quarta-feira, maio 10, 2006

Acta n.º 1


Aos dias 6 e 7 de Maio de 2006, reuniram em casa da Cristalinda, a própria, a Achadiça e a Riça, com a finalidade de constituirem formalmente o MRMCS (Movimento Reivindicativo do Mulherio de Canas de Senhorim).
Para o efeito a ordem de trabalhos era a seguinte:

- Constituição da comissão política;
- Constituição dos estatutos;
- atribuição dos cargos: Nomeação da presidente do Movimento;
- elaboração de “O Manifesto”
- plano de acção;
- outros assuntos, eventualmente domésticos.

Passados os trinta minutos regulamentares, e não se tendo verificado a presença de outras interessadas, o grupo inicial, composto pelas três galinhas já referidas, deu início à ordem de trabalhos, começando por discutir a constituição da comissão política responsável pela definição e redacção dos estatutos e restantes tarefas que a constituição de um movimento com esta envergadura exige.

A Cristalinda lembrou que antes de estruturar o Movimento urgia responder à nossa querida amiga Donadaprima, que delicadamente declinou o convite para presidir ao Movimento, mas que por manifesta solidariedade se disponibilizou para outras tarefas. Assim, foi redigida uma resposta cujo teor é o seguinte:


Ex.ma Dona da Prima
Cara amiga, reconheçemos-lhe o direito de escusa relativamente à presidência do MRMCS. Porém, não podemos deixar de discordar dos argumentos apresentados. A nossa questão não se prende com a prestação individual de cada macho per si. O facto de o seu Galaró ser de préstimo considerável não resolve o problema emergente da falta de qualificação dos demais nem o desconsolo das respectivas companheiras. O nosso objectivo é de âmbito comunitário e pretende colorir a totalidade deste galinheiro de prazenteirice. O que está aqui em jogo é a causa pública e nesse contexto o problema dos outros e das outras reflecte-se em nós, independentemente da folia que reina em cada poleiro. Compreendemos a sua indisponibilidade para tão controverso cargo dadas as repercussões sociais que daí podem advir. Já estamos a imaginar a populaça - olha a presidente do Movimento do Mulherio, a Doana da Prima, a mal amada mor! - não a julgamos mal e assiste-lhe todo o direito de preservar a sua vida privada.
Congratulamo-nos com a sensibilidade demonstrada a esta causa e estamos a considerar qual o melhor cargo ou forma de contributo a propor-lhe por forma a não comprometer a dignidade da Dona da Prima nem o brio do seu Galaró.

B:»


Retomou-se então a ordem de trabalhos e uma vez que as tarefas são muitas e a força de trabalho presente se verificava apenas pela presença de três corajosas galinhas, o conselho deliberou passar à frente questões já sobejamente enfatizadas e começar por arregaçar as penas e acumular democraticamente as diversas tarefas a desempenhar. Assim, foi deliberado o seguinte:

- Achadissa - por ter sido a primeira a dar voz ao desconsolo generalizado das galinhas- porta-voz e ralações públicas do movimento;

- Riça - dada a erudição e sensatez de que já deu provas e, por motivos de saúde, incapacitada para cargos operacionais – presidente da comissão ética ( é claro que acreditamos engrossar o número das nossas vozes e por isso acreditamos que ela venha a presidir a uma vasta comissão representativa de todas as tendências e interesses das galinhas).

- Cristalinda – por gostar de jogos de palavras e de palavras de ordem – responsável pela redacção das propostas de estatutos, manifesto e plano de acção do movimento a discutir na próxima reunião do conselho que, esperamos, seja mais participada do que esta. Além de ‘ideóloga’, acumulará ainda a responsabilidade pela coordenação operacional, armada ou não, assim como, a direcção do sector de propaganda política.

Passando ao ponto dois da ordem de trabalhos, a discussão acentuou-se: sem um rosto, um movimento não tem identidade, já dizia Lapalisse. Perante a recusa da amiga Donadaprima, aliás perfeitamente compreensível, em dar a crista ao manifesto, ficámos com um problema de rosto. Levantou-se, claro, a questão do avatar e, logo, os olhares se concentraram na nossa bela achadiça. Mas a Cristalinda objectou considerando que tal escolha padecia da influência subliminar do partido inimigo que, infiltrado sob a forma de um certo cingab, pretendia minar o movimento, desviando a atenção das galinhas para assuntos triviais, e como tal inofensivos, de natureza estética dúbia, como dúbia é a máscara preta e branca de palhaço triste, apesar de rico, quer é como quem diz – com um olho chora, com o outro repenica. Enfim o clássico finório que se introduz na história para intrigar interesses entre fortes e fracos e ficar a rir no fim. Muito teatral, digamos.
A Achadiça pediu, então a palavra, insurgindo-se contra as insinuações da Cristalinda, alegando que das visitas do amigo Cingab à capoeira não se pode extrair tal ilação, na medida em que as suas bicadas foram sempre de solidariedade e que embora sóbrias e comedidas, não deixaram de constituir indícios favoráveis à nossa causa. A Riça, no seu papel de ponderada oficial do movimento chamou a atenção das presentes para a necessidade de não deixar descambar o diálogo para galinhices, reintroduzindo a pertinência da ordem de trabalhos.

A Riça sugeriu, dado o adiantado da hora e a divergência de posições quanto à questão da presidência, que a reunião fosse adiada e que a respectiva ordem de trabalhos fosse retomada dia 13 de Maio, pelas 22H00.

Canas de Senhorim (Figueira do Leite), 7 de Maio de 2006

A Comissão Instaladora do MRMCS
(assinaturas irreconhecíveis)

3 comentários: