quarta-feira, março 12, 2008

sem nome

Arrecadou calmamente a angústia. Estranhou a serenidade com que o conseguiu, tanto melhor, afinal alguma coisa aprendemos nas andanças desta vida.
Tirou a pintura e encheu o bidé com água fria. Doíam-lhe as entranhas, se calhar estava na altura de tomar outro analgésico. Apetecia-lhe beber qualquer coisa forte, alcoólica, mas o antibiótico desaconselhava essa possibilidade.
Lavou-se cuidadosamente. A água transparente descansou-a. Tudo bem, não há indícios alarmantes. Foi ao frigorífico, encheu um saco com gelo e deitou-se no sofá tão comodamente quanto possível. Colocou o saco na barriga e olhou o relógio, quinze minutos, depois tinha que o tirar, aguardar outros quinze e voltar a pôr. Ligou a televisão por ligar, pegou num livro mas logo desistiu, não conseguia concentrar-se em nada. Ela bem sabia o porquê desta dificuldade, ele havia de telefonar a perguntar se tudo tinha corrido bem e ela haveria de dizer que sim. Mas lá no fundo, lá no fundo macerado do seu corpo, morava o vazio. Tão irreversível como despojado. Ele dir-lhe-ia, vou já ter contigo, e ela, não, não venhas, hoje é um dia de solidão absoluta.

5 comentários:

DaPovoa disse...

pois . . . .

Anónimo disse...

pois, pois ... e não queriam que estas coisa se pudessem fazer ...

Anónimo disse...

pois, pois ... e não queriam que estas coisa se pudessem fazer ... já não bastava a dor, quanto mais o castigo.

Cristalinda disse...

óptimo comentário einstein... ainda bem que compreende, foi duro transmitir o nosso ponto de vista aquando da despenalização

Anónimo disse...

Quanto a isso, sempre vos comprendi defendendo a despenalização; é que o problema, ainda que mais vos afecte, tambem é nosso