sexta-feira, setembro 14, 2007

Crónicas da Galinha Riça - O Obelisco


Rafeirava por ali sem destino que não fosse o de marcar território, repondo aqui e ali a micção própria da sua natureza, quando o seu apurado olfacto detectou um aroma virgem, inodoro, que para a sensibilidade olfactiva deste animal também é uma forma de cheiro. Estacou, avaliou a direcção de onde provinha e prontificou-se a encontrar a misteriosa fonte, tomá-la só para si com uma expressiva mijadela como mandam as boas regras da sociedade canina. Fosse assim com os homens e nem a lua teria escapado enxuta à conquista americana, isto apesar das dificuldades gravitacionais implícitas.
Sacudiu-se destas cogitações e lá foi em busca do território anunciado, nariz ligeiro, desbravando curtos horizontes, não que fosse estreito de vista, era sim curto de patas, o que lhe dificultava sobremaneira ver aquilo que o nariz confirmava existir. Ia ligeiramente desconfiado, pois os sinais que lhe chegavam indiciavam algo de inusitado e, como ele bem sabe, novidades públicas nesta terra que lhe calhou em sorte não abundam. O odor intensificou-se e ele, cão prudente, tratou de avaliar a matriz ao local, pois já noutras alturas, impelido pela urgência do instinto mictório tinha negligenciado o da sobrevivência e avançado despreocupado por quintais acabadinhos de plantar, o que lhe custou escaramuças escusadas e fugas pouco honrosas. Baixou a guarda após confirmar que o sítio era público. Que ele saiba ainda não privatizaram as rotundas e esta, embora recente, era-lhe familiar, já por várias vezes ali tinha deixado o seu cunho, como agora confirmava em sondagem mais cuidadosa.
E lá estava, um obelisco quadrangular levantava-se erecto no meio da rotunda, virgem de cão e prontinho a desflorar. Não hesitou, alçou a pata e aliviou-se tantas vezes quantas arestas haviam acessíveis, desenhando elipses à altura das suas limitações, pois como sabemos este cão é rasteiro de pernas. Finda a marcação admirou a obra, não a sua, mas a dos homens: não está nada mal, pensou, quatro paredinhas ao alto, espaçosas, um mictório canino elegante, os humanos andam generosos. Elevou o olhar e leu pausadamente a mensagem a dourado fúnebre inscrita no frontispício: béu béu, béu béu, pardais ao ninho, tudo muito bonito, uma homenagem aos mártires cá da terra, também eles há procura de novos quintais fresquinhos para verter águas, que isto de linguagem de cão só não a percebe quem não quer. Cumprido o ritual preparava-se para farejar outras paragens quando o seu olhar afilado, sim porque este cão o que lhe falta nas patas sobra-lhe em visão, detectou algo muito estranho escrito num dos lados do obelisco: véu véu! Mas que raio! Releu e tresleu, porém, por mais que soletrasse saía-lhe sempre aquele latido invulgar – véu véu, véu véu. Engrossou o tom, rosnou, assanhou-se, mas o melhor que conseguiu da leitura foi um vréééuu pouco dignificante para a sua condição de cão, mesmo que rafeiro. Por fim desistiu, olhou em redor a confirmar que ninguém o tinha ouvido, meteu o rabo entre as pernas, afastou-se e desabafou entre dentes: estes canenses são loucos.

6 comentários:

BigEye disse...

...vem visto.

Cristalinda disse...

Estou envasvacada

Anónimo disse...

Acho de muito mau gosto a tentativa de ironia
são os homens e as mulheres que aquele munumento refere quie fizeram alguma coisa por Canas, não foi de certesa a senhora Riça que tem a mania que escreve umas porcarias que não valem nada nem trazem nada para a terra. Tem a mania que são doutores e que podem gozar contudo, deviam era pegar na sua cultura e ajudar Canas a andar para a frente

Taj Chan Ackh disse...

E Aqueles erros de ortografia??lolololol

Anónimo disse...

Fartaste de escrever.... e até é giro aquilo que dizes e pensas !

Continua

kokkas

kokas disse...

ola ana