*****

O Mulherio faz hoje um ano de vida. Tudo começou quando o meu Juvenal, entusiasmado com a blogosfera canense e pressionado por mim, conseguiu vislumbrar alguma vantagem para benefício próprio em instalar a NET cá em casa. Somítico como ele é, não pensem que foi de ânimo leve. Só com o ultimato de que lhe cortava a SporTV é que o consegui convencer.
Nos primeiros tempos ninguém o despegava da secretária. Andava tão encantado com o novo brinquedo que ia para a cama às tantas da madrugada, ainda por cima, para meu desconforto, extenuado de tanto bicar no teclado.
Claro que esta situação agastava o dia a dia da nossa relação, pois de que é que me servia um homem agarrado permanentemente ao computador! Isto para não falar do mau estar que se me instalara na alma. Trocada por uma maquineta e sei lá por quem mais – rancorava eu na solidão do quarto. Sim comecei a ficar ciumenta, pois bem sabia que não era a máquina que o prendia mas sim quem do lado de lá mo estava a prender.
A minha mãe sempre me disse que aos homens não se pode dar um palmo de terreno, que é como quem diz, um palmo de mulher alheia. Têm uma tendência inata para desbravar, dizia ela, enquanto me aconselhava terapias sexuais que a experiência lhe tinha ensinado e que surtiram pleno efeito com o meu pai, pese embora a hérnia discal que o atormentava desde os tempos da Guiné.
Foi com esta convicção que me comecei a sentar amiúde ao lado do meu Juvenal enquanto ele lá escrevinhava os seus comentários nos berloques. Para minha surpresa constatei que por aquelas bandas mulheres vestidas nem vê-las. Muito homem, ou pelo menos assim parecia pela forma como escreviam. Canas para aqui, Canas para ali, Zé Corrécio para além… enfim, muita política, mas ditada no masculino. Ainda me lembro dos saudosos Ironia, Pai Mouro, Granito, Mineiro, Bancadas (por onde andarão estas almas) e tantos outros que por lá masturbavam o intelecto. O meu Juvenal pode ter muitos defeitos mas posso jurar que não é de afinidades suspeitas com homens. Fiquei mais descansada. Era só mais um a quem tinha dado a doença do Concelho.
Como sou irrequieta das duas uma, ou o deixava em paz na sua saga blogueira ou alinhava no jogo e aprendia as artes de navegação requeridas para poder gozar daquele prazer virtual. Se o pensei, melhor o fiz. Com a ajuda do meu galo registei-me e comecei a debicar provocações e outros disparates por todos os berloque canenses que me tinham sido dados conhecer. Nasceu uma estrela, lol. A Achadiça.
Já não me lembro bem, mas parece que ao registar-me ficou desde logo criado o espaço que mais tarde ganharia os contornos do que hoje é o Mulherio.
O facto é que com o andar da carruagem, à medida que o meu entusiasmo pelos berloques crescia, o do meu Juvenal ia-se desvanecendo. Como nós mulheres temos o dom da ubiquidade viu-se assim concertada a nossa vida amorosa sem mais atropelos dignos de registo. Pode assim concluir-se com alguma maldadezinha que o Mulherio nasceu da minha insatisfação afectiva…
Aquando da primeira bicada no Mulherio, a 30 de Março de 2006, e uma vez que a presença feminina era quase nula, a minha ideia era cativar as mulheres canenses para este género de praça pública, onde pudéssemos, também nós, dizer de nossa justiça, falar das nossas preocupações, das nossas vivências… provocar, brincar, gozar, rir. Em suma, abordar tudo o que nos apetecesse. Já tinha falado do assunto à Riça e à Cris que alinharam na ideia e desde logo se disponibilizaram para contribuir, embora não muito convictas de que o projecto resultaria, especialmente porque me precipitei na estética do berloque, atribuindo-lhe referências que à partida poderiam condicionar alguns espíritos femininos mais sensíveis a estas coisas de galináceos. Mas já não dava para voltar atrás. Ficámos por iniciativa minha conotadas às galinhas e coladas ao galinheiro, mesmo depois de reformulado o design do berloque. Mas disto já dei conta em texto anterior, numa resposta a um mail de uma galinha nossa conterrânea mais indignada (ou brincalhona).
Depois de uma conversa com o meu Juvenal, rogando-lhe pela alma da mãezinha (é remédio santo) que mantivesse absoluto sigilo sobre a identidade das galinhas e se abstivesse de comentários comprometedores, arrancámos com o estilo ligeiro que inicialmente caracterizava as nossas bicadas.
Cedo nos apercebemos que os nossos receios eram fundados e que efectivamente a ideia inicial não vingaria. Tal facto não nos dissuadiu, até porque a Cris e a Riça começaram a delinear um trajecto bastante mais interessante que viria a consolidar a linha actual do Mulherio. Libertas do folclore genital inicial parece termos encontrado o rumo ideal para que este projecto ganhe consistência.
Hoje, passado um ano, as mulheres de Canas, com uma ou outra excepção, não aderiram à berlocosfera e muito menos visitam ou comentam o Mulherio. Creio, contudo, termos ao longo deste ano deixado marcas indeléveis no panorama da berlocosfera canense. Não sei o que o futuro nos reserva, mas posso assegurar-vos que nos divertimos e tentámos divertir todos aqueles que nos deram a graça da sua visita durante este nosso primeiro aninho. Obrigada a todos e a todas que nos acompanham. Boas bicadas, muitas minhocas e bons repenicos.
A presidente Achadiça, Galinha Riça e Cristalinda
Nos primeiros tempos ninguém o despegava da secretária. Andava tão encantado com o novo brinquedo que ia para a cama às tantas da madrugada, ainda por cima, para meu desconforto, extenuado de tanto bicar no teclado.
Claro que esta situação agastava o dia a dia da nossa relação, pois de que é que me servia um homem agarrado permanentemente ao computador! Isto para não falar do mau estar que se me instalara na alma. Trocada por uma maquineta e sei lá por quem mais – rancorava eu na solidão do quarto. Sim comecei a ficar ciumenta, pois bem sabia que não era a máquina que o prendia mas sim quem do lado de lá mo estava a prender.
A minha mãe sempre me disse que aos homens não se pode dar um palmo de terreno, que é como quem diz, um palmo de mulher alheia. Têm uma tendência inata para desbravar, dizia ela, enquanto me aconselhava terapias sexuais que a experiência lhe tinha ensinado e que surtiram pleno efeito com o meu pai, pese embora a hérnia discal que o atormentava desde os tempos da Guiné.
Foi com esta convicção que me comecei a sentar amiúde ao lado do meu Juvenal enquanto ele lá escrevinhava os seus comentários nos berloques. Para minha surpresa constatei que por aquelas bandas mulheres vestidas nem vê-las. Muito homem, ou pelo menos assim parecia pela forma como escreviam. Canas para aqui, Canas para ali, Zé Corrécio para além… enfim, muita política, mas ditada no masculino. Ainda me lembro dos saudosos Ironia, Pai Mouro, Granito, Mineiro, Bancadas (por onde andarão estas almas) e tantos outros que por lá masturbavam o intelecto. O meu Juvenal pode ter muitos defeitos mas posso jurar que não é de afinidades suspeitas com homens. Fiquei mais descansada. Era só mais um a quem tinha dado a doença do Concelho.
Como sou irrequieta das duas uma, ou o deixava em paz na sua saga blogueira ou alinhava no jogo e aprendia as artes de navegação requeridas para poder gozar daquele prazer virtual. Se o pensei, melhor o fiz. Com a ajuda do meu galo registei-me e comecei a debicar provocações e outros disparates por todos os berloque canenses que me tinham sido dados conhecer. Nasceu uma estrela, lol. A Achadiça.
Já não me lembro bem, mas parece que ao registar-me ficou desde logo criado o espaço que mais tarde ganharia os contornos do que hoje é o Mulherio.
O facto é que com o andar da carruagem, à medida que o meu entusiasmo pelos berloques crescia, o do meu Juvenal ia-se desvanecendo. Como nós mulheres temos o dom da ubiquidade viu-se assim concertada a nossa vida amorosa sem mais atropelos dignos de registo. Pode assim concluir-se com alguma maldadezinha que o Mulherio nasceu da minha insatisfação afectiva…
Aquando da primeira bicada no Mulherio, a 30 de Março de 2006, e uma vez que a presença feminina era quase nula, a minha ideia era cativar as mulheres canenses para este género de praça pública, onde pudéssemos, também nós, dizer de nossa justiça, falar das nossas preocupações, das nossas vivências… provocar, brincar, gozar, rir. Em suma, abordar tudo o que nos apetecesse. Já tinha falado do assunto à Riça e à Cris que alinharam na ideia e desde logo se disponibilizaram para contribuir, embora não muito convictas de que o projecto resultaria, especialmente porque me precipitei na estética do berloque, atribuindo-lhe referências que à partida poderiam condicionar alguns espíritos femininos mais sensíveis a estas coisas de galináceos. Mas já não dava para voltar atrás. Ficámos por iniciativa minha conotadas às galinhas e coladas ao galinheiro, mesmo depois de reformulado o design do berloque. Mas disto já dei conta em texto anterior, numa resposta a um mail de uma galinha nossa conterrânea mais indignada (ou brincalhona).
Depois de uma conversa com o meu Juvenal, rogando-lhe pela alma da mãezinha (é remédio santo) que mantivesse absoluto sigilo sobre a identidade das galinhas e se abstivesse de comentários comprometedores, arrancámos com o estilo ligeiro que inicialmente caracterizava as nossas bicadas.
Cedo nos apercebemos que os nossos receios eram fundados e que efectivamente a ideia inicial não vingaria. Tal facto não nos dissuadiu, até porque a Cris e a Riça começaram a delinear um trajecto bastante mais interessante que viria a consolidar a linha actual do Mulherio. Libertas do folclore genital inicial parece termos encontrado o rumo ideal para que este projecto ganhe consistência.
Hoje, passado um ano, as mulheres de Canas, com uma ou outra excepção, não aderiram à berlocosfera e muito menos visitam ou comentam o Mulherio. Creio, contudo, termos ao longo deste ano deixado marcas indeléveis no panorama da berlocosfera canense. Não sei o que o futuro nos reserva, mas posso assegurar-vos que nos divertimos e tentámos divertir todos aqueles que nos deram a graça da sua visita durante este nosso primeiro aninho. Obrigada a todos e a todas que nos acompanham. Boas bicadas, muitas minhocas e bons repenicos.
A presidente Achadiça, Galinha Riça e Cristalinda