Impera um silêncio generalizado por estas bandas. Eu, por hábito e rigor profissionais, preciso de factos devidamente comprovados para exercer o mister que assumi aqui no Mulherio. No entanto, ultimamente, só algum juízo especulativo torna possível manter estas crónicas.
O pacto de silêncio entre a “presidente de lá” e o “presidente de cá” a que serenamente vamos assistindo foi tacitamente acordado depois de salvaguardadas duas cláusulas fundamentais na relação entre ambos e que basicamente determinam: eu vou fazendo, tu calas.
Não pensem que a assinatura deste pacto foi pacífica. O nosso presidente, intrépido como ele é, não é homem para ficar calado, muito menos a rogo de mulher. Reconhecendo que este acordo, baseado no silêncio e condicionado pela expressão vaga constante no documento “eu vou fazendo” não vinculava a presidente a qualquer compromisso tangível, exigiu que lhe fossem dadas garantias de que efectivamente o seu silêncio teria como contrapartida obra feita e da grande. Nada de passeios, rotundas, lâmpadas ou alcatrão. Queria algo que calasse não unicamente a sua pessoa mas que embasbacasse definitivamente os canenses. Era este o preço do silêncio.
Os preâmbulos do acordo foram diligenciados pelo gabinete jurídico da presidente que, susceptível à exigência do autarca, solicitou que este elaborasse um memorando com os grandes objectivos que ele tinha em mente para a sua freguesia. Seriam devidamente avaliados e por certo alcançar-se-ia um acordo favorável para ambas as partes.
Não levantou grande dificuldade enumerar as grandes obras e os projectos que o presidente ambicionava para Canas. A saber:
- Uma central de biomassa (em alternativa uma central atómica).
- O aeroporto, previsto para a OTA, a implementar entre Canas de Senhorim e a Aguieira.
- A passagem do TGV na linha da Beira-Alta.
- A realização da final da Liga dos Campeões no complexo desportivo de CS.
O nosso presidente apensou o rol de projectos ao protocolo da mudez e remeteu-o à presidente. Esta leu-o incrédula. Depois de fazer uns telefonemas a solicitar aconselhamento, ponderou a estratégia e chamou o presidente ao seu gabinete. Foi directa.
- Sr. presidente, algumas destas possibilidades estão fora de questão. É o caso da central de biomassa que já está planeada para a sede do município; o TGV, cujo traçado já está determinado e a final da Liga dos Campeões, que está fora do âmbito institucional do estado. Quanto à central nuclear, como sabe, o governo excluiu essa via do plano energético do país… portanto resta-lhe, aliás, resta-nos a construção do aeroporto que está previsto para a OTA.
O nosso presidente ficou mudo, mesmo antes de assinar o pacto de silêncio. Por esta é que ele não esperava. Tinha inscrito alguns exageros no "memo" para que, por obvia eliminação, a presidente cedesse a central de biomassa que lhe parecia bastante acessível. Agora deparava-se com a possibilidade megalómana de um aeroporto. Bem, se isto fosse avante recolhia à clausura da ordem das Carmelitas e fazia votos de silêncio para toda a vida. A voz da presidente tirou-o da estupefacção.
- Claro que será difícil demover o actual governo da intenção de o construir na OTA. Porém tive a confirmação das mais altas entidades do principal partido da oposição que envidarão todos os esforços para que a decisão sobre a localização do aeroporto seja revista. Para além disso receberam com bom grado a sugestão que aponta a sua fixação no interior beirão e prontificaram-se a enviar técnicos para iniciar os estudos preliminares... mas o que dava mesmo jeito era uma palavra de apoio do Presidente da República.
Ó que carago! Outra vez o Presidente da República. Será que hei-de ser eternamente perseguido por esta figura. Tudo se faz neste país, de bom e de mau, sem um ai do PR, mas quando nos toca a nós lá está o supra-sumo da nação de veto em riste a reclamar a cabeça dos inocentes – remoeu em pensamento o nosso presidente.
Destas reflexões não deu conta à presidente. Confiou nas suas boas intenções e, com alguma apreensão mas consciente que pouco mais poderia fazer, assinou o pacto e colocou a mordaça.
Adivinhando-lhe as preocupações a presidente serenou-o:
- Não se preocupe, este Presidente da República é cá dos nossos. Vai ver que não interfere. O importante é cumprir o tratado, portanto bico calado.
Nos últimos tempos temos assistido a grandes controversas sobre a localização do novo aeroporto, estimuladas exclusivamente por iniciativa do partido que apoia a presidente. Ainda é cedo para festejar, até porque “festejos antecipados dão sempre maus resultados”, como muito bem nós sabemos, mas agrada-me a ideia de que o mutismo do nosso presidente está a dar os seus frutos. Parece-me para breve o fim do silêncio dos inocentes. Já ouço o barulho das turbinas dos aviões lá para os lados do Paçal. Vrrruuuum. Vrrrruuummm. Ou serão as Bruxas do Paitor?
Bons repenicos
O pacto de silêncio entre a “presidente de lá” e o “presidente de cá” a que serenamente vamos assistindo foi tacitamente acordado depois de salvaguardadas duas cláusulas fundamentais na relação entre ambos e que basicamente determinam: eu vou fazendo, tu calas.
Não pensem que a assinatura deste pacto foi pacífica. O nosso presidente, intrépido como ele é, não é homem para ficar calado, muito menos a rogo de mulher. Reconhecendo que este acordo, baseado no silêncio e condicionado pela expressão vaga constante no documento “eu vou fazendo” não vinculava a presidente a qualquer compromisso tangível, exigiu que lhe fossem dadas garantias de que efectivamente o seu silêncio teria como contrapartida obra feita e da grande. Nada de passeios, rotundas, lâmpadas ou alcatrão. Queria algo que calasse não unicamente a sua pessoa mas que embasbacasse definitivamente os canenses. Era este o preço do silêncio.
Os preâmbulos do acordo foram diligenciados pelo gabinete jurídico da presidente que, susceptível à exigência do autarca, solicitou que este elaborasse um memorando com os grandes objectivos que ele tinha em mente para a sua freguesia. Seriam devidamente avaliados e por certo alcançar-se-ia um acordo favorável para ambas as partes.
Não levantou grande dificuldade enumerar as grandes obras e os projectos que o presidente ambicionava para Canas. A saber:
- Uma central de biomassa (em alternativa uma central atómica).
- O aeroporto, previsto para a OTA, a implementar entre Canas de Senhorim e a Aguieira.
- A passagem do TGV na linha da Beira-Alta.
- A realização da final da Liga dos Campeões no complexo desportivo de CS.
O nosso presidente apensou o rol de projectos ao protocolo da mudez e remeteu-o à presidente. Esta leu-o incrédula. Depois de fazer uns telefonemas a solicitar aconselhamento, ponderou a estratégia e chamou o presidente ao seu gabinete. Foi directa.
- Sr. presidente, algumas destas possibilidades estão fora de questão. É o caso da central de biomassa que já está planeada para a sede do município; o TGV, cujo traçado já está determinado e a final da Liga dos Campeões, que está fora do âmbito institucional do estado. Quanto à central nuclear, como sabe, o governo excluiu essa via do plano energético do país… portanto resta-lhe, aliás, resta-nos a construção do aeroporto que está previsto para a OTA.
O nosso presidente ficou mudo, mesmo antes de assinar o pacto de silêncio. Por esta é que ele não esperava. Tinha inscrito alguns exageros no "memo" para que, por obvia eliminação, a presidente cedesse a central de biomassa que lhe parecia bastante acessível. Agora deparava-se com a possibilidade megalómana de um aeroporto. Bem, se isto fosse avante recolhia à clausura da ordem das Carmelitas e fazia votos de silêncio para toda a vida. A voz da presidente tirou-o da estupefacção.
- Claro que será difícil demover o actual governo da intenção de o construir na OTA. Porém tive a confirmação das mais altas entidades do principal partido da oposição que envidarão todos os esforços para que a decisão sobre a localização do aeroporto seja revista. Para além disso receberam com bom grado a sugestão que aponta a sua fixação no interior beirão e prontificaram-se a enviar técnicos para iniciar os estudos preliminares... mas o que dava mesmo jeito era uma palavra de apoio do Presidente da República.
Ó que carago! Outra vez o Presidente da República. Será que hei-de ser eternamente perseguido por esta figura. Tudo se faz neste país, de bom e de mau, sem um ai do PR, mas quando nos toca a nós lá está o supra-sumo da nação de veto em riste a reclamar a cabeça dos inocentes – remoeu em pensamento o nosso presidente.
Destas reflexões não deu conta à presidente. Confiou nas suas boas intenções e, com alguma apreensão mas consciente que pouco mais poderia fazer, assinou o pacto e colocou a mordaça.
Adivinhando-lhe as preocupações a presidente serenou-o:
- Não se preocupe, este Presidente da República é cá dos nossos. Vai ver que não interfere. O importante é cumprir o tratado, portanto bico calado.
Nos últimos tempos temos assistido a grandes controversas sobre a localização do novo aeroporto, estimuladas exclusivamente por iniciativa do partido que apoia a presidente. Ainda é cedo para festejar, até porque “festejos antecipados dão sempre maus resultados”, como muito bem nós sabemos, mas agrada-me a ideia de que o mutismo do nosso presidente está a dar os seus frutos. Parece-me para breve o fim do silêncio dos inocentes. Já ouço o barulho das turbinas dos aviões lá para os lados do Paçal. Vrrruuuum. Vrrrruuummm. Ou serão as Bruxas do Paitor?
Bons repenicos
6 comentários:
:D
A mim ninguém me cala enquanto não arranjarem o carreiro de lama que dá aqui para o galinheiro... fico com os pés de galinha todos enlameados e depois quem se lixa é aqui a Achadiça. É que o meu Juvenal já é chato com a "depenação"... (diz ele que cabelos, mal por mal, antes na sopa). Agora anda com estas manias. Acalmou logo quando lhe disse que para manter as virilhas depenadas a seu jeito lhe ia custar duas idas mensais à depenadora. 40 euróses!!!. Faz de gillete, respondeu-me ele. Seja, façamos então, ambos! Não gostou da parte "ambos". Lá se aquietou. Mas dizia eu que já bastavam estas exigências depenatórias arriba-joelhos quanto mais, por via do carreiro enlameado, ver a pilosidade nos tornozelos indevidamente acrescentada. Pois! Todos sabemos que a lama misturada com dejectos galinácios faz crescer cabelo. Portanto a mim ninguém me cala. Quero o carreiro alcatroado pró meu Juvenal andar consolado.
Boas bicadas
É o chamado silêncio dos inocentes, mesmo!...
Farpas Farpas
Obrigada.
Tirou-nos do luto.
Preferimos os tons rosa.Rosa-música.
Boas bicadas
;»
silêncio é puro se for cumprido, mas não sabemos o quê silêncio,nem na nossa capoeira...o
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