Já todos são conhecedores das desventuras d’O Pavão, adúltero político por força de sigiloso amor que nutria pelas nossas conterrâneas.
Porém, à altura, os intelectuais do MRQ (Movimento de Restauração do Quintal), desconhecedores daquele amor republicano e desinformados do verdadeiro motivo pelo qual o presidente se revelou avesso à causa reivindicada, logo se aprumaram em análise exaustiva das diversas possibilidades que levaram ao incumprimento do desiderato.
Reuniram documentação, solicitaram aconselhamento protocolar, visionaram reportagens televisivas e vídeos caseiros. Após aturada avaliação comportamental dos intervenientes no processo reivindicativo, constataram com pesar que as manifestações, se do ponto de vista da organização se apresentavam eficazes, já quanto ao alarido e respectivas cânticos acessórios não reflectiam o acerto e afinação necessários ao objectivo. Até aconteceu, que em dado momento, por falta de comunicação ou de ouvido musical, se subverteu o Hino Nacional com referências musicais menos próprias, tudo enrodilhado numa cacofonia desconcertante.
Lamentável! Foi a expressão usada por aquele grupo de trabalho, encarregado de avaliar o passado e melhorar as prestações futuras do Movimento no terreno. Aquele sarrabulho, inspirado por hábitos ancestrais de despiques carnavalescos, mais próprio para consumo interno do que para exportação, por certo não se adequava à sensibilidade a ao gosto clássico do presidente e do seu séquito.
Pensando terem encontrado o cerne do problema, de imediato foram sugeridas soluções para obviar o desacerto coral evidenciado nas gravações. Dissecaram-se os registos sonoros e isolaram-se digitalmente em pistas individuais, qualificaram-se e quantificaram-se os géneros, apuraram-se os naipes vocais. Tudo com a mais alta tecnologia disponível. Alguns elementos mais ortodoxos da ala intelectual do Movimento ainda protestaram que isso de castratos e falsetes lhes parecia menos próprio aos intentos de um Movimento que se requeria viril e frontal. Mas logo foram elucidados que tais amputações e disfarces poderiam ser assumidos por elementos femininos, pois os tempos eram outros e até as mulheres já podiam cantar de galo… mas fininho! Aquiesceram os indecisos e firmou-se a ideia de constituir um grupo à capella, que servia perfeitamente as intenções do MRQ como referência e indicador da necessária afinação vocal das massas.
Com a mestria própria dos grandes mentores, a ala intelectual do Movimento, carenciada de vocação para o efeito, solicitou apoio a alguns elementos proeminentes d’ O Galinheiro que, solidários, diligenciaram sub-repticiamente e com a celeridade requerida o recrutamento de baixos, barítonos, tenores, contraltos e sopranos, todos e todas previamente seleccionados pela agudeza tecnológica atrás descrita e ignorantes da verdadeira razão da constituição do grupo coral “Enquanto Canto”.
Também aqui a vossa cronista aderiu timidamente ao grupo, longe ainda de conhecer a verdadeira dimensão altruísta que constituía a retaguarda deste projecto, visionário da afinação artística enquanto expressão de luta política. Logo eu, para quem Motetos e Madrigais eram consultas obrigatórias à enciclopédia…
Sei agora que o esforço dispendido entre oitavas acima e oitavas abaixo foi em vão, pois as motivações do ex-presidente eram outras e, com ou sem afinação, o resultado seria o mesmo. Para além disso muitos candidatos e candidatas revelaram-se dissonantes, insistindo teimosamente em afinar por outro tom, circunstância que trouxe alguns dissabores ao Movimento. Porém, julgo que, sem querer fazer futurologia ou qualquer juízo de valor, no longo percurso que se avizinha só uma comunidade verdadeiramente afinada poderá sensibilizar os altos dignitários da nação para a nossa causa. Há quem diga que o actual presidente não é sensível a estas erudições, que é duro de ouvido e culturalmente limitado, contudo imaginem o grupo "Enquanto Canto" às portas do Palácio de Belém ou nas escadas de São Bento entoando ordeira e afinadamente hinos religiosos em jeito de reclamação política. Lindo não era! E a imprensa! O que diria a imprensa!
Portanto meus amigos cumpram a vossa obrigação. Apoiem incondicionalmente o “Enquanto Canto”, pois já lá dizia o outro “a cantiga é uma arma contra a tirania, a cantiga é uma arma e eu não sabia”. Agora já sabem. Bons repenicos.
Porém, à altura, os intelectuais do MRQ (Movimento de Restauração do Quintal), desconhecedores daquele amor republicano e desinformados do verdadeiro motivo pelo qual o presidente se revelou avesso à causa reivindicada, logo se aprumaram em análise exaustiva das diversas possibilidades que levaram ao incumprimento do desiderato.
Reuniram documentação, solicitaram aconselhamento protocolar, visionaram reportagens televisivas e vídeos caseiros. Após aturada avaliação comportamental dos intervenientes no processo reivindicativo, constataram com pesar que as manifestações, se do ponto de vista da organização se apresentavam eficazes, já quanto ao alarido e respectivas cânticos acessórios não reflectiam o acerto e afinação necessários ao objectivo. Até aconteceu, que em dado momento, por falta de comunicação ou de ouvido musical, se subverteu o Hino Nacional com referências musicais menos próprias, tudo enrodilhado numa cacofonia desconcertante.
Lamentável! Foi a expressão usada por aquele grupo de trabalho, encarregado de avaliar o passado e melhorar as prestações futuras do Movimento no terreno. Aquele sarrabulho, inspirado por hábitos ancestrais de despiques carnavalescos, mais próprio para consumo interno do que para exportação, por certo não se adequava à sensibilidade a ao gosto clássico do presidente e do seu séquito.
Pensando terem encontrado o cerne do problema, de imediato foram sugeridas soluções para obviar o desacerto coral evidenciado nas gravações. Dissecaram-se os registos sonoros e isolaram-se digitalmente em pistas individuais, qualificaram-se e quantificaram-se os géneros, apuraram-se os naipes vocais. Tudo com a mais alta tecnologia disponível. Alguns elementos mais ortodoxos da ala intelectual do Movimento ainda protestaram que isso de castratos e falsetes lhes parecia menos próprio aos intentos de um Movimento que se requeria viril e frontal. Mas logo foram elucidados que tais amputações e disfarces poderiam ser assumidos por elementos femininos, pois os tempos eram outros e até as mulheres já podiam cantar de galo… mas fininho! Aquiesceram os indecisos e firmou-se a ideia de constituir um grupo à capella, que servia perfeitamente as intenções do MRQ como referência e indicador da necessária afinação vocal das massas.
Com a mestria própria dos grandes mentores, a ala intelectual do Movimento, carenciada de vocação para o efeito, solicitou apoio a alguns elementos proeminentes d’ O Galinheiro que, solidários, diligenciaram sub-repticiamente e com a celeridade requerida o recrutamento de baixos, barítonos, tenores, contraltos e sopranos, todos e todas previamente seleccionados pela agudeza tecnológica atrás descrita e ignorantes da verdadeira razão da constituição do grupo coral “Enquanto Canto”.
Também aqui a vossa cronista aderiu timidamente ao grupo, longe ainda de conhecer a verdadeira dimensão altruísta que constituía a retaguarda deste projecto, visionário da afinação artística enquanto expressão de luta política. Logo eu, para quem Motetos e Madrigais eram consultas obrigatórias à enciclopédia…
Sei agora que o esforço dispendido entre oitavas acima e oitavas abaixo foi em vão, pois as motivações do ex-presidente eram outras e, com ou sem afinação, o resultado seria o mesmo. Para além disso muitos candidatos e candidatas revelaram-se dissonantes, insistindo teimosamente em afinar por outro tom, circunstância que trouxe alguns dissabores ao Movimento. Porém, julgo que, sem querer fazer futurologia ou qualquer juízo de valor, no longo percurso que se avizinha só uma comunidade verdadeiramente afinada poderá sensibilizar os altos dignitários da nação para a nossa causa. Há quem diga que o actual presidente não é sensível a estas erudições, que é duro de ouvido e culturalmente limitado, contudo imaginem o grupo "Enquanto Canto" às portas do Palácio de Belém ou nas escadas de São Bento entoando ordeira e afinadamente hinos religiosos em jeito de reclamação política. Lindo não era! E a imprensa! O que diria a imprensa!
Portanto meus amigos cumpram a vossa obrigação. Apoiem incondicionalmente o “Enquanto Canto”, pois já lá dizia o outro “a cantiga é uma arma contra a tirania, a cantiga é uma arma e eu não sabia”. Agora já sabem. Bons repenicos.
8 comentários:
:P
Muito bem escrito... Têm vida!
@csi-horacio,
algo me diz que vais levar umas bicadas que nem sabes de que terra és...
lol
Pura e simplesmente espectacular. Grande Riça, as suas crónicas são dignas de exposição pública num contexto mais amplo. Cingab, você que está no secretariado do Canas em Movimento está a espera de quê para sugerir uma amostra destes tratados nesse âmbito (com a devida autorização, naturalmente). Creio que os responsáveis políticos não reagiriam mal. A ironia é inteligente e positiva. O que acha Riça? O que acha Cingab?
Fiquei deliciado.
Venha outra
Parabéns a este blogue, que, neste momento, de todos os blogues canenses é o único com alguma vitalidade
:D
@Portugasuave,
Eu acho bem!... Eu cingab não pertenço a secretariado algum, mas falo com eles todos!...
horácio
bem vindo ao galinheiro. Será o sr. Horácio peixoto? se for, dispenso-lhe uma dúzia de franganitas para bicarem por esses campos fora na pesquisa e recolha de vestígios ancestrais... quem sabe não encontram o DIU da riça.... hihihi, agora é que vou desta para pior
riça
desculpa mas não resisti. bem, agora a sério, dizes que estás a perder inspiração! O que seria se estivesses inspirada... a crónica está excelente, parabéns
Portuga
E eu que pensava que fazia parte activa do canas em movimento. Estas coisas dos berloques são uma chatice...pensamos uma coisa e depois sai-nos outra. Queres ver que o cingab tem razão...
B:»»
portuga obrigada pelas palavras elogiosas...ao menos alguém que reconheça o esforço aqui da galinhagem
Obrigada a todos
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