Na minha crónica anterior abordei a incontornável obsessão dos habitantes do Galinheiro pela reconquista do extenso Quintal, quimera perseguida ao longo das últimas três décadas e transmitida de geração em geração por várias e consecutivas sublevações populares.
O Quintal, durante este período, foi administrado por aves insensíveis, que, a contento de alguns, sempre se revelaram adversas à causa do Galinheiro, impedindo a sua emancipação e dificultando a legítima pretensão de também debicarmos as apetecíveis dádivas da natureza que aquele espaço promete. Dessas aves, porém, uma se destacou: O Peru Corrécio.
Determinado a resolver definitivamente o conflito que se arrastava com o nosso Galinheiro e que comprometia a sua liderança e o exercício do domínio absoluto do Quintal- desaguisado que já tive oportunidade de abordar em crónica anterior - o Peru dedicou especial atenção ao problema da restauração do coito.
Embora da mesma ordem que os demais conterrâneos, os Galliformes, esta abjecta ave distinguia-se por pertencer à família dos Meleagrididae, o que lhe conferia a insolência e a vaidade de se pavonear arrogante acima dos outros da sua espécie. Ostentava orgulhosamente a sua indiferença pelos vários galinheiros da sua jurisdição, mas, pelas razões atrás apontadas, preocupava-o particularmente a insatisfação que reinava na nossa capoeira.
Decidido a pôr cobro às reclamações emergentes da perda do coito, institui, na legitimidade que a Lei lhe conferia, o “Direito de Pernada” sobre o Galinheiro. Perguntam os incólumes o que é o Direito de Pernada. O Direito de Pernada é um legado medieval criado por D. Pedro I, o Justiceiro, aquele da Inês, que conferia ao senhor feudal o direito de passar a primeira noite com as nubentes do seu feudo. Pensava o Peru que, com tal medida, restituía por caminhos tortos o que nos era devido por direito.
Instigado pela volúpia da sua missão e legitimado pela condição de suserano avassalou-se indiscriminadamente de nubentes, pitas impúberes, frangas, galinhas feitas e outras por fazer, não olhando a meios nem a métodos para reintroduzir o reclamado coito no Galinheiro.
No início, gerou-se um clima de tolerância expectante perante aquelas investidas indulgentes, no entanto, com o passar do tempo, acometido por uma ambiguidade de apetites e não satisfeito com o espírito da Lei, decidiu alterá-la a seu belo prazer e tirar satisfações púbicas de tudo quanto mexia em desenfreada fornicação. Está bom de ver que tamanha actividade acabou por afectar física e psicologicamente toda a comunidade.
Ora, come se sabe, de coitados a fornicados pouca diferença dista e, mal por mal, mais nos valia sucumbir aos inconvenientes da escravidão doméstica do que à vil tirania do Peru e dos seus apetites insaciáveis. Foi neste contexto que se reafirmou a vontade de tomar o Quintal e que o galo Luísio, perante a passividade de todos, quem sabe se tolhidos pelos hábitos do Direito de Pernada, acedeu à liderança do MRQ (Movimento de Restauração do Quintal).
Neste particular, bendita a hora em que o galo Luísio assumiu os destinos do Galinheiro, pois a ele se deve o fim do esfregulhanço a que nos sujeitámos durante anos e anos. Inconformado com o nosso destino, e aproveitando o cansaço e o desgaste do Peru Corrécio na sua cruzada pagã, tratou de derrubar o desavergonhado, substituindo-o por doutorada galinha, Isa Pedrês de seu nome, argumentando que, pelo menos com esta, dada a natureza do género e a inerente inviabilidade anatómica para o efeito, o Direito de Pernada seria definitivamente abolido, e mesmo que por embuste ou trapaça política, isso não acontecesse, ele próprio, Luísio Cantorias, se entregaria, qual aio Afonsino, em sacrifício penitencioso, ao folguedo requerido.
A História está cheia de casos em que as intenções se confundem com os factos e vice-versa. Neste caso, fosse subliminar intenção ou facto previamente acordado, a verdade é que o galo Luísio se viu obrigado a condescender aos caprichos da doutora em doces arrulhos e outros compromissos de pernada e, agora, por força do fogoso aviamento prometido, da tempestade fez bonança e da contenda conformismo e pesaroso lamenta, citando aquele não menos desconsolado general romano - que raio de Galinheiro este que não se governa nem se deixa governar!
Contudo, o espírito da nossa capoeira não perde o pio facilmente. Se as andanças políticas são armadilhas efémeras, as verdadeiras mudanças, as de atitude e de mentalidade, essas parecem continuar vivas e inquietas para agitar o galinheiro; se o Movimento de Restauração se encontra em estado comatoso ou de letargia, isso não significa o fim das nossas reivindicações. Vindo do mais fundo desejo de conquistar definitivamente a dignidade das nossas penas, um novo movimento emerge, agora, na voz do Mulherio. Mas desse movimento ocupar-me-ei noutras crónicas. Queira deus se tornem factos históricos.
Bons repenicos
O Quintal, durante este período, foi administrado por aves insensíveis, que, a contento de alguns, sempre se revelaram adversas à causa do Galinheiro, impedindo a sua emancipação e dificultando a legítima pretensão de também debicarmos as apetecíveis dádivas da natureza que aquele espaço promete. Dessas aves, porém, uma se destacou: O Peru Corrécio.
Determinado a resolver definitivamente o conflito que se arrastava com o nosso Galinheiro e que comprometia a sua liderança e o exercício do domínio absoluto do Quintal- desaguisado que já tive oportunidade de abordar em crónica anterior - o Peru dedicou especial atenção ao problema da restauração do coito.
Embora da mesma ordem que os demais conterrâneos, os Galliformes, esta abjecta ave distinguia-se por pertencer à família dos Meleagrididae, o que lhe conferia a insolência e a vaidade de se pavonear arrogante acima dos outros da sua espécie. Ostentava orgulhosamente a sua indiferença pelos vários galinheiros da sua jurisdição, mas, pelas razões atrás apontadas, preocupava-o particularmente a insatisfação que reinava na nossa capoeira.
Decidido a pôr cobro às reclamações emergentes da perda do coito, institui, na legitimidade que a Lei lhe conferia, o “Direito de Pernada” sobre o Galinheiro. Perguntam os incólumes o que é o Direito de Pernada. O Direito de Pernada é um legado medieval criado por D. Pedro I, o Justiceiro, aquele da Inês, que conferia ao senhor feudal o direito de passar a primeira noite com as nubentes do seu feudo. Pensava o Peru que, com tal medida, restituía por caminhos tortos o que nos era devido por direito.
Instigado pela volúpia da sua missão e legitimado pela condição de suserano avassalou-se indiscriminadamente de nubentes, pitas impúberes, frangas, galinhas feitas e outras por fazer, não olhando a meios nem a métodos para reintroduzir o reclamado coito no Galinheiro.
No início, gerou-se um clima de tolerância expectante perante aquelas investidas indulgentes, no entanto, com o passar do tempo, acometido por uma ambiguidade de apetites e não satisfeito com o espírito da Lei, decidiu alterá-la a seu belo prazer e tirar satisfações púbicas de tudo quanto mexia em desenfreada fornicação. Está bom de ver que tamanha actividade acabou por afectar física e psicologicamente toda a comunidade.
Ora, come se sabe, de coitados a fornicados pouca diferença dista e, mal por mal, mais nos valia sucumbir aos inconvenientes da escravidão doméstica do que à vil tirania do Peru e dos seus apetites insaciáveis. Foi neste contexto que se reafirmou a vontade de tomar o Quintal e que o galo Luísio, perante a passividade de todos, quem sabe se tolhidos pelos hábitos do Direito de Pernada, acedeu à liderança do MRQ (Movimento de Restauração do Quintal).
Neste particular, bendita a hora em que o galo Luísio assumiu os destinos do Galinheiro, pois a ele se deve o fim do esfregulhanço a que nos sujeitámos durante anos e anos. Inconformado com o nosso destino, e aproveitando o cansaço e o desgaste do Peru Corrécio na sua cruzada pagã, tratou de derrubar o desavergonhado, substituindo-o por doutorada galinha, Isa Pedrês de seu nome, argumentando que, pelo menos com esta, dada a natureza do género e a inerente inviabilidade anatómica para o efeito, o Direito de Pernada seria definitivamente abolido, e mesmo que por embuste ou trapaça política, isso não acontecesse, ele próprio, Luísio Cantorias, se entregaria, qual aio Afonsino, em sacrifício penitencioso, ao folguedo requerido.
A História está cheia de casos em que as intenções se confundem com os factos e vice-versa. Neste caso, fosse subliminar intenção ou facto previamente acordado, a verdade é que o galo Luísio se viu obrigado a condescender aos caprichos da doutora em doces arrulhos e outros compromissos de pernada e, agora, por força do fogoso aviamento prometido, da tempestade fez bonança e da contenda conformismo e pesaroso lamenta, citando aquele não menos desconsolado general romano - que raio de Galinheiro este que não se governa nem se deixa governar!
Contudo, o espírito da nossa capoeira não perde o pio facilmente. Se as andanças políticas são armadilhas efémeras, as verdadeiras mudanças, as de atitude e de mentalidade, essas parecem continuar vivas e inquietas para agitar o galinheiro; se o Movimento de Restauração se encontra em estado comatoso ou de letargia, isso não significa o fim das nossas reivindicações. Vindo do mais fundo desejo de conquistar definitivamente a dignidade das nossas penas, um novo movimento emerge, agora, na voz do Mulherio. Mas desse movimento ocupar-me-ei noutras crónicas. Queira deus se tornem factos históricos.
Bons repenicos
10 comentários:
:P
bem aparecida professora doutora. gostei particularmente do último parágrafo.vejo que a amiga continua entusiasmada com o nosso movimento mesmo que insista na moderação. reunião no próximo fim de semana a não esquecer
B:»
O avatar é fascina-me
galo cingab não diga isso que a cris tem uma opinião muito própria a propósito desse fascínio pelo meu virtual aspecto.aqui entre nós eu acho que ela tem é um fraquinho pelo rico...bem, eu compreendo-a, também é o único a deixar umas bicaditas, não sei o que é que se passa com estes homens, será timidez como diz a qda dona da prima, será que os intimidamos com estas conversas comprometedoras, ou só sabem bicar politiquices de bairro. mas não são só os homens a recear-nos, as mulheres, já nem digo galinhas porque tenho receio que seja algum problema de crise de identificação, dizia eu que mulheres por aqui nem vê-las!!!o que é que vocês fazem às meninas que, com a honrosa excepção das criadoras deste espaço e da dona da prima, não acedem à blogosfera nem partilham posições nem insatisfações. trazem-nas amordaçadas. ocupadas na cama não é de certeza. uma vez que o querido se permite e muito bem a opinar sobre tudo o que lhe vai na alma, tente lá explicar esta ausência do mulherio, opss, mulheres, pois parece que "mulherio" também não se quaduna, com o elevado estatuto que algumas pindéricas querem aparentar, que nem distinguem ironia, mesmo que pretensiosa, do verdadeiro sentido de ser mulher. desculpe galo cingab mas hoje chegou-me aos ouvidos que algumas, essas sim galinhas de bico penas e asas, não alinhavam no mulherio porque o seu conteúdo era ridículo e desprestigiava as mulheres. fiquei possessa, podiam criticar as bicadas, aliás os textos, podiam não concordar com o tema, agora que desprestigiava as mulheres!!! é com estas moralistas da treta que tenho que conviver em sorrisos hipócritas de café. gostava que este blog tivesse sucesso para ver a fronha dessas doutoras empertigadas. sei que a cris e a riça me vão matar por vir pr'aqui choramingar portanto se não voltar a aparecer peça-lhes explicações. adeus
B:»
Mas, esse avatar dá cabo de mim!
Se quer uma critica, os post's são muitos longos!
o que eu queria mesmo era que me explicasse porque é que as mulheres não participam nos berloques
...como longas são as penas que nós padecemos
boas!
apreciei muitas as palavras que deixaram no meu blogue. vejo que as bloguistas de Canas dão uma excelente réplica ao blogueiros da mesma, em deliciosos e bens afiados tons de prosa, condimentados com um humor qb.
O Hércules tinha doze trabalhos em mão,eu já devo ter agora uns doze milhões pendentes. podia reformar-me ;-) que acho que nem 1% deles os conseguiria concretizar. mas agradeço e fico muito sensibilizado pela sugestão que me deixaram.
Desejos do melhor para este blogue e para todo o MULHERio de Canas de Senhorim!!
btw eu não sou de todo académico, a par de trabalhar também estudo.
traição!, qda dona da prima, traição! porque eu desconfio que a cris e a riça também alinharam no grupo excursionista.nem uma bicadita deixaram por aqui este fim de semana. olhe se é como diz, façam bom proveito e já agora não percam a oportunidade de visitar o hipópotamo o elefante ou o jaleco que a animália agradece.
ó nando quem agradece sou eu, somos nós (acho que posso falar pelo resto da galinhagem). já sabe, a nossa especialidade é cabidela, por isso terá sempre cabimento entre as nossas miudezas, que é como quem diz, entre o coração e a moela. Volte sempre, bique e sirva-se à vontade. pena não ter disponibilidade para analisar este fenómeno, aliás, desfenómeno que por cá não se arrasta. bem tentamos que a rapaziada arraste a asa pelo nosso berloque e que nos amacie devidamente as penas, mas não...é só política, diz que disse, conversa de poleiro… enfim! com a honrosa excepção do galo luísio e do galo da dona da prima, preocupações gaiteiras nada! como diz a riça, uma ralação púbica é o que é. pois querido nando que a força esteja consigo e quanto à cabidela é só fazer anunciar-se.
B:» (Boas bicadas)
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