Este e-mail foi objecto de resposta, a qual só será publicada no berloque se a destinatária assim autorizar.
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Ex.mas galinhas:
Eu pouco entendo destas coisas de blogues, e ainda menos de berloques, mas fui ‘arrastada’ inadvertidamente para a vossa chocadeira, circunstância que me deixou e deixa absolutamente perplexa.
Primeiro, porque ‘berloques’ me faz lembrar uma tia minha, solteirona por azar, que compensava a falta de obrigações e trabalhos domésticos, enfeitando-se com os mais extravagantes colares, pulseiras e anéis, e pintando-se de todas as cores, chocando a moral local não só pelo avançado das modas, como pelo despropósito do gesto, uma vez que candidatos era o que não havia por lá. «Berloques», dizia o meu pai, referindo-se a tanto enfeite, «só entende de chocalhos, um caso perdido», rematava ele, para quem tudo isso era apenas um modo de disfarçar o fracasso que a remetera para a solidão da auto-satisfação culposa.
Depois, tratando-se de ‘galinhas’, isto é, de mulheres que supostamente brincam com o que efectivamente são, ou se trata de galinhas muito pouco galinhas, e então a anunciada emancipação já a fizeram as meninas, manifestando-a no ostensivo acto de se auto-intitularem como tal; ou então não são galinhas, mas gostavam muito de o ser e, nesse caso, andam a brincar connosco, nós, as verdadeiras galinhas, as galinhas realmente oprimidas.
É claro que acredito na primeira hipótese e que o vosso blogue, além da ironia e da imaginação, também tenha a inteligência de estar ao serviço do equilíbrio da capoeira, se bem que duvide um pouco, desculpem lá a franqueza, do desempenho dos machos, vossos maridos. Então, onde estão os rostos das realmente queixosas? Mas estão perdoadas, uma galinha que se preze não lava roupa suja no adro da igreja e, em última instância, defende sempre a honra do seu macho.
Por outro lado, confesso que senti uma tal cumplicidade entre estas três galinhas que cheguei a colocar a perversa possibilidade de todo este movimento não esconder uma estranha poesia de Lesbos, o que também seria numa forma de libertação, mas não de emancipação. E mais uma vez me lembro da minha tia, cheia de berloques a dar a volta à frustração com uma machona sua amiga, cuja amizade desmedida era a forma de a minha tia sentir que tinha ficado solteira não por lhe terem faltado pretendentes, mas por no fundo nunca ter gostado deles. E se aquilo era só amizade, não sei. Emancipação não era de certeza, senão tê-lo-íamos sabido logo, malgré o escândalo que seria.
Independentemente do que sejam, quem sejam ou como sejam, não vos reconheço qualquer legitimidade para se auto-titularem representantes da mulheres de Canas de Senhorim. Embora vos reconheça inteligência e espirituosidade, não encontro, no vosso berloque, qualquer abordagem pertinente sobre os verdadeiros problemas das mulheres em geral e das canenses em particular. Como canense e mulher sugiro-vos que reconsiderem o formato e o conteúdo do vosso blogue, pois parece-me que desta forma não alcançarão a adesão solicitada, se porventura a pretendem, como insinuam.
Canas de Senhorim, 15 de Setembro de 2006
Uma leitora
3 comentários:
Quem diria!!! :S
Cumprimentos
Diga-me lá, Sr Fulano, o que é que fazemos a esta conterrânea (nós achamos que ela é uma brincalhona... é uma pena ela não se solidarizar cá com a galinhagem), até nos ocorreu que poderia se a nossa querida desaparecida Dona da Prima... mas não me parece. Também não se digna a responder ao nosso e-mail, o que, por uma questão de boa educação, nos levou a reiterar o pedido de autorização para tornar pública a nossa resposta. Ficamos a aguardar novos desenvolvimentos.
Cara Achadiça.
Ignoro.
O melhor será, talvez, não fazer nada não vá o melindre aumentar. :P
Cumprimentos
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