Quando decidi escrever este texto pensava alinhar no meu bairrismo e desancar o Paço, os pacences e a minha amiga Achadiça, pelas atoardas que têm por aí espalhado. Depois reconsiderei, pois iria entrar no mesmo género de discurso, o que me tiraria porventura a seriedade que o assunto me merece. Vou então fazer uma abordagem séria sobre o Carnaval.
Já li e ouvi muitas considerações sobre a questão da nossa tradição carnavalesca e a forma como, alegadamente, está a ser desvirtuada. Os protagonistas de ambos os bairros trocam acusações pontuais sobre ligeiros desvios ocorridos em edições anteriores, umas descaradamente provocatórias, outras com alguma pertinência.
Esses desvios não trouxeram mal algum ao nosso Carnaval nem puseram em questão a sua continuidade ou tradição. Acalentam a disputa e a rivalidade e servem de arma de arremesso aos inconciliáveis Paço e ao Rossio, para fomentarem a crítica e a achega. Vive e sobrevive bem o Carnaval com isto, pois, no essencial, a originalidade do nosso Entrudo é destas tricas que se alimenta.
Dito isto, centremo-nos na questão dos usos e costumes – a tradição. Há aspectos que, por mais esforço que se faça na sua preservação, as novas gerações não correspondem ao apelo ou os próprios sinais dos tempos tornaram pouco atractivos. Como tal, exigem um compromisso entre aquilo que é obrigatório preservar e o que é passível de reformular. Vamos por partes:
O Pisão, as paneladas, o enfarinhanço etc. – Não estão ameaçados, contudo, o Pisão assumiu proporções de vandalismo que não estava na sua génese. Devolva-se ao Pisão a sua genuína intenção.
As Marchas – São a expressão mais importante do nosso Carnaval e, porventura, aquelas que traduzem verdadeiramente o espírito que lhe deu origem. Sendo um Carnaval de pendor estritamente popular, qualquer alteração tem que ser bem ponderada. Falo do ritmo musical de “marcha” e na sua interpretação (para o efeito a Banda de Música é a mais adequada). Este ano parece que o meu bairro não a vai levar. É pena. Quanto ao percurso, pode lamentar-se o facto de o Paço não descer a rua de seu nome e desertarem da Marcha quando passam no seu bairro. Mas, isso é lá com eles. Se não têm gosto em mostrar-se aos seus adeptos no seu próprio bairro são eles que ficam a perder. Contudo, não venham depois armar-se em guardiões da tradição.
O Despique – Com a evolução da tecnologia sonora é normal que os decibéis ressoem exageradamente. O Paço investe particularmente neste aspecto. Dificilmente se imporá a tradição que permitia aos protagonistas disputarem o despique com as suas próprias “armas” – a garganta. Reformule-se mas com sensatez, para evitar a corrida desenfreada às aparelhagens e o consequente quadro infernal que deforma a festa, com tractores, andaimes, colunas e baterias a substituírem-se à euforia da massa humana.
Os Carros – A utilização de novos materiais ainda não se sobrepôs totalmente às “minhas queridas flores de papel” (fiz muito calo a enrolá-las com um canudo e, depois, mais tarde, com uma tesoura). Porém, temo que qualquer dia, o seu colorido e a sua textura sejam somente uma recordação. Preservem-se os carros com flores.
Os Bailes – Adivinhava-se a sua extinção. Os momentos nocturnos são da exclusividade da faixa etária mais jovem, que já não se revê neste formato. Congratulo a organização do Rossio pela inovação e pela decisão em assumir finalmente um projecto alternativo ao acanhado Quebra-Tolas e ao insuportável esfregulhanço que daí advinha. Mantém-se o baile mas a música é outra. Sinais dos tempos. Evento positivamente reformulado que não põe em questão a tradição, aliás, como todas as outras actividades recreativas que decorrem fora do contexto do Carnaval propriamente dito.
A Segunda-Feira das Velhas – Recuperou a vivacidade de outros tempos, facto que abona a favor da tradição. Afinal a tradição ainda é o que era.
O Enterro, Quarta-Feira de Cinzas – Também aqui se mantém a tradição, consumada na tradicional comezaina e nas exéquias ao defunto. Nada de leitão ou febras grelhadas. É com o belo bacalhau que se encerra o nosso Carnaval, como manda a tradição.
Em jeito de conclusão, parece-me estar a tradição do Carnaval de Canas preservada, ainda que algumas decisões possam causar incómodo aos mais conservadores. Compreendo-lhes a apreensão mas não posso deixar de dizer que a inovação e a reformulação não têm que necessariamente ferir de morte o nosso Carnaval, assim sejam efectuadas com parcimónia e sensatez. São condimentos essenciais para que o Carnaval de Canas de Senhorim corresponda às expectativas dos mais jovens e para que a própria tradição sobreviva aos novos desafios da modernidade. E nisso, como todos sabemos, o Rossio é visionário. Viva o meu Rossio adorado. Viva Canas de Senhorim.
Boas minhocas
Já li e ouvi muitas considerações sobre a questão da nossa tradição carnavalesca e a forma como, alegadamente, está a ser desvirtuada. Os protagonistas de ambos os bairros trocam acusações pontuais sobre ligeiros desvios ocorridos em edições anteriores, umas descaradamente provocatórias, outras com alguma pertinência.
Esses desvios não trouxeram mal algum ao nosso Carnaval nem puseram em questão a sua continuidade ou tradição. Acalentam a disputa e a rivalidade e servem de arma de arremesso aos inconciliáveis Paço e ao Rossio, para fomentarem a crítica e a achega. Vive e sobrevive bem o Carnaval com isto, pois, no essencial, a originalidade do nosso Entrudo é destas tricas que se alimenta.
Dito isto, centremo-nos na questão dos usos e costumes – a tradição. Há aspectos que, por mais esforço que se faça na sua preservação, as novas gerações não correspondem ao apelo ou os próprios sinais dos tempos tornaram pouco atractivos. Como tal, exigem um compromisso entre aquilo que é obrigatório preservar e o que é passível de reformular. Vamos por partes:
O Pisão, as paneladas, o enfarinhanço etc. – Não estão ameaçados, contudo, o Pisão assumiu proporções de vandalismo que não estava na sua génese. Devolva-se ao Pisão a sua genuína intenção.
As Marchas – São a expressão mais importante do nosso Carnaval e, porventura, aquelas que traduzem verdadeiramente o espírito que lhe deu origem. Sendo um Carnaval de pendor estritamente popular, qualquer alteração tem que ser bem ponderada. Falo do ritmo musical de “marcha” e na sua interpretação (para o efeito a Banda de Música é a mais adequada). Este ano parece que o meu bairro não a vai levar. É pena. Quanto ao percurso, pode lamentar-se o facto de o Paço não descer a rua de seu nome e desertarem da Marcha quando passam no seu bairro. Mas, isso é lá com eles. Se não têm gosto em mostrar-se aos seus adeptos no seu próprio bairro são eles que ficam a perder. Contudo, não venham depois armar-se em guardiões da tradição.
O Despique – Com a evolução da tecnologia sonora é normal que os decibéis ressoem exageradamente. O Paço investe particularmente neste aspecto. Dificilmente se imporá a tradição que permitia aos protagonistas disputarem o despique com as suas próprias “armas” – a garganta. Reformule-se mas com sensatez, para evitar a corrida desenfreada às aparelhagens e o consequente quadro infernal que deforma a festa, com tractores, andaimes, colunas e baterias a substituírem-se à euforia da massa humana.
Os Carros – A utilização de novos materiais ainda não se sobrepôs totalmente às “minhas queridas flores de papel” (fiz muito calo a enrolá-las com um canudo e, depois, mais tarde, com uma tesoura). Porém, temo que qualquer dia, o seu colorido e a sua textura sejam somente uma recordação. Preservem-se os carros com flores.
Os Bailes – Adivinhava-se a sua extinção. Os momentos nocturnos são da exclusividade da faixa etária mais jovem, que já não se revê neste formato. Congratulo a organização do Rossio pela inovação e pela decisão em assumir finalmente um projecto alternativo ao acanhado Quebra-Tolas e ao insuportável esfregulhanço que daí advinha. Mantém-se o baile mas a música é outra. Sinais dos tempos. Evento positivamente reformulado que não põe em questão a tradição, aliás, como todas as outras actividades recreativas que decorrem fora do contexto do Carnaval propriamente dito.
A Segunda-Feira das Velhas – Recuperou a vivacidade de outros tempos, facto que abona a favor da tradição. Afinal a tradição ainda é o que era.
O Enterro, Quarta-Feira de Cinzas – Também aqui se mantém a tradição, consumada na tradicional comezaina e nas exéquias ao defunto. Nada de leitão ou febras grelhadas. É com o belo bacalhau que se encerra o nosso Carnaval, como manda a tradição.
Em jeito de conclusão, parece-me estar a tradição do Carnaval de Canas preservada, ainda que algumas decisões possam causar incómodo aos mais conservadores. Compreendo-lhes a apreensão mas não posso deixar de dizer que a inovação e a reformulação não têm que necessariamente ferir de morte o nosso Carnaval, assim sejam efectuadas com parcimónia e sensatez. São condimentos essenciais para que o Carnaval de Canas de Senhorim corresponda às expectativas dos mais jovens e para que a própria tradição sobreviva aos novos desafios da modernidade. E nisso, como todos sabemos, o Rossio é visionário. Viva o meu Rossio adorado. Viva Canas de Senhorim.
Boas minhocas
9 comentários:
@Cristalinda,
Você não gosta de mim e, por isso, custa-me dar-lhe razão!...
Contudo, permita-me:
É ISSO MESMO!... BEM DITO!...
@Pisões (ou será Pizões como ja escreve o Cingab algures?
O vandalismo é feito pelos mais jovens e que bebem 2 ou 3 cervejas e ficam embriagados, não têm limites em casa fazem o que querem às horas que querem, eu sou jovem (acho eu!) mas não me revejo nesse tipo de vandalismo. Pois se for algum dia aos pisões com pessoas de mais idade é só paródia e nada de vandalismo!
@Despique Acho muito bem que se investa nesse tipo de sons! Pois embora não seja muito velho ainda sou do tempo das velhinhas cornetas que o Rossio ainda leva no seu carro de apoio (será correcto carro de apoio?) que uma pessoa ouve 5 minutos e fica com dor de cabeça. Embora para mim despique com som não! Mas ainda relativamente ao som que você diz exagerado por parte do paço... sejamos francos como se conseguia ouvir a música da BANDA (não conjunto, grupo, por outras palavras segmento!) numa marcha tão grande e em crescimento como a do paço?
Cumprimentos
Muito boa análise. Só não subscrevo a parte do "Rossio adorado" lol
Cumpr.
Cingab
Desconheço os motivos que o levam a pensar que eu não o aprecio particularmente. Se falarmos da pessoa que está por trás da personagem, sempre lhe posso dizer que nunca privei consigo e, como tal, desconheço totalmente o seu feitio, factor que condiciona qualquer apreciação favorável ou desfavorável. Relativamente à tal personagem multifacetada já tivemos oportunidade, através da nossa presidente, de expor o quanto o consideramos e respeitamos.
De resto, quanto à bicada, e fora de humildades, parece-me suficientemente consensual para que ambas as organizações reflictam sobre as possibilidades inovadoras e os limites do nosso Carnaval.
Esqueci-me de dizer que o convívio nocturno quer-se partilhado. A forma de estar das camadas mais jovens já não justifica a separação dos “bailes”. Procuram-se na amizade e na confraternização. As antigas divisões já não têm qualquer razão de ser, porque, neste particular, são artificiais e não correspondem ao espírito de partilha e comunhão carnavalesca que as noites testemunham (caso do Kebra-Tolas). Sou, portanto, a favor de uma grande festa no mercado, que reúna os apoiantes de ambos os bairros. Despesas divididas, lucros divididos, animação partilhada.
Boas minhocas
tomahoch
Disseram-me que era irmão do Farpas. Não sei se é verdade, mas se for, aproveito para lhe endereçar os meus cumprimentos pelo excelente mano que tem. Como estas coisas da genética são como o algodão – não enganam – também a si lhe deve ter tocado um pouco da generosidade e da clarividência evidenciada pelo seu irmão. Ainda bem. Pisão e som: Moderação para ambos é o meu lema, que, como depreendo da sua bicada, também é o seu.
Boas minhocas e volte sempre
Portuga
Tem andado por longe! Volte mais vezes…
Boas minhocas
Multifacetado?.... Multifacetado?...
Hummmmmmm!...
O que é que isso quererá dizer!!!!1
é urgente que as direcções de carnaval esqueçam os bailes, as animações nocturnas. devem concentrar-se nos carros alegoricos e nas respectivas marchas. Deveria sim, existir uma comissão carnavalesca de Canas, para Canas...Com tanto bairrismo é muito dificil fazer acordos. Essa comissão, orientaria o Carnaval, nunca se esquecendo que são os jovens o futuro da única coisa que ainda temos. Só assim será possível um futuro Carnavalesco, equilibrado, preservando na medida do possivel a tradição.
Miau
não me patrece q a questão seja uma marcha em "crescimento"... talvez um exibicionismo próprio da genetica do bairro do paço, natural da época festiva (carnavalesca)!!! O som no despique não agrada a ninguém, respeitam-se apenas as decisões de quem trabalha, e por isso, devemos agradecer as direcções que mantêm vivo o nosso Carnaval...
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