sexta-feira, abril 28, 2006

A sustentabilidade do Galinheiro

Fiquei muito satisfeita com as medidas anunciadas pelo galo Sócrates, nosso primeiro, em linhagem e sensibilidade.
Descontente com a insatisfação que gradava aqui na capoeira remeti uma missiva ao nosso primeiro onde lhe expunha os motivos da nossa preocupação, alertando-o para os perigos que daí podiam advir, nomeadamente a sustentabilidade do galinheiro nas actuais condições e o risco alimentar eminente.
Referi causas e efeitos. Das causas já aqui tenho dado conta amiúde. A falta de empenho dos machos tem afectado desastrosamente a qualidade das carnes, pois pitas, frangas e galinhas não andam devidamente amaciadas e o resultado salta à vista, que é como quem diz, ao dente. Safa-se a canja que requer galinha velha, e rija de carnes, mas à provecta idade uma boa parte de nós chega e chegará, pelo que não há motivo para não amaciar aquilo que por natureza se quer amaciado.
Também as posturas se têm ressentido, ameaçando desastrosamente toda a produção que os ovos subsidiam. Os analistas especializados já previram uma quebra no produto interno bruto de cerca de 5% na sequência do encerramento de confeitarias, pastelarias e outros estabelecimentos que comercializam a variada gama de produtos cuja confecção dependa de ovos, agravada com os implícitos despedimentos e o consequente aumento da taxa de desemprego. Uma leitura mais profunda até aponta para um cenário de depressão sócio-psicológica se atendermos aos casamentos e baptizados comprometidos pela falta da respectiva doçaria, isto para não referir natais, páscoas e outras festas tradicionais que não prescindem da gema e da clara, presenças indispensáveis neste género de eventos. Lili Caneças, galinha avisada, admitiu que o jet set sofreria um golpe terrível a confirmar-se a ausência de tão ilustres convidadas e afirmou:
- Se a tia clara e a tia gema num forem à fêsta isso será um escândalo nacional.
Já herman josé, apreciador indefectível de outra doçaria, declarou no seu habitual tom humorístico:
- Isso é coisa de galinhas. O que eu gosto mesmo é de dar milho aos pombos.
É claro que todos estes aspectos, já de si suficientemente preocupantes, podem ser agravados se considerarmos o estado psicológico das galinhas em geral e as possíveis implicações das poucas que conseguem alcançar o choco das gerações vindouras. O estado febril necessário ao período de incubação é perturbado pela ansiedade a que andaram sujeitas na época de acasalamento e os níveis de concentração e dedicação maternal são seriamente afectados. Também aqui as estatísticas apontam para um aumento drástico de germes mal desenvolvidos e os bem sucedidos carregam no seu adn o estigma do mau desempenho dos pais e do nervosismo das mães com a nefasta consequência que tal facto acarreta para a sobrevivência da espécie.
Foi com estas preocupações que eu confrontei o nosso primeiro, às quais ele deu a devida atenção, como podem verificar através do ofício que o seu gabinete gentilmente me enviou e que passo a transcrever:


De: Gabinete do Primeiro-Ministro

Lisboa, 27 de Abril de 2006

Assunto: Sustentabilidade do Galinheiro
Ref: V. Carta dirigida ao Primeiro-Ministro datada de 01/04/2006


Exma. Senhora
Achadiça

Encarrega-me Sua Excelência o Primeiro-Ministro de comunicar V. Exa. que o assunto exposto na carta em referência foi objecto de especial atenção, na medida em que as preocupações expostas foram devidamente consideradas e remetidas a Conselho de Ministros, para que delas fosse tomado conhecimento e encontrada solução.

Assim, cumpre-me informar, que Sua Excelência o Primeiro-Ministro, irá ainda hoje, em sede própria, anunciar as medidas entendidas como necessárias para a resolução do problema referido em epígrafe.

Atendendo ao elevado sentido de cidadania evidenciado por V. Exa., ao nos dar conhecimento do assunto, adiantam-se algumas das resoluções tomadas para o efeito:

1. Considerando a falta de empenho e colaboração revelados por parte de galos e frangos determina-se a rápida entrada em vigor da legislação que alarga o período de laboração para efeitos de reforma. Os visados serão obrigados, em data a anunciar, a desempenhar assiduamente as suas obrigações conjugais até aos 70 anos, se quiserem usufruir de reforma sossegada.

2. Verificada a baixa taxa de natalidade existente no galinheiro propõem-se a criação de incentivos que se traduzem na redução e variação dos impostos em função do número de pintainhos saídos da casca. Os casais com elevada taxa de sucesso no choco dos seus ovos, verão as suas contribuições reduzidas consideravelmente.

3. Considerando a falta de equidade na distribuição do milho e a consequente frustração traduzida nos sintomas psico-patológicos revelados pelas galinhas, determina-se a criação de um tecto alimentar que não permita que certas galinhas fiquem com o milho todo e outras com pouco ou quase nada.

Encarrega-me ainda Sua Excelência o Primeiro-Ministro de endereçar a V. Exa. os melhores cumprimentos e a total disponibilidade no esclarecimento de qualquer dúvida.



Atenciosamente e com elevada consideração


O Chefe de Gabinete


Luís Patrão


Como vêem trigo limpo farinha amparo. Com este primeiro vamos longe no galinheiro e com estas medidas se verá s’as reformas são merecidas...


Boas bicadas

4 comentários:

Cingab disse...

:P

Miguel Horta disse...

tudo o que diz respeito a aves tem a ver comigo....
Ainda não conhecia este blog...

Achadiça disse...

gaivina
bem vindo a este galinheiro. Traga consigo o conhecimento insinuado no seu cacarejo e transmita-o por estes poleiros dentro onde, como já deve ter testemunhado, graça uma inércia aflitiva no que toca à satisfação das necessidades básicas do mulherio. Se as aves lhe são assim tão familiares decerto compreende a aflição que para aqui reina.
Se galo, tenho esperança que o seu alegado conhecimento traga a respectiva cara metade devidamente consolada, se frango, auguro que, do seu entusiasmo, algum préstimo advirá.

B> (boas bicadas)

Achadiça disse...

ilustres visitantes hugo e município de canas de senhorim

esta capoeira encontra-se desesperadamente necessitada de galos e frangos capazes de bicar convenientemente. Façam-nos o gosto de umas galadelas expressivas pois infelizmente não temos o dom daqueles outros companheiros domésticos, aos quais o aguçado sentido do faro lhes permite seguir sinais apetecíveis. Contudo, atendendo à insistência do repto e a um pedido especial da minha amiga riça que tem um fraquinho confessado por jovens frangos com disponibilidade para o acasalamento vou afixar o rasto, na esperança que a galinhagem ganhe olfacto apurado.