Nunca tive um caso no local de trabalho. Até há pouco tempo.
Quando saí de casa, o meu irmão mais velho, nas suas recomendações, limitou-se a desaconselhar-me homens casados e namorados com residência a mais de 15 quilómetros. Ri-me dele, percebendo-lhe a ironia. Tinha ganho muito cedo a árdua tarefa de substituir o nosso pai, assumindo por inteiro, ainda que por intuição, o estatuto de educador e a tarefa ingrata de me proteger dos “galifões”, designação que ele dava aos meus namoraditos impúberes, que ele, convicto do seu papel paternal e já conhecedor das angústias do corpo, desaprovava sistematicamente - não estão à tua altura - dizia ele, mais preocupado que a irmã, a despertar sexualidade por tudo quanto era poro, o presenteasse com um sobrinho precoce, do que propriamente com a qualidade moral dos meus pretendentes, ou dos meus pretendidos!
Tivemos muitas desavenças, por causa daquele medo latente. Lembro-me que por essa altura, a propósito de um comentário inocente sobre um ligeiro atraso menstrual, ele e a minha mãe entraram em pânico, obrigando-me a confessar aquilo que eu não tinha feito. Não sei se foi por me sentir ultrajada, se por gozo, se por maldade, remeti-me a um silêncio comprometedor. Sucedeu-se um interrogatório confrangedor, com a minha mãe a tentar pôr água na fervura e o meu irmão, histérico, cuidando em questionar os meus dotes mentais. E eu moita-carrasco. Voltou a serenidade àquela casa passados uns dias, quando, já saturada com o mau ambiente e os olhares furtivos que me eram dirigidos, lhes dei a notícia tão desejada por ambos – voltou-me o período. A partir daí o meu irmão reformulou a sua posição quanto aos “galifões”. Talvez tivesse concluído, que uma vez iniciada, de nada lhe serviam agora desaprovações e que o melhor era prevenir males maiores - consulta de ginecologia - arriscou ao jantar, consultando a reacção da minha mãe. A minha mãe ainda sugeriu o Dr. Pega, mas concordou que para o efeito o melhor era mesmo “uma” ginecologista.
A minha primeira visita a “uma” ginecologista também dava uma história assaz curiosa. Ficará, quem sabe, para outra altura. O meu irmão casou, eu cresci e a nossa relação ganhou contornos de intimidade que se distanciaram definitivamente dos princípios conservadores e paternalistas exercidos na educação da irmã adolescente. Assim, quando fui para a faculdade, fez questão em dizer-me, com um sorriso matreiro – homens casados e namorados a mais de quinze quilómetros, nunca. Olhei-o com ternura e lembrei-me do pai. O que diria o pai se ali estivesse? Acrescentaria “colegas de trabalho”? Nunca saberei, mas agrada-me pôr estas palavras na boca do meu pai, em jeito de prenúncio.
- Homens casados, colegas de trabalho e namorados a mais de quinze quilómetros, são de evitar.
Boas minhocas
Quando saí de casa, o meu irmão mais velho, nas suas recomendações, limitou-se a desaconselhar-me homens casados e namorados com residência a mais de 15 quilómetros. Ri-me dele, percebendo-lhe a ironia. Tinha ganho muito cedo a árdua tarefa de substituir o nosso pai, assumindo por inteiro, ainda que por intuição, o estatuto de educador e a tarefa ingrata de me proteger dos “galifões”, designação que ele dava aos meus namoraditos impúberes, que ele, convicto do seu papel paternal e já conhecedor das angústias do corpo, desaprovava sistematicamente - não estão à tua altura - dizia ele, mais preocupado que a irmã, a despertar sexualidade por tudo quanto era poro, o presenteasse com um sobrinho precoce, do que propriamente com a qualidade moral dos meus pretendentes, ou dos meus pretendidos!
Tivemos muitas desavenças, por causa daquele medo latente. Lembro-me que por essa altura, a propósito de um comentário inocente sobre um ligeiro atraso menstrual, ele e a minha mãe entraram em pânico, obrigando-me a confessar aquilo que eu não tinha feito. Não sei se foi por me sentir ultrajada, se por gozo, se por maldade, remeti-me a um silêncio comprometedor. Sucedeu-se um interrogatório confrangedor, com a minha mãe a tentar pôr água na fervura e o meu irmão, histérico, cuidando em questionar os meus dotes mentais. E eu moita-carrasco. Voltou a serenidade àquela casa passados uns dias, quando, já saturada com o mau ambiente e os olhares furtivos que me eram dirigidos, lhes dei a notícia tão desejada por ambos – voltou-me o período. A partir daí o meu irmão reformulou a sua posição quanto aos “galifões”. Talvez tivesse concluído, que uma vez iniciada, de nada lhe serviam agora desaprovações e que o melhor era prevenir males maiores - consulta de ginecologia - arriscou ao jantar, consultando a reacção da minha mãe. A minha mãe ainda sugeriu o Dr. Pega, mas concordou que para o efeito o melhor era mesmo “uma” ginecologista.
A minha primeira visita a “uma” ginecologista também dava uma história assaz curiosa. Ficará, quem sabe, para outra altura. O meu irmão casou, eu cresci e a nossa relação ganhou contornos de intimidade que se distanciaram definitivamente dos princípios conservadores e paternalistas exercidos na educação da irmã adolescente. Assim, quando fui para a faculdade, fez questão em dizer-me, com um sorriso matreiro – homens casados e namorados a mais de quinze quilómetros, nunca. Olhei-o com ternura e lembrei-me do pai. O que diria o pai se ali estivesse? Acrescentaria “colegas de trabalho”? Nunca saberei, mas agrada-me pôr estas palavras na boca do meu pai, em jeito de prenúncio.
- Homens casados, colegas de trabalho e namorados a mais de quinze quilómetros, são de evitar.
Boas minhocas
PS: Para quem o título desta bicada não fizer qualquer sentido, recomendo a leitura, pela ordem indicada, das seguintes bicadas:
2ª Mexericos
10 comentários:
Ai achadiça, achadiça!...
Cingab
ai Cristalinda, Cristalinda...
Esta bicada, embora tenha sido posta por mim, é da Cristalinda. É que ela ainda não tem acesso ao servidor...
ok, seja então!
temos estoria.
Bem vindo ao Mulherio António. Mantenha o convívio aqui com as galinhas que elas bem precisadas andam...
Boas bicadas
Espero que... Homens casados, colegas de trabalho e namorados a mais de quinze quilómetros,se tenha0 evitado...(em tom de brincadeira)
Gostei muito deste post...mesmo !
Tenho a "porta" do meu blogue aberta para vós...apareçam!
Beijinhoss !!
Olá Cristalinda. Pelos vistos vamos mesmo ter romance. E deixe que lhe diga já li romances publicados e com tiragem significativa cuja escrita fica muito aquém da sua. Gosto de a ler.
Cumprimentos
Olá a todos
Tenho andado um pouco afastada dos comentários porque, segundo a Achadiça, não estavam asseguradas as condições para a preservação da privacidade das galinhas. Parece que havia buracos na rede da capoeira. Tapados os buracos(?)cá estou eu para agradecer, não só os vossos comentários, como a ajuda prestimosa que se prontificaram oferecer na protecção destas galinhas info-excluídas.
A todos um grande abraço e boas minhocas
olá, mulherio.
Apesar de visitante, aparentemente desleixada, do vosso blogue, é sempre um imenso prazer consultar-vos.
Então, o mexerico da semana são as fantasias românticas da Cristalinda?
Achei interessante a estória do homem da pizza. Até parece que se inspirou no teor romântico do, também interessante, quimera azul e lhe deu um tom mais maduro, esconjurando nessa ficção literária as suas próprias fantasias.
E, por falar de mexericos, se o afastamento da Cristalinda ultimamente se devesse, não a receios quanto a confidencialidades blogueiras, mas a quimeras pessoais bem menos confessáveis, com pizza ou não?
Olá Rosalinda, estava aqui tão para trás o seu comentário, que só por acaso dei com ele...
Lá nos vai brindando com as suas visitas e com os seus comentários... sempre bem vindos. Obrigada.
Quanto às insinuações posso dizer-lhe que, decididamente, não gosto de pizza, quanto ao resto, sou adepta incondicional, não constituindo porém, tal circunstância, impedimento à minha humilde participação no Mulherio. Entre o vaivém do “meu homem da pizza” lá vou arranjando tempo para bicar umas minhocas.
Deduzo que a referência à nossa pintainha Catarina, resultou de uma leitura ao berloque dela. Muito jeitosinha a nossa menina não é? E olhe que é bem novinha. Auguro-lhe um futuro brilhante.
Para quando um daqueles textos fabulosos que a Rosalinda teve a amabilidade de nos dar a provar? Aguardo notícias.
Boas minhocas
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