Rita conheceu e apaixonou-se pelo Vasco. Encontraram-se a meio caminho, entre a urbanidade desencantada dela e o apelo rural dele.
Ele, Beirão de nascença, espreguiçava da boémia parisiense e dos prazeres mundanos com que preencheu a vida, acalentando vagamente o retorno às origens na companhia desta paixão tardia, convicto que a felicidade pode bem ser uma casinha pequenina onde se possa amar com bonomia. Homem experimentado, inteligente e espirituoso não se deixou intimidar pela responsabilidade que implicava assumir aquela paixão e, reflectidamente, terminou a relação gasta com a sua ex-mulher, para se entregar de corpo e alma a esta outra, mesmo que consciente do quão imprevisíveis eram os caminhos deste amor e da volatilidade caprichosa da Rita.
Ela abraçou a vida aos trinta e tal com o mesmo ímpeto que abraçou a droga aos catorze. É possessiva e de paixões desenfreadas; tudo ou nada - no meio não tenho virtude nenhuma - diz ela, insinuando o gesto obsceno, reminiscência de deambulações pelo Casal Ventoso – tenho ânsias de viver que me turvam a razão… e depois? Egoísta eu! Apanhei a último vagão do comboio da vida, mereço-o todo… tenho pressa de viver que a vida é água a correr, venho do fundo do tempo, não tenho tempo a perder. Sem licença! Sem licença, sem licença quero passar, trago boca p’ra comer e olhos para desejar – aqui, ao poema do Gedeão, acrescenta a respectiva música e eu, deleitada com a sua avidez, aquiesço com um sorriso complacente.
Vasco fez projectos, galgou quilómetros, apoiou, deu, deu-se. Rita porém, na sua busca de vida, brincava com o homem que elegera amar. As traições, embora inconsequentes, sucediam-se e, ainda que Vasco as desvalorizasse com a compreensão de homem mais velho, quase paternal, a sua complacência ameaçava esgotar-se perante a temeridade e o estouvamento dela. Várias rupturas e outras tantas reconciliações ocorreram nestes seis anos de relação. Os amigos habituaram-se aos desencontros cíclicos do casal e deixaram de questionar aquele amor, aceitando aquela realidade com a naturalidade possível. Eu, expectante, mas crente na paixão dos dois, aplacava queixas e inconformismos mútuos próprios de quem ainda se quer, enternecida pelos tropeções daquele namoro que rapidamente assumiu contornos de normalidade aos nossos olhos, mesmo que invulgar ao olhar alheio.
Ele, Beirão de nascença, espreguiçava da boémia parisiense e dos prazeres mundanos com que preencheu a vida, acalentando vagamente o retorno às origens na companhia desta paixão tardia, convicto que a felicidade pode bem ser uma casinha pequenina onde se possa amar com bonomia. Homem experimentado, inteligente e espirituoso não se deixou intimidar pela responsabilidade que implicava assumir aquela paixão e, reflectidamente, terminou a relação gasta com a sua ex-mulher, para se entregar de corpo e alma a esta outra, mesmo que consciente do quão imprevisíveis eram os caminhos deste amor e da volatilidade caprichosa da Rita.
Ela abraçou a vida aos trinta e tal com o mesmo ímpeto que abraçou a droga aos catorze. É possessiva e de paixões desenfreadas; tudo ou nada - no meio não tenho virtude nenhuma - diz ela, insinuando o gesto obsceno, reminiscência de deambulações pelo Casal Ventoso – tenho ânsias de viver que me turvam a razão… e depois? Egoísta eu! Apanhei a último vagão do comboio da vida, mereço-o todo… tenho pressa de viver que a vida é água a correr, venho do fundo do tempo, não tenho tempo a perder. Sem licença! Sem licença, sem licença quero passar, trago boca p’ra comer e olhos para desejar – aqui, ao poema do Gedeão, acrescenta a respectiva música e eu, deleitada com a sua avidez, aquiesço com um sorriso complacente.
Vasco fez projectos, galgou quilómetros, apoiou, deu, deu-se. Rita porém, na sua busca de vida, brincava com o homem que elegera amar. As traições, embora inconsequentes, sucediam-se e, ainda que Vasco as desvalorizasse com a compreensão de homem mais velho, quase paternal, a sua complacência ameaçava esgotar-se perante a temeridade e o estouvamento dela. Várias rupturas e outras tantas reconciliações ocorreram nestes seis anos de relação. Os amigos habituaram-se aos desencontros cíclicos do casal e deixaram de questionar aquele amor, aceitando aquela realidade com a naturalidade possível. Eu, expectante, mas crente na paixão dos dois, aplacava queixas e inconformismos mútuos próprios de quem ainda se quer, enternecida pelos tropeções daquele namoro que rapidamente assumiu contornos de normalidade aos nossos olhos, mesmo que invulgar ao olhar alheio.
(continua)
1 comentário:
Já não me lembrava desse poema do Gedeão. Acho que era cantado pelo Samuel (o que será feito dessa alma). Mas o poema é fantástico...alias como todos os do Gedeão. A história é verdadeira ou é ficção? Isto é uma pergunta estúpida, mas se for verdadeira a sua amiga, independentemente dos desvarios, deve ser uma pessoa interessante de conhecer... não de amar, pelos vistos.
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