sexta-feira, março 06, 2009

Vens ao Rossio "xantinha"...


Carnaval e política de mãos dadas parece-me bem. O popular ditado "é carnaval, ninguém leva a mal" poder-se-ia até estender à política e aos políticos: é política, ninguém leva a mal. Não rima! Então poderia ficar “é política local, ninguém leva a mal“. Pronto.
Mas o facto é que há gentinha que ficou muito indignada com o apoio da Câmara de Nelas. Mas que raio de hipocrisia é esta, então aquele bairro mamão andou ano atrás de ano a receber as verbas negadas ao Rossio, numa falta de solidariedade quase ofensiva, borrifando-se para as dificuldades financeiras que o Rossio teve que ultrapassar para não deixar cair o Carnaval de Canas (sim porque não há Carnaval de Canas só com um bairro) e para manter a sua dignidade intocável, e agora, que está finalmente a ser ressarcido desse período negro, não devia anunciar os bons ventos que nesta matéria vêm lá de cima. Poupem-me. Vão mas é trabalhar, como dizia o outro.
Do meu Rossio engalanado não posso deixar de elogiar a performance do “baile de roda” nas quatro-esquinas, muito bonito, a fazer lembrar outros tempos. Para quem não sabe, há muitos anos atrás, era costume pelo Carnaval rapazes e raparigas dançarem o “baile de roda”, os do Paço no terreiro da Igreja e os do Rossio nas 4-esqinas e no largo do Rossio de Baixo, junto ao chafariz. Estão de parabéns a organização e os marchantes por recuperarem esta tradição (julgo que no berloque do Carnaval há lá fotos antigas a documentar esse costume esquecido).
De resto, já nem vale a pena falar, a marcha do Rossio sobrepôs-se à do Paço como é habitual: é um prazer ver as nossas músicas e letras antigas cantadas e revitalizadas pela garganta dos mais jovens, até as crianças já as sabem de cor. Quase que vou às lágrimas a ouvi-los cantar - vens ao Rossio "xantinha" buscar a cartinha - coisas de velhos, como diz o Patxi. Enfim, Canas de Senhorim pode orgulhar-se do seu bairro.
Quanto a vocês, pessoal do Paço, não desanimem, deitem mãos a picaretas, camartelos e baldes do lixo, alarguem a rua do Paço, e pode ser que para o ano vos façamos a vontade… quem sabe se não iremos ao Casal, à Urgeiriça, ao Carvalho, aos Pardeiros e, por que não, ao Pisão... até lá, ficam a falar sozinhos, que eu vou retirar-me serenamente para deglutir esta saborosa vitória carnavalesca. Já agora aproveitem bem os passeios antes que a doutora se arrependa :), faz-vos bem à saúde… física e mental.

terça-feira, março 03, 2009

Crónicas da Galinha Riça - Cinzas

De repente assistimos ao desmoronar de duas “instituições” canenses: primeiro foi a impensável descaracterização da marcha do Rossio, com alusões publicitárias de carácter duvidoso, sob o compromisso de uns quantos votos na urninha da doutora; depois, na sequência da queima do Entrudo, reduziram a cinzas o berloque do Município, último reduto da sublevação restauracionista que por aqui grassou.
Difícil é não fazer associações entre uma coisa e outra. Canas e os seus agentes parecem caminhar para o servilismo que amorosamente a “senhoria” lá de cima nos propõe, no primeiro caso por manipulação, no segundo por omissão.
Arrancada à prostração por estes acontecimentos bombásticos, decidi contar a coisa como ela se passou, aqui no berloque, que, à semelhança do outro, ou muito me engano ou também está condenado a arder nos quintos do inferno. Vamos lá então:
A doutora “senhoria”, estratega experimentada, avaliou a radiografia do inquilino do rés-do-chão, mirou-a de perto, de longe, pelo direito e às avessas, e detectou dois focos de infecção, aparentemente inofensivos, é certo, mas, pelo sim pelo não, o melhor era não correr riscos: antes que alastrem aplica-se já o antibiótico, se possível pela retaguarda, em supositório, para que surta o efeito desejado. Entretanto mandou chamar o Sr. Silva.
- Ó Silva convoque aqueles do Carnaval do Rossio ou lá como é que eles se chamam e veja também se identifica os mandadores daquele panfleto digital, um tal de Município, que anda para aí na net ao serviço dos insurrectos.
O Silva aproveitou logo a oportunidade para demonstrar que estava bem informado e sem qualquer reserva esclareceu:
- Doutora, quem manda naquilo é o candidato da terra… tem lá uns peões a barafustar, tipo testas de ferro…
- O quê, o panfleto é do candidato! Então não são os restauracionistas que mandam naquilo?!
- É confuso, parece que o candidato anda de braço dado com os restauracionistas.
- Ui, ui, não sei o que é pior. Então e quanto àquele bairro carnavalesco que tem a mania de criticar e mal-dizer aqui a “senhoria”, ainda por cima com o dinheirinho que generosamente lhes damos?
- Não se preocupe doutora, esse está vacinado, inoculámo-lo com blocos de cimento. Eu próprio distribuí o “kit”, tudo muito higiénico e sem efeitos secundários.
- Pronto, então divirta-se, e bom Carnaval… ah, não se esqueça de convocar os panfletários…
- Vai-lhes oferecer uma sede… uma capela… um trombone… uma rotunda?
- Não Silva, vou dar-lhes um tratamento adequado.
O Silva saiu e a doutora recostou-se no cadeirão presidencial, permitiu-se mesmo espreguiçar a sagacidade que entreviu no seu raciocínio. Depois pegou na caneta e rabiscou na ficha clínica, anexa ao processo:
“Diagnóstico reservado. O inquilino demonstra melhoras. Mantêm-se os passeios. Ministrar Xanax aos restauracionistas e quejandos… para prevenir reincidências.”

segunda-feira, março 02, 2009

Paço vs Bairro em Cima do Povo!!!!!!!!

Agora que recuperei da surpresa já me posso permitir a deixar algumas impressões sobre o Carnaval. Estou a ficar velha e posso afirmar que já vi um pouco de tudo, que já nada me causa espanto, mas, como eu também já deveria saber, nunca confiando, que estas gentes do Rossio são capazes de reviravoltas alucinantes.
Que o Carnaval do Rossio anda pelas ruas da amargura já nós sabemos há muito tempo, que lhes falta a arte e o engenho na construção dos carros, também, que não cumprem compromissos acordados, já não é de agora, que fogem a sete pés da Rua do Paço, até é normal, não vá a beleza do nosso bairro deprimi-los, agora apaixonados pela Câmara de Nelas, com direito a Corações do Dão ao ritmo da bagunçada, não quis acreditar que era possível. Pasmei perante aquele quadro sórdido e indigno: uma barracada a troco dum barracão.
E isto não é pouca porcaria… vá lá, se ainda disfarçassem a vendilhice num qualquer taipal das caranguejolas que por aí arrastam, do mal o menos, assim como assim, ninguém olha para aqueles trecos-trecos, e passava despercebida a afronta, mas não, destacaram o andor da infâmia bem na frente da procissão, com beatas, acólitos e carpideiras marchando em adoração!
Espero que não, mas por este andar ainda hei-de ver o Paço obrigado a rivalizar com o Bairro em Cima do Povo, numa comunhão carnavalesca tão imprevisível como a presença daquele andor nas ruas de Canas.

Rossio, Rossio meu
Já foste mais do que tudo
Agora não sei que te deu
És a vergonha do Entrudo