Doidas não. Atormentadas. De tal forma que começámos a questionar se esta corporose que nos sobressalta não poderá ser algum efeito não documentado da tão falada gripe das aves. Que não, pois este estado de corpo já se manifestava antes da ocorrência do primeiro caso detectado e que os vírus, sejam eles quais forem, não destrinçam géneros, caso contrário, então também já tinha afectado os machos. Ora, a avaliar pelos sintomas, neste particular, pela ausência deles, nada indica que os galos andem arregalados de apetite, muito pelo contrário, bicam uns com os outros noite dentro, tarde fora, fim de semana sim, fim de semana sim, num egoísmo confrangedor, e quando chega a hora da verdade lá vêem as lamentações habituais: ele é o orçamento atribuído ao galinheiro, ele é a rádio que já cantou pra nós e que agora canta pra outros e ningém sabe onde pára o dinheiro, e quem diz a rádio diz o grupo de teatro e o canto e encanto que agora também encantam outros, ele é o líder que anda amanhado com a perua, ele é o pavão que não esgravatou a assinatura onde devia, ele é os semáforos, as rotundas, as passadeiras, os passeios, os de berma e os outros a Lisboa, o Elefante Branco, o cereja que ninguém sabe quem é, o padre Ilídio que bem podia ser o cereja, o cereja que deixou de o ser, o artista, as listas, a junta e os juntistas, o movimento e os movimentistas, o lamentável concubinato destes – os jumentistas, os traidores, os neo-traidores, os separatistas, os radicais, uma tal de iluminária, os jantares de leitão, uns que vão outros que não, ele é a linha editorial do jornal, a Ana que até é boa pessoa mas só deixa bicar como e quem ela quer, o comandante que não devia ter telemóvel atribuído… “Parou. Parou que o nosso comandante não é para aqui chamado”, interrompeu abruptamente a minha amiga L., a que tem um fraco por bombeiros e uma paixão platónica pelo comandante, desde que ele, num delírio de adolescência lhe chamuscou o coração com um soneto da Florbela, aquele das Árvores! Corações, almas que choram,/ Almas iguais à minha, almas que imploram/Em vão remédio para tanta mágoa!/ Árvores! Não choreis! Olhai e vede:/ Também ando a gritar, morta de sede,/ Pedindo a Deus a minha gota de água!. Adiante, já estou a ser inconfidente…pois à minha amiga L. não agradou tal alusão ao comandante e vai daí tratou de desmontar imediatamente estas hipotéticas congeminações e mudar de assunto.
- Minhas amigas essas preocupações que eles alegam são meros pretextos para fugir com o rabo à seringa, que é como quem diz, neste caso, fugir com a seringa ao rabo. Só vejo duas soluções para o nosso caso. Greve. Boicote absoluto, na cama e na mesa…
- Isso não é boa ideia. Vamos tornar o pouco em nada para obtermos algum? Isso parece-me inspirado na estratégia do movimento e vê lá no desconcerto que deu…um desconcelho, foi o que foi – afirmou a galinha M. que há bem pouco tempo perdeu umas quantas penas na encarniçada resistência à venda de uns quantos bidões de ração, que embora imprópria para consumo, era uma arma considerável para fazer valer as nossas razões, tivéssemos nós o conhecimento e a tecnologia para a aproveitar. Desde então M. sentia-se no direito de opinar sobre todas as questões e era convidada frequentemente a expor a cremalheira perante as câmaras, com honras de notícia de telejornal, prova viva e irrefutável dos malefícios da controversa ração - para além disso o meu J. gosta de fazer aquilo em cima da mesa da sala e até já houve uma vez que o carteiro.…
- Ó M. poupa-nos, quando digo boicote na mesa estou a referir-me a comidinha, chop-chop, deixamos de fazer o almocinho, o jantarinho e vamos ver se eles não piam mais grosso…não estou a falar desses malabarismos a que tu te prestas com o teu J., com o carteiro e com tudo o que mexe lá na rua.
- Mas…
- Nem mas nem meio mas. Quem não trabuca não manduca. Achadiça, como é?
- Não laboram com destreza não comem na cama e na mesa.
Vamos lá laborar que as galinhas estão-se a passar
Boas bicadas
- Minhas amigas essas preocupações que eles alegam são meros pretextos para fugir com o rabo à seringa, que é como quem diz, neste caso, fugir com a seringa ao rabo. Só vejo duas soluções para o nosso caso. Greve. Boicote absoluto, na cama e na mesa…
- Isso não é boa ideia. Vamos tornar o pouco em nada para obtermos algum? Isso parece-me inspirado na estratégia do movimento e vê lá no desconcerto que deu…um desconcelho, foi o que foi – afirmou a galinha M. que há bem pouco tempo perdeu umas quantas penas na encarniçada resistência à venda de uns quantos bidões de ração, que embora imprópria para consumo, era uma arma considerável para fazer valer as nossas razões, tivéssemos nós o conhecimento e a tecnologia para a aproveitar. Desde então M. sentia-se no direito de opinar sobre todas as questões e era convidada frequentemente a expor a cremalheira perante as câmaras, com honras de notícia de telejornal, prova viva e irrefutável dos malefícios da controversa ração - para além disso o meu J. gosta de fazer aquilo em cima da mesa da sala e até já houve uma vez que o carteiro.…
- Ó M. poupa-nos, quando digo boicote na mesa estou a referir-me a comidinha, chop-chop, deixamos de fazer o almocinho, o jantarinho e vamos ver se eles não piam mais grosso…não estou a falar desses malabarismos a que tu te prestas com o teu J., com o carteiro e com tudo o que mexe lá na rua.
- Mas…
- Nem mas nem meio mas. Quem não trabuca não manduca. Achadiça, como é?
- Não laboram com destreza não comem na cama e na mesa.
Vamos lá laborar que as galinhas estão-se a passar
Boas bicadas
3 comentários:
Ó Cingab, esse P é de pouco, parco, precoce, precipitado ou simplesmente preguiçoso?
Simplesmente não é um "P"!
O Avatar é bom, o prosa e excelente... Tentar ofender é que não é própro de uma senhora, mesmo que galinha e achadiça!...
galo cingab
Pedido público de desculpa
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