sexta-feira, junho 23, 2006

O destino

Estava eu no meu sossego, bebericando a biquita do meio-dia, quando me apercebi das dificuldades do zé joão em entender um cliente que esbracejava gestos amplos ao balcão entrecortados com expressões em inglês e espanhol(?). Disponibilizei-me para ajudar.
Palavra puxa palavra lá fui desentorpecendo o meu pobre inglês, arrastado entre hesitações e atropelos e pacientemente descodificado pelo meu interlocutor. Sorria elegantemente perante os meus sorrys e outras bengalas onde eu apoiava a minha insegurança linguística e a conversa lá foi fluindo. Afinal era americano.
Nada de coffees, cakes ou beers. O que ele pretendia era, imaginem, saber que transporte devia utilizar para ir à serra, que curiosamente naquele dia, resplandecia límpida e atractiva lá no horizonte (palavras dele). Com alguma dificuldade expliquei-lhe que só de táxi ou de carro seria possível ir e vir numa tarde à serra. Olhou-me incrédulo mas lá tentei fazê-lo entender que esse género de programas turísticos era assegurado pelos hotéis e outras entidades vocacionadas para o efeito. Lamentou, pois não gostava dessas excursões. Limitavam-lhe os movimentos e as intenções. Preferia misturar-se com as pessoas e escolher os seus próprios percursos.
Depois fez elogiosas referências a portugal, a canas, à paisagem e ao clima e, insinuoso, indagou da minha disponibilidade para ir à serra. Que pagava as despesas. Declinei educadamente o convite argumentando que tinha que ir trabalhar e sai apressadamente para evitar cair na tendência hospitaleira que nos é tão característica. Para além disso pensei – o que tu queres sei eu! Sorri para os meus botões ocorrendo-me o absurdo sketch dos gato fedorento e não me lembrei mais do assunto.
Gosto de viajar de comboio. Quando vou a lisboa ou ao porto geralmente vou no intercidades, até porque não sei conduzir nesses centros urbanos. Costumo viajar num lugar individual em 1ª classe. Opto por um lugar individual pois já me aconteceu ter que suportar algumas abordagens inusitadas. Embora naquele dia estivessem esgotados tranquilizei ao constatar que não tinha ninguém ao meu lado. Abri um livro e alheei-me da viagem. Assim foi até coimbra.
Vi-o mal assomou o compartimento de entrada da carruagem. O turista americano que queria ir à serra. Encolhi-me no banco, invocando os santinhos todos para que não me reconhecesse, mas a inevitabilidade do destino ditou que o americano me estivesse reservado. Alinhámos sorrisos e surpresas mútuas. Falámos da serra que acabou por visitar; falámos do hotel da urgeiriça, dos eua, de portugal, de canas, de nelas, do terrorismo, do bush…quando dei conta estava em Lisboa, ansiosa por levá-lo a comer umas sardinhas a um bairro típico e a beber um bucelas fresquinho.
Telefonei à M. que me aguardava e lá fui, hospitaleira em terra alheia, cumprir em lisboa o papel de cicerone que me estava destinado em canas.
Quem sabe se para o ano vou aos estados unidos?

B:»

2 comentários:

Cingab disse...

Viajar em 1ª classe?!...

Achadiça disse...

sim, em 1ª classe...a empresa não me faculta viatura...pelo menos para já