Na minha crónica anterior intitulada O Galinheiro contei-vos as aspirações dos meus companheiros e companheiras: Ambicionamos retomar a posse do Quintal e decidir o nosso próprio destino. Pesem embora as minhas reservas, foi constituído para esse efeito o MRQ (Movimento de Restauração do Quintal), liderado pelo galante Luísio.
O Quintal estende-se para lá do horizonte que a nossa aguçada visão alcança. Talvez pelo efeito de profundidade que a rede do galinheiro induz ou pela aspiração que a ele temos, imaginamo-lo franco e vasto, opinião que não é partilhada pela maioria dos locatários, que o consideram sua pertença e que o querem uno e indivisível, para dele tirarem proveito próprio. “Openspace”, como lhe chama o frango A., muito dado a anglicanismos, mesmo que incompreendido por alguns que preferem galicismos, não estivessem estes mais próximos da nossa condição de galináceos, simbolicamente associados a nobre e célebre galo, personagem emblemático desse fantástico país que popularizou o conceito de faca na goela, até então reservado à nossa espécie, e num gesto impar de sórdida solidariedade, inventou a guilhotina e democratizou o método.
O romântico desejo de tomar posse do Quintal honrava vontades ancestrais. Por capricho gastronómico, um tal de D. Sancho, senhor do território, em breve passagem por este capoeiro no ano de 1196, ousou provar umas tenras frangas nossas antepassadas, e como prova de satisfação e agrado por tais serviços, determinou “erguer marcos para sinal de coito” (assim consta da carta de coito que ratifica a criação das terras de Senhorym). Desde então, os nossos antepassados assumiram-se como legítimos senhores do Quintal e do coito.
Porém, com o advento da burguesia, requintaram-se os gostos e não houve peito ou coxas de galinha que evitassem a perda das regalias que o coito proporcionava. Destituído de coito e dos privilégios inerentes, este galinheiro nunca mais foi o mesmo e os seus habitantes, em angústia permanente, ganharam o epíteto de “coitados”. Há quem diga que essa perda teve repercussões na linhagem dos nossos avós e que a crise que a achadiça para aí apregoa é de origem genética: Afecta a prestação dos machos e desespera a receptividade das fêmeas. Embora esta teoria tenha alguma fundamentação empírica, não radica em qualquer estudo científico, pelo que não é reconhecido aos machos qualquer pretexto, desculpa ou justificação que aponte neste sentido.
Assim, por volta de 1866, uma nova ordem foi imposta e quem logrou com o facto foi um galinheiro aqui vizinho, que se apossou do Quintal, desenvolveu e modernizou a sua capoeira e submeteu a nossa população a uma escravidão doméstica, confinada, entre redes e taipais, ao vil desígnio da inveja e da cobiça.
Contudo, após 1974, imbuídos do espírito revolucionário que depôs o Galo Marcelo, e inspirados por desejos incontidos e comportamentos quixotescos, galos e galinhas, frangos e frangas, pitos e pitas, num assomo de amotinação, exigimos o coito de volta, fosse de que maneira fosse. O galo Minhosio, na altura ainda franganote, mas já esclarecido nestes levantamentos subversivos ditou a palavra de ordem - O coito unido jamais será interrompido - Atirámo-nos de bico afiado às redes que nos agrilhoavam, erguemos cristas e bandeiras, movemos moinhos, esgravatámos, esfuracámos, esvoaçámos, defecámos, mas não conseguimos alcançar o coito que tanto ansiávamos. Ansiávamos e ansiamos, porque a esperança aqui da galinhagem é renovada em cada canja onde não marcamos presença e nada nos demove deste merecido propósito.
Outras lutas de galos se projectam no longínquo horizonte do Quintal e que os losangos da rede da capoeira deixam entrever... Dessas contendas falarei noutra crónica.
Bons repenicos
O Quintal estende-se para lá do horizonte que a nossa aguçada visão alcança. Talvez pelo efeito de profundidade que a rede do galinheiro induz ou pela aspiração que a ele temos, imaginamo-lo franco e vasto, opinião que não é partilhada pela maioria dos locatários, que o consideram sua pertença e que o querem uno e indivisível, para dele tirarem proveito próprio. “Openspace”, como lhe chama o frango A., muito dado a anglicanismos, mesmo que incompreendido por alguns que preferem galicismos, não estivessem estes mais próximos da nossa condição de galináceos, simbolicamente associados a nobre e célebre galo, personagem emblemático desse fantástico país que popularizou o conceito de faca na goela, até então reservado à nossa espécie, e num gesto impar de sórdida solidariedade, inventou a guilhotina e democratizou o método.
O romântico desejo de tomar posse do Quintal honrava vontades ancestrais. Por capricho gastronómico, um tal de D. Sancho, senhor do território, em breve passagem por este capoeiro no ano de 1196, ousou provar umas tenras frangas nossas antepassadas, e como prova de satisfação e agrado por tais serviços, determinou “erguer marcos para sinal de coito” (assim consta da carta de coito que ratifica a criação das terras de Senhorym). Desde então, os nossos antepassados assumiram-se como legítimos senhores do Quintal e do coito.
Porém, com o advento da burguesia, requintaram-se os gostos e não houve peito ou coxas de galinha que evitassem a perda das regalias que o coito proporcionava. Destituído de coito e dos privilégios inerentes, este galinheiro nunca mais foi o mesmo e os seus habitantes, em angústia permanente, ganharam o epíteto de “coitados”. Há quem diga que essa perda teve repercussões na linhagem dos nossos avós e que a crise que a achadiça para aí apregoa é de origem genética: Afecta a prestação dos machos e desespera a receptividade das fêmeas. Embora esta teoria tenha alguma fundamentação empírica, não radica em qualquer estudo científico, pelo que não é reconhecido aos machos qualquer pretexto, desculpa ou justificação que aponte neste sentido.
Assim, por volta de 1866, uma nova ordem foi imposta e quem logrou com o facto foi um galinheiro aqui vizinho, que se apossou do Quintal, desenvolveu e modernizou a sua capoeira e submeteu a nossa população a uma escravidão doméstica, confinada, entre redes e taipais, ao vil desígnio da inveja e da cobiça.
Contudo, após 1974, imbuídos do espírito revolucionário que depôs o Galo Marcelo, e inspirados por desejos incontidos e comportamentos quixotescos, galos e galinhas, frangos e frangas, pitos e pitas, num assomo de amotinação, exigimos o coito de volta, fosse de que maneira fosse. O galo Minhosio, na altura ainda franganote, mas já esclarecido nestes levantamentos subversivos ditou a palavra de ordem - O coito unido jamais será interrompido - Atirámo-nos de bico afiado às redes que nos agrilhoavam, erguemos cristas e bandeiras, movemos moinhos, esgravatámos, esfuracámos, esvoaçámos, defecámos, mas não conseguimos alcançar o coito que tanto ansiávamos. Ansiávamos e ansiamos, porque a esperança aqui da galinhagem é renovada em cada canja onde não marcamos presença e nada nos demove deste merecido propósito.
Outras lutas de galos se projectam no longínquo horizonte do Quintal e que os losangos da rede da capoeira deixam entrever... Dessas contendas falarei noutra crónica.
Bons repenicos
22 comentários:
Imperdível a sua artística prosa e o seu blog!Parabéns!
Minha querida Riça, aprecio-lhe o jeito para cronista. Em breve terá notícias minhas.
Pronto Achadiça aqui me tens. Fiz tudo direitinho como me disseste e isto é um teste para verificar se estou com bom aspecto no avatar
Estás com óptimo aspecto. Não vejo uma única ruga... ó mulher tens que por o link que te enviei no teu perfil e salvá-lo. Se não conseguires amanhã ajudo-te.
As crónicas são boas, o Blog é bom, mas o avantar... xi patrão!...
Isto está bonito está. Já não chegava uma a reclamar agora temos um trio... já estou como o Cingab, venham daí os avatares.
Se precisarem de ajuda, técnica, não da outra, perguntem que eu tento ajudar.
Esqueci-me do mais importante. A crónica está espectacular. Parabéns
:D
Até anedotas já tem.
Parabens. hehehe.
Portugasuave
Obrigada pela disponibilidade em ajudar, mas o auxílio que urge é, como muito bem refere, de outro pelouro. Mas dessas incumbências tem a Achadiça dado recado. No entanto, é estranho declinar as suas responsabilidades nesse assunto, uma vez que recentemente deu provas de agrado relativamente ao repasto com que foi brindado (cabidela como deve estar lembrado). Se enjoou, desde já fica a promessa de outras iguarias apaladadas, na suposição de que é galo solteiro. Se é agalinhado então repenique abundantemente na sua galinha para que não venha engrossar o já volumoso rol de queixas que para aqui temos. Espero que não seja dos que acham que a galinha da vizinha é sempre melhor que a minha.
Volte sempre
aceito ajuda técnica para salvar o meu perfil. agradeço a amabilidade do portugasuave, não o assusta a febre das aves, pelos vistos, quantas mais galinhas, melhor.
Sr Fulano Tal
Os meus conhecimentos esgotam-se para cá da rede desta capoeira, que jaz inculta e arrefece, por mor da opressão de um certo peru que dominou O Quintal durante cerca de vinte plantações de milho. Na falta de recursos enciclopédicos modernos, agradeço que me elucide sobre o significado da abreviatura “:D” com que iniciou o seu comentário.
Volte sempre e bons repenicos
avantar! galo cingab
Avante camarada avante junta a tua à nossa voz. Também anda com o milho racionado, ou já não acerta com o bico onde é devido. Aponte lá a mira a preceito que isso é falta de jeito.
Boas bicadas
@achadiça,
Galo de pescoço pelado!...
è pá... Mas o avatar!...
Não como milho (nem pipocas)
Não ando com a comida racionada, embora devesse por causa do colesterol!
Não é falte de jeito, é mesmo receio de levar uma picada de algum garnizé, de uma galinh mais acalorada ou do H5N1!..
Não se intimide cingab, os garnisés andam ocupados nas questiúnculas que o meu amigo arranja. Agitam-se entusiasmados a propósito das suas provocações e distraidamente espavoneiam-se em bicadas supostamente sapientes. Coitados deles e de nós que à sapiência não aspiramos. O mais que desejamos alcançar é mesmo afagos e requebros. Será sempre protegido nas suas aproximações... asseguro-lhe que as suas preocupações são infundadas. Somos vistoriadas mensal(mente) até aos miúdos. Endoscopias, cólon-escopias, radio-escopias, táques, ressonâncias e outros exames impronunciáveis estão na proporção inversa do almejado milho. Esse sim a verdadeira razão da nossa corporose. Encorpore-se ou avate-se e traga os amigos. Terão sempre uma asa amiga onde descansar os vossos penares.
Boas bicadas
Riça, perdão :Chiça que a galinha estava mesmo inspirada!
De coitados é que não temos nada!
obrigada portugasuave, mas entretanto consegui salvar o meu perfil. espero que goste e não desista de ser simpático.
Podem cacarejar como quizerem... mas o avatar da @Achadiça... Genial... Simplesmente genial
V. Ex.as sabem do que é que eu estou a falar! :P
Cumprimentos
Sr. Fulano Tal
Juro-lhe pela saúde dos pintainhos meus sobrinhos que não sei o que quer dizer ":D" ou ":P". Iniciei-me recentemente nestas andanças a convite da Achadiça. No meu tempo de estudante as abreviaturas eram outras - do género: dg-m sff asap o q é :D e :P
Bons repenicos
Cara Galinha Riça
Visto V. Ex.ª possuir tenros sobrinhos, suponho que eles estarão em melhores condições de lhe satisfazer tão legítima curiosidade.
Cumprimentos e boas bicadas
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