sábado, fevereiro 16, 2008

Cenas


Cena 1
Vi-te entrar sorridente. Engoli em seco. Atrás de ti a sombra inseparável da tua namorada, zelosa e submissa. É bonita a tua namorada.
Viste-me. O teu sorriso abriu-se um pouco mais. Abraçaste-me e beijaste-me efusivo. Correspondi. Cumprimentei a tua namorada e notei nela um certo mau estar. Estava bem de ver, contaste-lhe! Essa cabecinha de vento nunca soube avaliar inconveniências.

Cena 2
Não foi preciso muito para que à tua volta se juntasse um grupo de convivas. Tens esse encanto, atrais as pessoas, há algo irresistível no teu olhar, uma irreverência sedutora no teu discurso, um humor refinado e oportuno.
Fiquei por ali, nem tão perto que demonstrasse um interesse especial, nem tão distante que me privasse de te ver e ouvir. Falavas arrebatadamente sobre o desnorte deste governo e no ping-pong do futuro aeroporto de Lisboa.
Sentia o incómodo da tua namorada, que de tempos a tempos não resistia em olhar-me. Media-me, provavelmente comparava bustos e outras redondezas. O pouco que encontrava ainda a deixava mais desconcertada. Pior que ser encornada é ser encornada por uma mulher feia, devem pensar as belas.

Cena 3
Envio-te uma mensagem, não te envio uma mensagem? Interrogava-me, receosa que, despassarado como és, desses nas vistas quando a recebesses. Quero lá saber, hoje apetece-me ser putinha.
Click, mensagens, criar mensagem, apeteces-me vou para casa tens duas horas para aparecer, enviar mensagem, mensagem enviada com sucesso.
Aguardo. Desloquei-me de forma a poder ver-te. Levas a mão ao bolso e ainda antes de leres a mensagem apercebes-te que é minha. Procuras-me pela sala. Vês-me e sorris descaradamente. És mesmo bronco.
Visto o casaco, despeço-me e saio.

Cena 4
Ateio a lareira. Não respondeste à mensagem, mas isso não quer dizer nada, és deliciosamente imprevisível. Coloco uma garrafa junto ao lume para o vinho ficar mais espirituoso. Ligo a net, dou uma vista de olhos pelo “Mulherio”, nada de novo. Às vezes apetece-me dizer-te que sou a Cristalinda. Abro o Word e começo a escrever este texto. Não sei como acaba, mas pelo sim pelo não, fechei o cão na arrecadação.

6 comentários:

Anónimo disse...

Atenção, essas coisa, dor de corno, não são bonitas.
Coitada da piquena, a querer mostrar a sua conquista e encontra a concorrência.
Estou curioso.
Como serão as próximas cenas ?
Já agora, qual a razão de fechar o fiel amigo ? tem medo que seja mordido, é ?
Para terminar, o acto de colocar a garrafa junto do calor diz-se "chambrear"; as coisas, quase todas, com um pouco mais de calor sempre sabem melhor

Unknown disse...

O príncipe, a cabra e o cão, este primeiro acto também se podia chamar assim.

Cristalinda disse...

Méééééééé...

Anónimo disse...

EEEEÉ biiiiicha !!!!!

PortugaSuave disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
PortugaSuave disse...

- Tu é que estás com cenas...
- Não, tu é que estás com cenas.
- Eu com cenas! Tu é que estás com cenas.
- Não não, tu é que estás, daaaaa...