, estátua, mata, elástico, lá vai milho…
Aqui, este elemento empreendedor fez uma pausa para auscultação, logo aproveitada pelo presidente que, de olhar ensombrado, atalhou:
- Isso do “lá vai milho” tem alguma coisa a ver com aquelas marias do blog do “Mulherio”? Já agora só falta uma luta de galos. Isto aqui não é silo onde as meninas possam vir debitar carências e reclamações. Se quiserem participar nos eventos, angariar milho ou roçar as calcinhas no elástico, organizem-se como associação e dêem o corpinho ao manifesto. Montem uma barraquinha que à noite logo se vê.
- Ó presidente, olhe que numa luta de galos ninguém o batia – insinuou, jocoso, um dos adjuntos para a área da desinformação.
Todos conheciam o talento do líder em eliminar adversários políticos e aquela observação foi acolhida com um aceno geral de assentimento. Aflorou um sorriso no semblante do presidente. Relaxou a mesa e prosseguiram os trabalhos.
- Música. Muita música, gaiteiros, pauliteiros, chocalheiros, bombeiros…
- Bombeiros!? – repetiram em uníssono os presentes.
- Sim, podem ser aqueles de Lavacolhos.
- Ai minha nossa senhora, a quem isto está entregue – desesperou o presidente – ó homem, “Zés Pereiras”, “Zés Pereiras” é o que tu queres dizer.
O homem da cultura indagou com o olhar os restantes elementos na esperança que alguém o elucidasse quem eram aqueles. Porém, como resposta só obteve exclamações de indignação.
- Olha qu’esta! Ó homem, lá por tocarem bombos não são bombeiros. Como é que tu não sabes isto?
- Vocês é que são uma cambada de ignorantes. Tenho um primo que é bombeiro e toca na banda de Lavacolhos. Qual é o mal dos bombeiros tocarem bombo numa banda de bombos.
Fez-se um silêncio comprometedor só quebrado por um grito estridente do presidente.
- Tirem-me daquiiii! Eu não acredito nisto.
De mãos na cabeça o presidente esforçou-se por serenar.
- Risca bombeiros e põe “Zés Pereiras”. Mais alguma coisa?
- Bem, faltam as exposições…
- E que género de exposições?
- Estava a pensar numa exposição canina. Dada a quantidade de cães que por cá temos e a estima que os donos lhes têm parece-me viável e económico.
Os dirigentes entreolharam-se hesitantes. Depois, fixaram o presidente aguardando confirmação. Este, questionou o tesoureiro:
- O que é que achas?
- É capaz de ser uma boa ideia. Não sei é se temos cinéfilos que justifiquem o evento.
- Cinófilos – corrigiu o presidente – mas está tudo bêbado ou quê! Cinéfilos, cinema, cinófilos, cães.
- Está bem, está bem… desculpe o lapso. Não te chateies que eu trago o meu cinófilo.
- Trazes o quê! Esquece... esquece - o presidente inspirou fundo e sentenciou agastado.
- Parece-me que estas componentes, desporto, competição, música, espectáculo e exposições, podem constituir uma base sustentável para lançar o programa do evento. Já tenho um nome para o acontecimento. Quintal em Movimento. O que é que acham?
- Quintal em Movimento! Mas ó presidente, esta matéria é da competência da Junta ou do Movimento – perguntou um dos elementos, conhecido pela mania de estar sempre a desconversar.
- Olha, mais uma gracinha dessas e passas a assistir a todas as Assembleias Municipais. Sessão encerrada.
Por motivos óbvios, desta reunião não foi elaborada acta.

Bons repenicos