quarta-feira, outubro 11, 2006

Crónicas da Galinha Riça - A Ceia Medieval

Que tinha de ser. Desse por onde desse, galos e galinhas deveriam marcar presença na Ceia Medieval e contribuir generosamente para o Coral, não com sacrifícios de canja, cabidela ou fricassé, até porque estes galináceos, por ousadia ou emancipação, estão mais vocacionadas para se servirem do que para serem servidos e já não se prestam a imolações gastronómicas ou a nutrições convencionais. Claro que não abdicariam dos pitéus de sequeiro e da apetecível hortícola constantes da ementa, porém o que efectivamente os aliciava era assistir ao concerto do Coral que, legitimado como digno representante da tradição cultural do nosso Galinheiro, organizou a ceia com o intuito de angariar fundos para levar o nosso canto além mar, à ilha do Faial, num gesto inédito de intercambio musical.
Desconheciam os ilustres participantes que o MRQ (Movimento de Restauração do Quintal), ciente que a luta requer apoios e estes só se alcançam tacitamente, tinha reunido clandestinamente com a direcção do Coral expondo argumentos e vantagens que iam muito para além do motivo invocado nos propósitos da visita.
O presidente do MRQ elucidou: Também o povo do Faial tem um passado histórico de resistência e segregação; Também os sucessivos governantes e políticos em geral não correspondem às expectativas do povo e o desenvolvimento tão apregoado no continente jamais ali ancorou; Para além disso a indústria baleeira extinguiu-se no século XX, à semelhança do acontecido em Canas com minérios, cianamidas e carbonetos, restando aos faialenses, como único meio de subsistência, os postais com a vista da Ilha do Pico, sapo que têm que engolir cada vez que por lá passa um turista. Há lá maior afronta que um turista apontar a máquina fotográfica de costas voltadas para a nossa terra. Já viram o que era Canas estar cheia de postais de Asnelas e os turistas a dizer que a coisa mais bonita que o nosso quintal tem é a vista para o quintal do vizinho. Pois são com algumas destes aspectos que nós nos comparamos e solidarizamos com o Faial e dos quais sentimos obrigação de repudiar publicamente através do apoio possível, que no nosso/vosso caso se prende com a formação de uma delegação especial, constituída por galos e galinhas com o registo de canto mais enérgico e o cacarejar mais estridente, incumbidos de prestar o apoio técnico necessário ao Grupo Coral da Horta para que, como nós, se façam ouvir alto e distintamente no continente. Se considerarmos que aquele território já foi palco de oportunos exílios e local de difícil assédio, configura-se-nos astuciosa esta aliança, no pressuposto do MRQ vir a ser vítima de perseguição ou mesmo de ostracismo, aspecto que no actual cenário político não é de negligenciar.
Estamos conscientes da responsabilidade que vos é atribuída e de quão difícil é a tarefa solicitada, uma vez que, embora a água seja boa condutora do som, a distância é muita e o financiamento da empresa elevado, porém, avaliadas as vantagens que tal projecto representa na conquista deste aliado estratégico, solicitamos o vosso empenho na organização e capitalização da Ceia Medieval. Para o efeito o MRQ disponibilizará as infra estruturas necessárias à realização do banquete e contribuirá com fundos próprios para a deslocação do Coral à Ilha do Faial.
Não constituiu surpresa esta “intromissão” do MRQ nas actividades do Coral, até porque, como já tive oportunidade de relatar, a sua criação foi envolta em segundas intenções, de forma a servir interesses do Movimento em particular e do Galinheiro em geral. Aquiesceu a Direcção do Coral perante a missão sugerida e logo ali se traçaram planos e delinearam prudências, pois o assunto era delicado e recomendava discrição.
Não vislumbraram os convivas da Ceia Medieval as intenções subliminares que presidiam àquela mesa mas, se porventura, um dia, o destino do Faial rumar a outro porto, que é como quem diz, alcançar as revindicações que por hora ainda silencia, isso se deverá provavelmente àquele convívio medieval no pretérito dia 30 de Setembro por terras de Senhorym. Destas subtilezas é muitas vezes a História omissa.
Bons repenicos

6 comentários:

Cingab disse...

Isso parece mais um relato da "Última Ceia"... Ainda não descobri o Cristo e o Judas, mas deve estar próximo!...

Achadiça disse...

Ó Riça parece que tens aqui um problema com O AMEF :)... será conflito de interesses :)

Achadiça disse...

Claro que não AMEF. Quando eu disse problema queria dizer diferentes pontos de vista e tive a preocupação de sorrir :). Ela insiste na teoria da conspiração… em tudo vê segundas intenções. Tem que dar desconto, mas olhe que o texto até é engraçado...
Boas bicadas

Riça disse...

Caro AMEF, fui alertada pela Achadiça para que o teor da minha crónica o tinha melindrado. Acabo de o confirmar ao ler os seus comentários.
Claro que o AMEF só pode estar a brincar.
O Coral e as pessoas que o compõem merecem a minha consideração e admiração. Dado o conteúdo da crónica e a linha da cronista parece-me descabida qualquer explicação suplementar.
Bons repenicos

PortugaSuave disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
PortugaSuave disse...

TUDO ACABA BEM COM REPENICOS E ABRAÇOS...
Riça e AMEF a vossa troca de comentários é curiosa... já vos tinha lido lá atrás, algures noutro post, agora aqui! Neste tom bem podiam afinar as vozes lá no coro :):)
(Quem sabe se já não afinam!)
Cumprimentos a ambos