Tenho saudades daquelas bolas de sardinha que a minha mãe, em dia de forno comunitário, trazia ainda quentes para casa. A côdea estaladiça e generosa, cedia a cada dentada o acesso à massa de milho que, impregnada pela gordura das sardinhas, me estimulava a avidez do paladar.
Depois, com cuidado redobrado, não fossem as sardinhas escaparem-se da massa, aplicava-me em malabarismos de língua para evitar que molho e sardinhas se alojassem no vestido, descuidos que merendas anteriores já me tinham custado raspanetes dispensáveis. Mas o processo não era fácil. A bola fervia no seu interior e a sofreguidão com que me entregava àquele pecado queimava-me invariavelmente lábios, língua, céu-da-boca e outros interstícios vulneráveis.
Lembro-me que o meu pai, rendido pelos encantos da sua “piquena” nestas volúpias da gula, me recomendava carinhosamente outras maneiras. Mas eu bem o via a reprimir gargalhadas, deliciado com as minhas travessuras e os meus palavrões permitidos. Algo como chiça, pôcha que tá quente!
Com o passar do tempo os fornos a lenha deram lugar a boutiques de pão e a outros dissabores. A bola de sardinha já só me chega envolta em memórias de infância, vagamente misturada com o aroma a água-de-colónia do meu pai. O meu pai que não viu a sua “piquena” crescer. O meu pai que deixou indelével a minha vontade de amar todos os homens como dele se tratassem. O meu pai continuamente colado à sua menina, cúmplice das suas fantasias e gulodices, envolto no sabor de uma bola de sardinhas.
B~~
Depois, com cuidado redobrado, não fossem as sardinhas escaparem-se da massa, aplicava-me em malabarismos de língua para evitar que molho e sardinhas se alojassem no vestido, descuidos que merendas anteriores já me tinham custado raspanetes dispensáveis. Mas o processo não era fácil. A bola fervia no seu interior e a sofreguidão com que me entregava àquele pecado queimava-me invariavelmente lábios, língua, céu-da-boca e outros interstícios vulneráveis.
Lembro-me que o meu pai, rendido pelos encantos da sua “piquena” nestas volúpias da gula, me recomendava carinhosamente outras maneiras. Mas eu bem o via a reprimir gargalhadas, deliciado com as minhas travessuras e os meus palavrões permitidos. Algo como chiça, pôcha que tá quente!
Com o passar do tempo os fornos a lenha deram lugar a boutiques de pão e a outros dissabores. A bola de sardinha já só me chega envolta em memórias de infância, vagamente misturada com o aroma a água-de-colónia do meu pai. O meu pai que não viu a sua “piquena” crescer. O meu pai que deixou indelével a minha vontade de amar todos os homens como dele se tratassem. O meu pai continuamente colado à sua menina, cúmplice das suas fantasias e gulodices, envolto no sabor de uma bola de sardinhas.
B~~
2 comentários:
Bem aparecida Cristalinda. Já acabaram as vacances? Nem uma foto para mais tarde recordar(mos).
Também eu me lembro dessas bolas de sardinha e de bacalhau e cebola. Deliciosas. Será que alguém ainda as faz? Em forno a lenha como manda a tradição? O que eu pagava para comer uma. Era capaz de ser boa ideia um forno desses na Feira Medieval. Com essas e iutras iguarias a confeccionar no momento.
boas,
prefiro bola de bacalhau
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