A minha cachopa sabe a chocolate, não sei de mulher que melhor me trate.
Já lá vão uns anos desde a primeira vez que ouvi esta música do Sérgio Godinho, longe de imaginar que um dia teria uma cachopa assim.
A minha cachopa é morena de cintura. Adoro apanhá-la desprevenida no banho, toma aquela posição característica das mulheres surpreendidas na intimidade, uma mão a tapar os seios e outra a fazer de parra, depois relaxa, sou só eu que venho besuntá-la com creme de amêndoas, dizem que é bom para as estrias, que ela não tem, diga-se de passagem. O que ela tem é um corpo perfeito, pele lustrosa e uns cabelos negros que lhe chegam ao rabo. Não é alta, mas é toda proporcionada, a minha cachopa.
Gosto de a ouvir falar crioulo, fica tão doce quando fala crioulo, até quando disparata. Ouve uma altura que lhe pedia para dizer o que lhe passasse pela tola enquanto fazíamos amor, em crioulo, está claro de ver. Ui! Tive que desistir, lá se iam os “timings” requeridos. Agora limitamo-lo, o crioulo, aos preliminares.
Fico sempre de boca aberta quando a vejo nua em contra-luz, só a minha cachopa conseguem captar a luz daquela maneira. A pele retém toda a luz de um lado e a parte oculta é-me revelada de uma forma ténue, criando a ilusão de um semi-corpo fundido no espaço envolvente, a silhueta é um desafio aos sentidos, um quadro sublime, uma foto de antologia, um poema a preto e branco. E os cabelos!? Ai os cabelos. Às vezes parece um leão, põe-se de gatas na sala e desafia-me para a brincadeira, outras, quando vem do banho, faz de gueixa, cabelo arrematado ao alto e vestida com aquele roupão vermelho tentação. De todas as vezes acabo enrodilhado na sua juba.
Ainda não vos contei mas a minha cachopa tem tanto de envergonhada como de desinibida. Parece estranho mas é verdade. A primeira vez que me chamou para a ajudar a depilar as virilhas fiquei aterrorizado. Nunca ninguém me tinha pedido tal. Engoli em seco e, que remédio, uma coisa destas não se nega à nossa cachopa, lá encetei a, como lhe hei-de chamar, a honrosa, a dolorosa, a curiosa, a deliciosa, bem… a tarefa solicitada.
Homem que é homem sabe sempre aproveitar estas deixas, vai daí, propus-lhe uma depilação completa pois era um fetiche que há muito alimentava. Agora tenho que manter o terreno limpo com regularidade, e acreditem, é sempre uma festa. Trata com cuidado, tem tesouro a caixinha da menina, diz-me ela sorridente, em crioulo. Nem imaginam como isto soa bem em crioulo. Pena não dar para transcrever.
É catraia a minha cachopa de S. Vicente, não traz nos olhos a saudade que a Cesária canta nem cachupas no Pantagruel, traz no hálito o morno sabor do cacau de S. Tomé e no corpo uma vontade insaciável de sexo, diz ela que nas virtudes sai à mãe que é sãotomense, se é que o sexo é uma virtude, arremata hesitante, com dúvidas mal dissipadas pela educação religiosa do colégio de freiras, mas certa da competência maternal, demonstrada largamente nos seus sete irmãos.
A minha cachopa veste bem, não é que tenha muito dinheiro, tem é a sorte de trabalhar numa conceituada loja de alta-costura. Não sei como ela faz, mas a indumentária vai e vem como se fosse dela. Ainda bem, faço um figurão quando entro com a minha cachopa em qualquer lado, eu bem vejo os olhares dos paspalhos, hehehe, mas é delas que eu me rio mais, especialmente aquelas mais esclarecidas nestas coisas da moda, ficam de cara à banda a mirar a minha mulata aparecer todos os dias vestida de forma diferente e caríssima. Depois olham para mim avaliando a improbabilidade de ser eu a pagar a ostentação. Sentamo-nos à mesa e rimo-nos disto tudo, destas saborosas trivialidades, como ela faz questão em dizer.
Às vezes é uma chata, a minha cachopa. Quando está com os azeites fica escorregadia de tão lustrosa, ninguém a torce, deve ser herança genética dos degredados das ilhas. O seu pai era português, morreu em Santiago, no Tarrafal. Dele, nenhumas recordações tem, mas qualquer defeito que se lhe aponte e que não encontre paralelo na mãe, é inevitavelmente culpa do pai. Uma boa desculpa. É engraçada a minha cachopa.
Muito havia a dizer sobre a minha cachopa, as cantorias, os amigos músicos, as amigas obstinadas, o seu jeito para contar anedotas, a sacralização da cueca (palavras dela), o padre que lhe prometeu casamento, enfim, não se consegue falar de uma pessoa em tão poucas linhas, quanto mais da minha cachopa.
Oh, nha bida, dj'u sabi, ma n'qrê torna flau
Ma n'ta amau, y nôs passado cata squecedo
N'qrê canta na bo caminho
N'qrê badja, co tudo carinho
Di bo morabéza
Lisboa, 25 de Julho de 1987
8 comentários:
Sem comentários!!
E isso é bom ou é mau?
Homem que é homem sabe sempre aproveitar estas deixas : D
Abraço
É bom, eu gostei, o 1º comentário foi só pra comentar que nada de mal havia a comentar!
Epá...
Só faltam mesmo as fotos a acompanhar, que isto da imaginação já não é o que era!!!
Há muito que ando para ir a S. Tomé.
Cabo Verde, António, Cabo Verde. A menina era mesmo de CV. Acho que a mãe da menina é que era de S. Tomé. O texto é de um amigo meu que depois de eu tanto insistir fez a gentileza de mo ceder para aqui o publicar. Tive que omitir muita coisa, por razões óbvias... infelizmente, diga-se.
"... diz ela que nas virtudes sai à mãe que é sãotomense,..."
Cristalinda, não ligues era eu a tentar armar em valentão.
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