segunda-feira, outubro 16, 2006

A chave da minha indignação

Desapareceu-me a chave do carro. Do “grilo”, lembram-se? Daquele que trazia um grilo lá dentro quando o comprei. Não, não era um barulho tipo grilo, era mesmo um animalzinho macho a apelar ao acasalamento na cantoria. Este carro é dado a animais. Admito que por lá já passaram alguns, daqueles de duas patas, mas eu estou a referir-me aos outros, de quatro ou mais, como foi o caso do Black, o cão do Sr. Tadeu, o meu mecânico, história que já vos contei há tempos. Mas desta vez o problema não é de fauna. Fiquei somente com um exemplar da chave do carro, situação desaconselhável para quem, estouvada como eu, tudo perde.
Lá fui falar com o Sr. Tadeu que, perante as características da chave, me indicou e aconselhou uma casa da especialidade. Seria melhor ir a esta casa pois se fosse a um representante da marca sair-me-ia mais dispendioso. Lá fui.
Indolente, o funcionário da dita casa preguiçou o afinamento da chave, limando e polindo arestas ao ritmo da minha impaciência, não sem antes me cobrar 50 euros – se não fosse o chip que tem lá dentro - elucidou ele. Paguei resignada. De nada adiantou. Encaixava na ranhura mas recusava-se a dar ordem de ignição ao motor. Depois de muitos ajustes e experimentações o empregado admitiu a sua impotência perante a intransigência da chave. Uma vez que eu estava com pressa que voltasse com mais tempo pois o caso requeria pachorra no acerto do entalhe.
Lá voltei ao outro dia com a paciência requerida. Depois de repetidas tentativas concluiu displicentemente que o problema exigia tecnologia sofisticada para descodificar o código. Voltou com um aparelhómetro parecido com aquele que nos é facultado para pagamento por Multibanco e lá conseguiu vitorioso obter o código que permitiria, segundo ele, clonar a malvada - mas só amanhã - concluiu, para meu desespero.
Apresentei-me no dia seguinte. O funcionário já não era o mesmo. Que sim, que efectivamente tinha o código electrónico que permitia produzir a chave com moderna técnica de lazer, mas isso só era possível na outra casa, do outro lado da cidade. Se lá fosse agora ainda chegaria a tempo, pois só fechavam às sete.
Perdi a compostura. Levantei a voz e a indignação: Mas que falta de consideração e de profissionalismo eram estes. Ando para aqui a caminhar há três dias e ainda sou eu que tenho de despender tempo e gasolina para conseguir um serviço que é da vossa responsabilidade, mais um pouco ainda me punham a burilar a chave! Para além disso, ontem o seu colega disse-me que a chave estava pronta aqui, nesta casa, não em outra. Respondeu-me entediado que se eu quisesse me devolvia o dinheiro. Passei-me. Devolve-me o dinheiro! Devolve-me o dinheiro! É assim que os senhores trabalham? É esta a consideração que os senhores têm para com os clientes, dos quais depende o vosso posto de trabalho. Quem é o dono disto? O dono está na outra casa, informou contrariado. Dê-me a morada se faz favor.
Lá fui a maldizer esta cambada de incompetentes e a formular uma quantidade de observações com as quais brindaria este empresário da treta mais a sua gestão e os seus funcionários.
Talvez alertado pelo empregado para a minha má disposição, o patrão desmanchou-se em desculpas e salamaleques. A chave ficou pronta em cinco minutos, mas não evitou a ira que me tinha invadido. Depois de lhe dar uma descompostura sobre a forma como fui tratada sugeri-lhe: Perdi quatro horas nestas andanças, fiz cerca de 80 quilómetros... tudo somado deve dar mais de 50 euros. Penso que se o senhor me devolver o dinheiro que já entreguei, então sim, ficamos pagos. A senhora está a brincar comigo. Se não está contente com o serviço eu devolvo-lhe o dinheiro mas a chave fica aqui.
Eu sei que sou teimosa e orgulhosa mas tinha que ser muito burra para não me conformar com a situação. Peguei na chave e vim-me embora, não sem antes me permitir deixar no ar aquela ameaça de quem se dá por vencido mas ainda estrebucha: Em breve terá notícias minhas!
Fiquei mesmo irritada com aqueles gajos. Quem as vai ouvir é o Sr. Tadeu, coitado, que não tem culpa nenhuma.

Boas minhocas e livrem-se de entrar nesta casa

4 comentários:

Catharina disse...

www.quimerazul.blogspot.com

Fico a espera do vosso cacarejo neste meu novo blogue.


Inté*

Catharina disse...

Em primeiro um "Obrigada" pelo cacarejo deixado no meu antigo blogue que tanto gostei.

O quimerazul está ausente de comentários,mas não sei porque,tenho tentado mudar,mas não tem dado,não foi de todo por ter mudado de opinião.
Tal como disse,ao querer ser jornalista,não fazia muito nexo ter um blogue sem que possam criticar.

Tenho 16 anos,os tenros 16 anos como lhes chamam...


Será o próximo livro que eu vou ler,será mesmo!

Fico extremamente contente por conseguir transmitir aquilo que sou,e por cada critica que lá deixa e que só me faz continuar a escrever,e a crescer no mundo da escrita,mesmo que o caminho seja longo.

E sim,segui um pouco das sugestões da Riça,não escrevendo tanto sobre amor,mas não conseguindo deixar de escrever sobre o mundo,os sonhos,as desilusões..a vida!


Beijos e,enquanto o quimerazul está indisponivel para comentários,agradeçia que comentasse no meu antigo !

Catharina disse...

E ao ler o texto também já eu estava indignada com a situação,mas lá está,a indignação não nos serviu de coisa nenhuma,nada mudou por ela.


"...e não teria tido a veleidade de opinar sobre as tuas abordagens literárias nem a forma como o fazes." As criticas que fez,foram pela forma como escrevo,não pela idade que tenho,que nestas coisas nem muito intressa,apenas me desiludi um pouco comigo quando a Riça me advertia para tudo e mais alguma coisa,mas foram sempre criticas construtivas.


O quimerazul já está disponivel a comentário...Obrigada pela paciencia em explicar-me o que fazer,a culpa é do meu inglês não ser o melhor.

Achadiça disse...

Olá pintainha (espero que não te incomodes por te tratar por pintainha)
Contrariamente ao que dizes, a idade é muito importante nestas coisas da escrita. A escrita evolui com a nossa experiência e aprendizagem, e estas estão indissociavelmente ligadas ao nosso crescimento. Logo, qualquer análise literária a este nível deve ter isso em consideração. Vou dar-te um exemplo. Relê os textos que escreveste quando tinhas 13 anos. Achas que os podes criticar ou avaliar à luz dos teus 16 anos? Não, tens que balizar a análise de acordo com as potencialidades de uma menina daquela idade. O mesmo se passará daqui a cinco ou dez anos, quando releres aquilo que escreves hoje. Há escritores que só atingiram a maturidade literária aos 40 ou mais anos. Para quem gosta de escrever, a escrita é um percurso paralelo à vida, evolui com a idade. O mesmo se passa com a leitura. Há livros e autores que só a idade os torna acessíveis.
Tu estás muito acima da média daquilo que se pode pedir a uma rapariga de 16 anos. Continua a aprender e a exigir de ti própria o melhor, rumo ao excelente.
Se tens dificuldades com o inglês (depreendo que sejas boa aluna e se, efectivamente queres seguir jornalismo, tens que investir no inglês) deixo-te indicações para alterares o idioma do teu berloque para português abrasileirado.
Vais ao “Dashboard” e no canto superior direito da página, tens “Edit Profile”, “Change Password” e “Change Language”. Seleccionas “Change Language”. Depois é só escolher “Português do Brasil”, “Save Settings” e pronto, ficas com o teu berloque em português brasileiro. Mas vê lá…não comeces a escrever como eles .
Boas minhocas pintainha