segunda-feira, outubro 30, 2006

A culpa é dela, só quer é vadiar...

“Se pusermos carne descoberta na rua, ou no jardim, ou no pátio das traseiras, e vierem os gatos e a comerem, de quem é a culpa? Dos gatos ou da carne descoberta?”, afirmou o xeque Taj Din al-Hilali durante um sermão recente.
Hilali referia-se ao caso de vários muçulmanos presos e condenados a pesadas penas de prisão por violação em grupo de várias mulheres e sugeriu mesmo que a culpa foi da maneira imprópria como as vítimas se vestiam. “O problema é a carne descoberta. Se a mulher estivesse na sua casa, no seu quarto, com o ‘hijab’ (véu islâmico) vestido, nada disto teria acontecido”, afirmou, criticando ainda as mulheres que se “abanam sugestivamente” e que usam maquilhagem, as quais considerou serem “instrumentos do Diabo para controlar os homens”.
In Correio da Manhã


Não me parece que os muçulmanos em geral se desmarquem intimamente da opinião do xeque não sei das quantas, mesmo que publicamente não a subscrevam. Esta gente reserva ainda, na sua tradição mais ortodoxa, um lugar de escravidão à mulher, remetendo-a para uma lugar menor no contexto dos direitos de cidadania e obrigando-a, através de “tribunais religiosos coercivos”(?) e práticas de censura comunitária, a um papel social de inqualificável subjugação.
A infeliz analogia do referido xeque aponta para a ideia de que a mulher, por ser um simples bocado de carne, é destituída daquela dignidade que distingue o ser humano de todos os outros seres, isto é, a racionalidade, a consciência e o poder de decidir sobre os seus actos. Esta comparação destrói-se a si própria, uma vez que um ser destituído de vontade própria não pode ser responsabilizado ou culpado pelos seus actos. Como pode então afirmar que a culpa é das mulheres se ao mesmo tempo não se lhes reconhece capacidade para escolher? Pode um bocado de carne ser culpado de alguma coisa?
Enraizada no mais obscuro machismo e a coberto de temores inspirados na própria fraqueza humana, sua natureza e crenças, a linha de pensamento do fanatismo islâmico, tende a radicalizar comportamentos e a inverter apreciações, perante tudo o que não se ajuste à sua linha de raciocínio e conhecimento medievais. Se exceptuarmos a cultura clássica greco-romana, nunca as religiões e a nudez do corpo humano se deram bem. Também o Ocidente medieval já a tapou quase completamente para preservar homens e santos das afrontas apetecíveis da carne, como se não fosse esse determinismo da natureza, a apetência pelo corpo do outro, a origem da humanidade.
Pode acasalar-se às escuras ou à média luz, por vergonha, inibição ou, no caso das mulheres, porque não havia vaga na depilação, mas, não tivessem homens e mulheres a noção e memória do corpo, a ver se a luz não se acenderia. Porquê esta necessidade do homem, sim, homem com letra pequena, de negar aos olhos o que mente e corpo desejam, só porque se lhes pede para admirar com contenção, desejar com moderação e obter com autorização. Será assim tão difícil?! Parece que sim, a avaliar pela quantidade de mulheres violadas por este mundo fora.
Assim sendo, na mesma linha do xeque nsdq, recomendo-lhe que, naqueles casos, e segundo o seu raciocínio, em vez de tapar a carne, cegue os gatos.

Bons repenicos

7 comentários:

Cingab disse...

Ainda vai ter uma manifestação violenta por causa diste texto... Eu até concordo, mas... Olhe pergunte ao Papa!

Catharina disse...

Se a liberdade das mulheres não tivesse evoluido tanto,então seriam poucas as coisas evoluidas neste mundo. É incrivel (pelo lado negativo) como pode num mundo que dizem tão pequeno, ter ideias tão diferentes,como pode em Nova Iorque uma mulher sair a rua quase nua e no Oriente as mulheres mostrarem apenas e desfocadamente a cor dos olhos!!

A mulher só se "mexe" como o dito cujo diz,porque é proibida de o fazer,porque Oriental ou Ocidental,a mulher é um ser humano e tem direito a viver como tal...

Riça disse...

Cingab
O Papa fez subentender aquilo que, lá no fundo, todos pensamos e não temos coragem de dizer. O Islamismo e os seus acólitos mais empedernidos estão atrasados mais de 500 anos relativamente à civilização Ocidental. Têm um longo caminho a percorrer no nosso encalço. Valores, pensamento e mentalidade que alcançámos com o Iluminismo por via da influência judaico-cristã e a linha de raciocínio humanista consignada na carta universal dos direitos do Homem, estão ainda, muito longe de serem apreendidos pelo "pensamento" do núcleo duro dos teóricos do Islão. Como se não bastasse ainda nos querem impor a sua irracionalidade, quando, em verdade, só têm a aprender connosco.
Bons repenicos

Riça disse...

Catharina
Bem vinda ao galinheiro pintainha simpática.
Ainda não tive tempo de ler com atenção os teus últimos textos. A Cris diz que vou ficar surpreendida. Lá estarei.
É bem complexo o mundo e o modo de o Homem o viver. Provavelmente faz parte da nossa condição humana. Contudo, não podemos deixar de acreditar e lutar, se necessário for, para salvaguardar os direitos que consubstanciam a dignidade do ser humano em geral e da mulher em particular. Não pode haver fronteiras, costumes ou tradições, culturais ou sociais, que se sobreponham à dignidade individual da pessoa humana. Cada um constitui por si próprio um pequeno ramo dessa grande árvore que é a humanidade. Enquanto um único membro dessa grande família for ameaçado ou subtraído da sua dignidade é a própria humanidade que vacila. Esforcemo-nos para a preservar.
Sei que trilhas este caminho, na tua cruzada pelo bem e pela justiça, através do amor - a derradeira arma.
Bons repenicos pintainha.

Sr. Fulano Tal disse...

Bom texto.

Concordo por completo

Cumprimentozinhos

PortugaSuave disse...

Galinha Riça
Dou-lhe razão, mas olhe que para a incompatibilidade civilizacional que refere o Ocidente muito tem contribuído. Não esqueça a disputa que o Oriente em geral e Jerusalém em particular foram alvo e as cruzadas que o Ocidente organizou para cumprir os desígnios da fé judaico-cristã, isto para não falar de outras intervenções mais recentes, em nome da segurança do mundo, mas a coberto de intenções bem menos altruístas.
Cumprimentos

Riça disse...

Portuga
O que é que isso tem a ver com a condição da mulher no "universo islâmico"?